Recorde alguns dos mais curiosos anúncios publicados na Gazeta.
Uma análise à publicidade nos primeiros números da Gazeta das Caldas permite, de imediato, ter uma perceção acerca da realidade que a então efervescente vila termal vivia nos anos de 1925 e 1926 e que viriam a culminar na elevação das Caldas a cidade, no ano seguinte.
Logo no primeiro número há uma página inteira dedicada a anúncios onde se pode perceber a grande diversidade de bens e serviços que nas Caldas se poderia encontrar. Disso são exemplo as companhias de seguros (Iris, Mutualidade Portuguesa e Garantias, Mundial e Paz), as mercearias (Frias&Gonçalves, Lda e A.S. Santos), as lojas de fazendas (João Serafim Moreira e Herdade&Costa), mas também os anúncios de dois solicitadores (Carlos Silva e António Leitão) e da casa de moda (Almeida&Faria).
Outra realidade que fica bem patente é a identidade hospitaleira que sempre marcou as Caldas da Rainha, com três anúncios de hotéis logo na primeira edição. O Hotel Central, que era “o mais próximo das Termas” e o Hotel Rosa, que estava “aberto todo o ano”, ambos nas vila termal. Mas também há um curioso anúncio de um tal de Hotel Urbano, em Huelva, porque era “o preferido pela colónia portuguesa”.
Também nesta primeira edição há um curioso anúncio do estabelecimento A Primorosa, que se localizava nas Caldas e que anuncia o seguinte: “Quereis bom pão-de-ló? Visitas A Primorosa pois é a única casa que tem o verdadeiro Pão-de-Ló de Alfeizerão”. Este anúncio demonstra já uma mensagem claramente estudada, tanto ao nível do discurso textual, como também do próprio grafismo, com o tamanho e o tipo de letras a realçar a mensagem mais importante (Quereis bom pão-de-ló?; A Primorosa e Pão-de-ló de Alfeizerão). O anúncio continua: “tem também um belo sortimento de pastelaria, confeitaria, vinhos sinos, licore e artigos de papelaria. Café – lote da casa; Cerveja Pilsener das fábricas Portugalia e Estrela”. E termina com um interessante: “A preços de combate”.
Os primeiros números repetem vários dos anunciantes, mas também vão adicionando outros, como uma modista de chapéus, um depósito de madeiras e uma oficina de marcenaria, fanqueiros e retroseiros e alfaiates. Ainda em outubro de 1925 anuncia-se pela primeira vez a venda de automóveis na Gazeta das Caldas, através do representante em Leiria da Ford, que vendia “carros de turismo e camionetes”. No número seguinte um particular, também em Leiria, vende o seu Chevrolet de 1925 em “estado novo”.
Entre produtores de vinhos, sapatarias, pastelarias e restaurantes (Flor do Liz, restaurant Aliança e o chalet restaurant Gare), casas bancárias (de Martins Pereira e de Saudade e Silva), e alojamentos (pensão hotel Cautelas), encontramos um anúncio da loja de fazendas de António Castanheira na Praça da Fruta, um estabelecimento que ainda hoje está aberto dentro do mesmo ramo, mas com outro nome. Apresentava-se aos leitores como “O estabelecimento que vende mais barato e que melhor sortido tem”. Outro anúncio curioso é da Casa das Gaeiras, que ainda hoje existe. Na altura vendia, além de vinhos, “bezerros mirandeses, poldros, muttano, lenhas, matto e ceriaes” e tinha “cinco caldeiras de destilação”. A farmácia Central também anunciava, assim como o Thomaz dos Santos, já em 1928.
Mas os anúncios mais elaborados no início da Gazeta são os da Vacuum Oil Company, que vendia fogões e aquecedores. São os únicos que apresentam desenhos, sempre com mensagens bastante directas para as mulheres de então, associando o produto à mulher moderna. Estes anúncios seriam pagos, provavelmente, por Paulino Montez, que importava esta marca e que então vendia também máquinas de costura e sabões, tendo ainda uma oficina de automóveis.
Uma última curiosidade são os rádio-anúncios, uma série de pequenos anúncios, com pouco texto, publicados em coluna. Na… Gazeta das Caldas.