A comemorar 70 anos, os bordados de Óbidos estão a reinventar-se. A divulgação, associada à formação e a obtenção da certificação são alguns dos projetos
Sylvie Simão borda há mais de duas décadas. Aprendeu a fazer o bordado de Óbidos com a sua criadora, Maria Adelaide Ribeirete e atualmente é uma das poucas bordadeiras da Associação Artesanal e Artística “Bordar Óbidos” no ativo.
“A d. Maria Adelaide e depois, a d. Margarida Cajão, sua sucessora, sempre nos pediram para nunca deixar morrer o bordado e tem sido uma luta, até aos dias de hoje”, conta Sylvie Simão, acrescentando que este bordado está a comemorar 70 anos e querem dar um passo em frente na sua divulgação.
Um desses passos foi dado com a exposição “Linhas com histórias que guardam memórias”, patente no Museu Abílio até setembro e que reúne cerca de 500 peças de bordados e tapeçarias, produzidas por mais de 50 artesãos do concelho de Óbidos. A mostra, que ocupa os três pisos daquele espaço museológico resulta de cerca de três meses de estudo e de contacto com familiares de artesãos e de bordadeiras. Sylvie Simão, Manuel Madureira e Tininha Santos, representantes da associação, trabalharam ao vivo, mostrando os pontos, cores e motivos que caracterizam o bordado que nasceu em inícios da década de 50 do século passado, inspirado no teto da Igreja de Santa Maria.
Durante a inauguração, o presidente da Câmara, Filipe Daniel, salientou que o bordado de Óbidos é uma “marca da nossa identidade” e uma das “tradições que queremos recuperar e reforçar”. A autarquia pretende, no futuro, “dar ainda mais notoriedade a este trabalho que tem a marca de Óbidos e que brevemente vai ser conhecido com o selo de certificação”, acrescentou. A vereadora Margarida Reis corrobora da necessidade de recuperação do bordado e já há algumas ideias, nomeadamente a existência de um espaço onde as pessoas possam encontrar-se, com regularidade, para bordar, terem os seus trabalhos em exposição e partilharem a história do bordado de Óbidos. “Acaba por ser o clube do bordado”, alude, acrescentando que também está previsto para 21 de setembro (após o encerramento da exposição), um dia dedicado ao bordado de Óbidos, com a dinamização de diversas atividades no Convento de S. Miguel, nas Gaeiras.

Pedro Luís, colaborador da biblioteca municipal e um dos responsáveis pela vertente histórica e de investigação da exposição, destacou o trabalho das bordadeiras, que são “o maior património” do concelho e realçou a sua grande disponibilidade de colaboração.
A mostra, que se estende pelos três pisos do museu integra uma parte dedicada aos bordados, outra à tapeçaria, e ainda uma terceira com as aplicações práticas do bordado em vários materiais. Patentes estão também duas pelas de joalharia com o bordado de Óbidos, criadas por Cecília Ribeiro.
A mesma arte, novas aplicações
Os arabescos, pássaros, castelo e a palavra “Óbidos”, bordados em tons de azul, rosa, salmão, verde, amarelo e castanho, num total de nove cores há muito que deixaram de ser aplicados apenas em peças de enxoval. Aplicações em vestidos de noiva, camisas, gravatas e casacos têm vindo a ter cada vez mais procura e a associação do bordado está agora a apostar nas capas de Inverno.
O bordado é também aplicado em tapeçaria, como o demonstra Manuel Madureira, o único homem da associação a dedicar-se a esta arte. Aprendeu-a na escola de Óbidos, com a professora Viternesse Lopes e desde então nunca mais parou. “A minha família já tem tradição na tecelagem. Nasce connosco”, conta, especificando que a tapeçaria tem os mesmos pontos que o bordado, mais o ponto fundo, que tapa a serrapilheira. ■
