As primeiras eleições livres realizadas em Portugal decorreram há 50 anos

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A Escola Comercial e Industrial, onde as eleições se realizaram
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Nas Caldas perto de 23 mil pessoas foram votar para a Assembleia Constituinte, depois de um amplo recenseamento que envolveu todo o concelho. A 25 de abril de 1975 foram eleitos 11 deputados pelo círculo de Leiria

A 25 de Abril de 1975, um ano após o derrube da ditadura, realizam-se as primeiras eleições livres, para a Assembleia Constituinte. São as mais concorridas e participadas eleições da história da democracia portuguesa, com uma afluência de 91% dos cidadãos recenseados e 14 partidos e coligações a apresentarem-se a este ano eleitoral.
Nas Caldas houve 25 mesas de voto, todas a funcionar na Escola Industrial e Comercial (atual Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro) e secções de voto em todas as freguesias. Ao todo, votaram 22.834 pessoas no concelho.

“Manhã cedo milhares de pessoas dirigiram-se para a Escola Técnica nesta cidade” para votar, refere a edição de 3 de maio de 1975, acrescentando que o ato eleitoral decorreu “sem algum incidente”. As abstenções rondaram os 10% e “o computo final de votação veio a beneficiar o PS, que obteve mais de metade dos votos da freguesia das Caldas”. O mesmo artigo refere que, “nas zonas rurais, que são as mais despolitizadas, o PPD obteve metade dos votos, o que a nível do concelho, veio quase igualar o número de votos obtidos pelo PS”. O terceiro partido mais votado no concelho foi o PCP. Foram eleitos pelo círculo de Leiria os deputados António Aires Rodrigues (PS), Luís Kalidas Barreto (PS), Vasco da Gama Fernandes (PS), Amílcar Pinho (PS), Álvaro Neto Órfão (PS), José Ferreira Júnior (PPD), Tomás de Oliveira Dias (PPD), Abílio de Freitas Lourenço (PPD), José Gonçalves Sapinho (PPD), João Manuel Ferreira (PPD) e Francisco Oliveira Dias (CDS).

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Mas para que este momento marcante na história portuguesa se cumprisse antes foram precisos vários passos, como a realização de novos cadernos eleitorais. Foi realizada uma ampla campanha de recenseamento, que envolveu cerca de 40 mil civis voluntários e que viria a constribuir para a enorme percentagem de votos, superior a 90%. O recenseamento, inicialmente previsto decorrer entre 9 e 29 de dezembro de 1974, foi depois alargado até 8 de janeiro do ano seguinte, explica a Gazeta das Caldas. Foi feito por freguesias por intermédio de uma “comissão de recenseamento” composta por “cinco membros nomeados pelo presidente ou comissão administrativa de cada câmara municipal, de entre as personalidades representativas de correntes políticas ou não, mas que se identifiquem com o programa do MFA”, referia a Gazeta das Caldas a 30 de novembro de 1974, dando especial destaque ao assunto nas edições seguintes. Para recensear-se, o cidadão recebia um verbete de inscrição de eleitor, que prenchia e entregava à Comissão de Recenseamento, não existindo, ainda, o cartão de eleitor.

Também a data das eleições, inicialmente prevista para 12 de abril, viria a ser alterada para 25 de abril. Nas edições que antecederam este ato, a Gazeta apelava ao voto. “No novo Portugal que queremos construir, deverá ser o povo a governar, através dos seus representantes. Mas é bom que a acção destes representantes não dispense uma mais ampla e activa participação popular nos diversos sectores”, refere o artigo, que dá também conta que será a Assembleia Constituinte eleita a responsável pela elaboração da Constituição da República Portuguesa, que viria a ser aprovada em 1976 e é a atual constituição portuguesa.

O primeiro presidente de Câmara
Também em 1976, a 12 de dezembro, decorrem as primeiras eleições autárquicas em Portugal. Nas Caldas da Rainha foi eleito José Luís Lalanda Ribeiro, na altura com 36 anos e professor de Matemática, que queria antes ser candidato à Assembleia Municipal para poder manter a atividade profissional. No próximo dia 25 de abril irá recordar a sua vida política, numa conversa com o diretor do jornal, José Luiz Almeida Silva, num podcast dando assim também início às “Histórias que contam”. ■

Antes das eleições foi feito um extenso processo de recenseamento que decorreu entre 9 de dezembro de 1974 e 8 de janeiro de 1975
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