Gazeta das Caldas - carros
Nestes três exemplares é possível verificar o aumento de electrónica na composição dos veículos. Enquanto que o mais antigo não possui electrónica, o mais recente tem muita.

Há quem esteja atento às tendências e procure pelo último modelo a entrar no mercado, mas também há quem invista num carro com 30 ou 40 anos, que recupera e exibe orgulhosamente num passeio de domingo, ou mesmo para ir às compras ao supermercado. Normalmente são razões afectivas que estão por detrás deste gosto pelos carros antigos, que são restaurados ao pormenor e com peças de origem.
Gazeta das Caldas falou com três amigos, caldenses, que partilham a paixão por carros antigos e de marcas japonesas.

Helder Alexandrino passava as férias escolares a ajudar o pai, que era torneiro mecânico numa oficina. Ao mesmo tempo que ia crescendo, crescia também o gosto pelos automóveis e, sobretudo, pelos de origem japonesa, como a carrinha Datsun 120 Y, que era do pai e que ainda hoje possui.
Curiosamente, o seu primeiro carro foi um italiano, um Lancia Y10, que comprou quando tinha 20 anos, mas que não guardou. Depois comprou um Jeep Toyota, que mantém há mais de duas décadas, restaurado, e foi adquirindo outros carros antigos, que vai depois restaurando com a ajuda dos amigos. Actualmente tem uma dezena de clássicos.
Quando marcou encontro com a Gazeta das Caldas, Helder Alexandrino chegou ao volante de um Nissan 300 ZX twin turbo. Trata-se de uma relíquia de 1990 que adquiriu há três anos e que pertenceu a José Megre (falecido há 10 anos), impulsionador do desporto automóvel em Portugal, que participou várias vezes no Paris – Dakar e criou o troféu Datsun 1200.
Actualmente, o carro mais antigo que tem é de 1968. Trata-se de um Datsun 2000 supersix, que pertenceu à Embaixada do Japão em Portugal, e que Helder Alexandrino está agora a restaurar. “Já está pintado e tem mecânica, faltam os interiores e colocar os cromados”, especificou.
Há sete anos, este professor caldense foi convidado a integrar o Amigos Japoneses Antigos – Clube de Automóveis e Motos, sediado actualmente em Oliveira de Azeméis e com núcleos no Norte, em Lisboa e, desde Janeiro do ano passado, no Oeste. No segundo domingo de cada mês os condutores de carros japoneses encontram-se junto ao cais da Foz do Arelho. De Inverno vem menos gente, mas no Verão já chegaram a ter encontros com cerca de 40 carros, com pessoas também oriundas de Lisboa, Leiria, Torres Vedras e Santarém.
Os carros antigos são um hobby “um pouco dispendioso”, reconhece Helder Alexandrino, que frequentemente se socorre da ajuda dos amigos para a troca de peças. Por vezes o que é mais complicado é conseguir encontrar as peças de que precisam (e para os carros japoneses essa dificuldade é acrescida). “É muito difícil. Tenho um amigo no Japão e quando precisamos, peço-lhe directamente e ficam mais baratas do que compradas cá”, explicou à Gazeta das Caldas.
Para além da qualidade dos carros, Helder também aprecia a cultura japonesa, nomeadamente ao nível da educação e limpeza, que diz ser completamente diferente da ocidental.
Este apaixonado por carros acabou por contagiar a sua família e por isso é normal que a mulher e o filho o acompanhem nos encontros automobilísticos.
Para além da recuperação de carros antigos, Helder Alexandrino também faz colecção de miniaturas, sobretudo de carros japoneses. Tratam-se de réplicas a rigor, com escala e todos os pormenores, algumas delas compradas já prontas, enquanto que outras são construídas pelo próprio. A colecção vem desde pequeno, altura em que os pais lhe compravam os carros, e agora já a partilha com o filho. Ao todo tem mais de 4000 exemplares.

