Cerca de 500 pessoas marcaram presença no almoço de homenagem a Vasco Oliveira, que decorreu no passado dia 31 de Janeiro. Amigos recentes e outros de longa data (e representantes de todos os partidos políticos) deram testemunho do trabalho que o homenageado desenvolveu a nível profissional, desportivo, político e associativo.
Em comum o destaque de algumas das suas características, como a frontalidade, amizade, companheirismo e sentido de rectidão.
Em 1987 Cavaco Silva, então primeiro-ministro, chama Vasco Oliveira, que estava na fundação da Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) e diz-lhe que se devia afastar desta entidade pois já tinha muitos sindicatos no país a reivindicar. A resposta foi rápida. Vasco Oliveira disse-lhe que não o fazia pois foi eleito pelas pessoas e que as continuaria a representar e a defender os direitos das freguesias, que na altura eram diminutos.
Este é apenas um dos episódios que mostram a frontalidade e determinação de Vasco Oliveira, que foi enaltecida pela maioria dos seus colegas ligados à política.
Armando Vieira, vice-presidente da ANAFRE, deixou-lhe um abraço das 3091 freguesias que compõem o país e, dando nota do seu valoroso trabalho em prol das autarquias de base, ofereceu-lhe o pin de ouro desta associação.
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, lembrou que inicialmente Vasco Oliveira não concordou com esta iniciativa, mas justificou que esta tinha sentido pois havia muitos amigos que lhe queriam agradecer o que tinha feito por eles. E, durante toda a tarde, foram dezenas os amigos que fizeram questão de subir ao palco para dar uma palavra de apreço ao homenageado.
Ramos Rosa, secretário geral do PSD, referiu que o presidente do partido e actual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, “lhe está reconhecido” e destacou que Vasco Oliveira sempre foi uma referência como autarca, tanto na Junta de Freguesia como na fundação da ANAFRE. O político ofereceu-lhe a lembrança com a qual distinguem os grandes políticos nos 40 anos do PSD.
Para Cabrita Jerónimo, ex-presidente da Junta de Freguesia de Santa Catarina, e Lalanda Ribeiro, deputado da Assembleia Municipal, esta homenagem peca por tardia. “Sou seu freguês e agradeço-lhe o que fez”, disse Lalanda Ribeiro, destacando a preocupação que Vasco Oliveira sempre teve com a parte mais rural desta freguesia. O também provedor da Santa Casa da Misericórdia das Caldas realçou o apoio dado a esta instituição, nomeadamente para o funcionamento da cantina social.
Além de amigo de Vasco Oliveira, o actual vereador do PS, Jorge Sobral, partilhou também com ele a gestão da Junta de Freguesia, num mandato tripartido (PSD, PS e CDU). “Vivemos quatro anos esplêndidos”, disse.
“Se pudesse voltar atrás, faria tudo o que fiz”
A intervenção mais longa viria a ser do ex-presidente da Câmara, Fernando Costa, para quem esta homenagem foi feita “no momento certo”. Os dois autarcas trabalharam juntos 28 anos, um na Câmara e outro na maior freguesia do concelho.
“Sempre foi um homem frontal, de causas, reivindicativo, mas também de coração aberto para perdoar”, disse Fernando Costa, que muitas vezes se zangou com Vasco Oliveira, mas que dias depois já estavam amigos de novo.
Fernando Costa referiu que, se existe um parque de estacionamento subterrâneo em frente à Câmara, este deve-se a Vasco Oliveira, que nunca concordou com a sua construção na Avenida da Independência Nacional. “Quero ver o Vasco na inauguração”, disse, lembrando ainda que o autarca pagou muitas vezes obras da Junta que cabiam à autarquia.
E porque a vida de Vasco Oliveira também está intimamente ligada ao futebol, o radialista Jorge Galeão simulou um relato de futebol do Caldas. Também presente no encontro, o actual presidente do clube, Carlos Vasques, destacou o percurso do homenageado, desde a altura em que foi atleta, ainda nos juniores, até à actualidade, onde ocupa o lugar “mais alto do clube”, o de presidente da mesa da Assembleia Geral.
Em forma de agradecimento o dirigente desportivo ofereceu-lhe uma camisola autografada pelos jogadores.
Também a columbofilia foi uma paixão. Vasco Oliveira começou aos 13 anos com seis pombos e tornou-se um columbófilo de grande notoriedade nacional, exercendo funções dirigentes, tanto na Sociedade Columbófila Caldense como na Federação Portuguesa de Columbofilia. Tendo em conta esse seu gosto, Vasco Oliveira foi recebido, à entrada do almoço, com uma largada de pombos.
Emocionado, o homenageado lembrou o seu percurso e, referindo-se à política, reconheceu que 28 anos no poder foi “tempo demais”, mas garante que não ganhou vícios. Na sua opinião, o tempo ideal para se estar a exercer funções são 16 anos (quatro mandatos).
Vasco Oliveira destacou ainda o trabalho dos funcionários da Junta de Freguesia, todos presentes no evento, e que com ele passaram grande parte da vida. Lembrou que no início eram poucos e que se batiam com muita falta de dinheiro e de meios, mas que a pouco e pouco foram conseguindo adquirir equipamentos, meios e novos serviços para melhorar a vida dos seus fregueses.
“Para trás ficou a família”, reconheceu, lembrando que não esteve presente quando os filhos nasceram por se encontrar embarcado e que depois, com o futebol, chegava a casa muito tarde. A filha, Elisa Oliveira, que actualmente gere a empresa que Vasco Oliveira fundou há mais de 40 anos, dedicou-lhe um poema onde resumiu o seu percurso de vida.
Actualmente com 78 anos, Vasco Oliveira abandonou o cargo de deputado na Assembleia Municipal para fazer os tratamentos de combate a um cancro. No entanto, garante, “se pudesse voltar atrás, faria tudo o que fiz”.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt