A Gazeta das Caldas publica esta semana um anúncio da empresa Azurnet a pedir inscrições para funcionárias de limpeza, mas com um desabafo dos seus responsáveis por não terem conseguido encontrar pessoas para trabalhar neste ramo entre os inscritos no Centro de Emprego.
“Com cerca de 588 mil desempregados em Portugal, não se compreende como é que a nossa empresa tem dificuldade em encontrar pessoas com vontade de trabalhar”, refere o anúncio.
Maria de Fátima Santos, sócia gerente da empresa, contou ao nosso jornal que cada vez mais tem sentido dificuldades em contratar pessoas.
Durante os meses do Verão a situação piora ainda mais porque “as pessoas que estão inscritas no Centro de Emprego e a receber o subsídio de desemprego vão para a apanha da fruta, onde recebem dinheiro que não precisam de declarar às Finanças”. E conta que já várias vezes fez entrevistas a mulheres enviadas pelo Centro de Emprego que recusaram ser empregadas de limpeza. “Têm sempre muitas desculpas para não aceitarem”, diz. Indisponibilidade de horário, freqüência de uma acção de formação ou férias, são as desculpas mais frequentes.
É também recorrente haver recusas porque as desempregadas estão a ganhar o mesmo ou pouco menos com o subsídio de desemprego, do que se estivessem a trabalhar.
Na opinião de Maria de Fátima Santos, enquanto existirem tantas ajudas aos desempregados, há pessoas que vão sempre preferir ficar sem trabalhar.
Actualmente a Azurnet pretende contratar duas funcionárias de limpeza a tempo inteiro e paga o ordenado mínimo (475 euros e subsídio de almoço).
A empresa dedica-se à prestação de serviços, mas especialmente à limpeza. É por isso que contrata principalmente mulheres. “É um trabalho para senhoras”, referiu a responsável.
A Azurnet, Sociedade e Serviços, Lda, existe há 21 anos e foi adquirida por Maria de Fátima Santos e o seu marido em 2005, depois de terem estado emigrados em França.
Com sede na Cidade Nova, a empresa emprega 60 pessoas, com idades entre os 23 e os 60 anos. A funcionária mais antiga aufere actualmente 610 euros. “Quando eu vejo que as pessoas trabalham bem, eu aumento-as”, garante.
Com cerca de 100 clientes, em 2009 a empresa teve um volume de negócios de quase 400 mil euros. Os seus clientes são essencialmente empresas de construção e de gestão de condomínios.
Despediu-se para tirar curso das Novas Oportunidades
A empresária já alertou o Centro de Emprego das Caldas e a Segurança Social de Leiria para estes casos, mas esses avisos não têm tido consequências.
A directora do Centro de Emprego, Célia Roque, explicou que nestes casos actuam em conformidade com a legislação em vigor, “averiguando e analisando pormenorizadamente os motivos da recusa e articulando com a Segurança Social no sentido de serem cessadas as prestações de desemprego dos beneficiários incumpridores”.
Nos casos em que há violação da lei, há ainda uma penalização com a anulação da inscrição no Centro de Emprego e a impossibilidade de se reinscreverem à procura de emprego por 90 dias.
Perante estes acontecimentos, Maria de Fátima Santos coloca a hipótese de contratar pessoas sem fazer contrato porque precisa dessa mão-de-obra.
Conta ainda que tem tido más experiências com as entidades públicas, sobretudo o Centro de Emprego. Uma funcionária que trabalhava há dois anos na empresa despediu-se para ir frequentar um curso no âmbito das Novas Oportunidades porque foi receber mais do que ganhava a fazer limpezas.
Célia Roque não quis comentar o caso, por desconhecer a situação, mas acrescentou que “o Centro de Emprego encontra-se sempre disponível para analisar e esclarecer todos os casos concretos que lhe são colocados e questionados, seja pelos utentes, seja pelas entidades empregadoras”.
Maria de Fátima Santos teve outro caso de uma senhora enviada pelo Centro de Emprego que lhe disse logo que se fosse contratada ficava de baixa. Apesar disso, a gerente da Azurnet entendeu que a devia contratar. “Na segunda-feira veio trabalhar e na terça-feira meteu uma baixa de 15 dias”, contou. Segundo a empresária, essa senhora voltou a pedir que a despedissem para ganhar o subsídio de desemprego. Como isso não aconteceu, voltou a ficar de baixa 15 dias.
Quando Maria de Fátima Santos colocou este problema no Centro de Emprego disseram-lhe para entregar os papéis de despedimento para resolver a situação, o que veio a fazer.
Mas como colocou nos itens do documento que era um despedimento de mútuo acordo, terá havido alguém do Centro de Emprego que mandou o papel para trás e pediu para colocar despedimento por extinção de posto de trabalho para que a senhora pudesse receber o subsídio de desemprego.
Confrontada com estas declarações, a directora do Centro de Emprego, Cália Roque, respondeu-nos por escrito dizendo que “não me poderei pronunciar sobre a ausência de factos, mas reitero a nossa total disponibilidade para esclarecer a situação quando presentes os elementos em concreto”.
A responsável salientou que o Centro de Emprego das Caldas “dispõe de uma equipa técnica de qualidade e que procura responder às diversas solicitações que lhe estão cometidas, seja na actividade de ajustamento entre a procura e a oferta de emprego, seja na promoção de apoios à integração no mercado de trabalho, consubstanciados em diversos programas e medidas activas de emprego”.
Célia Roque garante que esta equipa trabalha com zelo, empenho e profissionalismo com o tecido empresarial e tem sido procurada por diversas entidades de dimensão considerável que se instalaram na região, delas tendo obtido um feedback muito positivo.
Referindo-se à AzurNet disse que “continuaremos com o mesmo empenho e profissionalismo a tentar satisfazer o pedido ainda em curso da entidade em questão, à qual já apresentámos muito recentemente mais de 30 pessoas para entrevista”, concluiu.