Conduzir um carro com mais de 40 anos

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Os caldenses estiveram a participar no evento sobre carros clássicos que decorreu na Expoeste

Luís Noronha conduz, orgulhosamente, um Toyota Corolla KE30 Deluxe de 1976, que comprou há 10 anos, mas que no qual se tinha sentado em pequeno e de que guardava recordações de infância. É que este tinha sido o carro do seu pai durante uma década.
Tudo começou quando um amigo o incentivou a arranjar um carro antigo para se entreter a recuperar, mas que Luís queria que tivesse algum significado afectivo. Foi então procurar o carro que tinha sido do pai e comprou-o 20 anos depois. O volante e os bancos ainda são os daquela altura. “Os meus avós sentaram-se naqueles bancos”, recorda, salientando que o pai teve o carro quando Luís era pequeno e que depois vendeu-o.
“Em termos emocionais este carro diz-me muito, tenho fotografias a preto e branco onde ele também aparece”, recorda, acrescentando que a recuperação foi feita ao pormenor. “Até a borracha das escovas diz Toyota”, conta o funcionário público, especificando que também os espelhos são do Japão, o cinzeiro é original e a antena é cromada.
Luís Noronha sai com ele muitas vezes pois é um carro confortável. Quando vai com ele ao supermercado, deixa-o no estacionamento mais afastado, para ficar livre de toques e, recentemente, foi passear com o seu Datsun “quarentão” até Lisboa. Ficou no Parque das Nações, mas está a pensar fazer a inspecção do Automóvel Clube de Portugal (ACP), que lhe dá o certificado de carro de interesse histórico e que permite a circulação em todo o lado. Este documento, que custa 50 euros e é válido por quatro anos, garante que em caso de acidente quem lhes bate tem a responsabilidade de colocar o carro exactamente igual à data da certificação.
Luís Noronha quer juntar mais carros antigos na sua garagem e a próxima aquisição poderá ser um Toyota Celica, também dos anos 70, uma versão desportiva e mais exuberante, de que gosta particularmente.

“Sabemos cada parafuso que o carro tem”

Três anos foi o tempo que Paulo Quintas demorou a restaurar o seu Toyota Corolla AE86 Twin Cam, de 1984. “Está quase todo original”, explica o jovem, acrescentando que comprou-o em 2008 quase todo desmontado porque tinham começado a restaurá-lo mas não terminaram. Funcionário numa oficina de um stand, Paulo Quintas escolheu este carro por ser um dos maiores desportivos dos anos 80 e que fazia alguma “cobiça” naquela altura. Comprou-o por 2.500 euros e diz que em 10 anos o seu valor já triplicou. A verdade é que este carro é uma raridade, até porque este modelo só foi fabricado durante três anos, entre 1982 e 1985.
Anteriormente o jovem caldense já tinha recuperado um Mini antigo e depois já restaurou mais quatro, todos de marca japonesa. “O carro japonês é outra construção, outra qualidade”, diz, acrescentando que ganhou o gosto por este tipo de carros com o patrão, que foi o segundo concessionário da Toyota em Portugal, com a Adazil.
Actualmente Paulo Quintas está a restaurar um Toyota Celica, que prevê concluir dentro de três a quatro anos, pois o trabalho é feito aos poucos, à noite. As peças também são difíceis de encontrar. Muitas têm que vir directamente do Japão e demoram algum tempo a chegar e os portes são caros.
“Isto é um trabalho artesanal, sabemos cada parafuso que o carro tem e quando avaria, estamos preparados para o reparar”, conta. Quando vê uma revista do sector, ou um programa televisivo, o que lhe chama a atenção de Paulo Quintas não são os modelos novos mas os antigos, tanto que não tem nenhum carro que seja posterior a 2000. “O meu carro do dia-a-dia é um Toyota Starlet de 1990”, específica, destacando que os japoneses são “outro mundo” nos carros.
Na sua opinião, há cada vez há mais pessoas a gostar de carros antigos, sobretudo entre os jovens. “Temos tido pessoas na casa dos 20 anos a aparecer nos nossos encontros com carros antigos restaurados”, explica à Gazeta das Caldas.
Paulo Quintas gostaria de ter um Toyota Supra Mk4, mas reconhece ser um sonho quase impossível devido à sua raridade em Portugal e, no caso de ser importado, ver o seu valor aumentado devido ao imposto de selo.

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Helder Alexandrino tem cerca de quatro mil miniaturas, grande parte delas de carros japoneses

Oeste recebe encontro nacional

O Oeste irá receber no próximo dia 22 de Junho o evento nacional do clube dos Amigos Japoneses Antigos. A concentração terá lugar nas instalações da empresa Transwhite, na Zona Industrial das Caldas e seguirão em passeio, com indicações, num circuito pelas praias da região.
O almoço será no Buda Eden, na Quinta dos Loridos (Bombarral), seguindo-se uma visita pelo parque temático. À tarde regressam às instalações da Transwhite para provas de perícia.