Num jornal ainda claramente marcado pelo regime, as notícias “livres” chegam apenas no mês de maio, com manifestações entusiásticas ao movimento
Em abril de 1974 a Gazeta das Caldas é o único jornal bissemanário do distrito, com uma edição a ser publicada ao sábado e outra à quarta-feira. Mas os efeitos da revolução não se fizeram sentir de imediato na publicação.
Na edição de 27 de abril realça-se na primeira página um grande destaque sob o título “intranquilidade”, com uma mancha negra a chamar a atenção. “Os acontecimentos de anteontem causaram a maior perturbação na vida nacional. O país carece acima de tudo de poder assegurar aos portugueses normalidade no trabalho de cada dia e tranquilidade nos lares e nas ruas”, lê-se.
No mesmo artigo, a Gazeta diz esperar “que das ocorrências havidas nada resulte que prejudique a Pátria ou a diminua no respeito a que tem jus” e pede aos caldenses que tenham serenidade e civismo. A peça termina com uma consideração: “Para alem de tudo o mais, a autarquia deve manter-se una pois ao bem de Caldas da Rainha, como ao da nação, interessa sobremodo que nada nos divida”.
Poucos dias depois, a 1 de maio, é publicada na primeira página a notícia de que “na nossa cidade realizou-se, na segunda-feira, manifestação de apoio à Junta de Salvação Nacional, com a presença de enorme multidão”. O título anunciava o artigo a publicar na edição seguinte e essa é a de 4 de maio, que pode ser considerado o primeiro número que se refere aos acontecimentos da Revolução dos Cravos com liberdade.
O título principal faz menção ao 16 de março e a uma homenagem organizada pelos caldenses. “Na passada segunda-feira a Praça da República encheu-se de caldenses desejosos de manifestar a sua alegria ante a transformação política em boa hora operada no país”.
Outro artigo fala das “manifestações entusiáticas” que afirmaram a adesão total do concelho das Caldas ao Movimento Militar”.
Nesse número é também dado a conhecer que a Gazeta telefonou a um representante das forças democráticas caldenses para lhe dar “garantias de integração imediata da Gazeta das Caldas no espírito e acção da Junta de Salvação Nacional”.
O editorial, assinado pelo diretor Carlos Saudade e Silva, apresenta sete pontos sobre a mudança de regime: “O povo e as forças armadas restituíram o país à normalidade das instituições politicas. Puseram termo a um regime de excepçção que usava da autoridade para restringir as liberdades naturais, em vez de as garantir e tornar efetivas. Só espíritos fechados às realidades não viam que excepção não podia eternizar-se como regra e que esta – o auto governo um povo – é a que se encontra na normalidade de instituições erigidas por si mesmas – não impostas”.
“Pretendemos que Gazeta das Caldas – nascida democraticamente a 1 de outubro de 1925 – fique aberta a todos, a dentro duma imprensa livre, sem palas de censura ou exame prévio”, escrevia o diretor.
Falta dizer que nesta época a Gazeta se debatia com dificuldades em encontrar papel, daí que o jornal tenha sido impresso em papel colorido. ■