
A estância termal brasileira de Caldas da Imperatriz comemorou 200 anos e, para assinalar a efeméride, pediu ao município caldense uma banheira do Hospital Termal para fazer um monumento, numa alusão à ligação termal entre os dois municípios. A banheira em mármore, do século XIX, foi despachada desde as Caldas e até já chegou ao Brasil, mas ficou retida na alfândega de São Paulo desde 6 de Março. As comemorações dos 200 anos, essas realizaram-se de 16 a 19 de Março, e até com a presença do autarca caldense Tinta Ferreira. Mas sem a banheira.
Saiu do porto de Lisboa na tarde de 1 de Março, mas ainda não chegou ao destino: a cidade de Santo Amaro da Imperatriz, no estado de Santa Catarina, no Brasil. Trata-se de uma banheira em mármore, com cerca de 700 quilos, pertença do Hospital Termal das Caldas da Rainha e que o município ofereceu ao município geminado, de Santo Amaro de Imperatriz, para integrar o monumento comemorativo dos 200 anos da fundação da sua estância termal.
Esta banheira é uma alusão ao presente da imperatriz Tereza Cristina, em 1845, que após conhecer as águas quentes de Caldas da Imperatriz, enviou para o hospital termal ali recém construído seis banheiras de mármore vindas da Europa e que ainda hoje são utilizadas por aquístas.
E o que aconteceu à banheira que deveria integrar um monumento no balneário termal de Caldas da Imperatriz? Está desde 6 de Março retida na alfândega em São Paulo e depois irá de camião até ao sul do país, para Santo Amaro da Imperatriz. O presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira, que participou nos festejos comemorativos dos 200 anos de Caldas da Imperatriz, foi informadado que esta chegaria ao destino a 28 de Março, quase um mês depois da partida. “O vereador Juliano Souza da Silva está a enveredar todos os esforços para desbloquear o processo”, disse o autarca, acrescentando que tentaram que a banheira estivesse a tempo de ser colocada no monumento durante as comemorações, mas que não foi possível.
A banheira faz parte do espólio do Hospital Termal, que foi concessionado ao município caldense e que agora foi oferecida a Santo Amaro da Imperatriz. Esta oferta foi deliberada em sessão de Câmara e a decisão comunicada ao Estado, explicou Tinta Ferreira à Gazeta das Caldas.
Tinta Ferreira no Brasil
O autarca caldense esteve no município de Santo Amaro da Imperatriz de 14 a 19 de Março para participar nas comemorações daquele que é considerado o balneário termal mais antigo do Brasil – Caldas de Imperatriz -, regulamentado em 18 de Março de 1818 por decreto assinado pelo rei Dom João VI.
Tinta Ferreira participou em diversas visitas, eventos políticos e científicos integrados num programa que terminou com o fecho da cápsula do tempo, onde foram depositadas mensagens e informações simbólicas do evento. Esta cápsula será aberta dentro de 50 anos.
À Gazeta das Caldas o autarca destacou o percurso semelhante que está a ser feito pelos dois municípios no relançamento do termalismo. Também em Santo Amaro da Imperatriz o hospital termal pertenceu ao Estado até 1996, altura em que foi transferido para o município. Apesar de nunca ter deixando de funcionar, o termalismo naquela região terá que se alavancado, mas o município está com algumas dificuldades em consegui-lo.
“Há vontade, mas a situação financeira dos municípios neste momento é difícil porque o Estado brasileiro está com dificuldades e está transferir menos verba”, explica Tinta Ferreira.
A estância tem bastante água termal e com temperaturas que rondam os 40º centígrados, mas o “hospital está antigo, precisa de obras,”, resume o autarca, acrescentando que nas localidades em redor existem várias unidades hoteleiras privadas que aproveitam a água termal. A estância de Águas Mornas (município do estado de Santa Catarina), por exemplo, costuma receber as equipas de futebol do Brasil aquando dos estágios de pré-temporada.
Tinta Ferreira visitou também a Unisul, uma universidade situada no município da Palhoça, também no estado de Santa Catarina, que possui uma especialização e medicinas naturais, com enfoque no termalismo. Deste contacto ficou a possibilidade de uma futura parceria, envolvendo os médicos hidrologistas portugueses e brasileiros, na investigação da água termal como tratamento.
Apesar da distância que envolve os dois municípios, o autarca caldense diz que a ligação é para continuar. Está prevista a presença do secretário de Estado do Turismo de Santo Amaro nas comemorações do 15 de Maio e há a possibilidade de, em Maio de 2019, o prefeito de Santo Amaro visitar as Caldas da Rainha.
A cidade de Santo Amaro de Imperatriz tem cerca de 21 mil habitantes e fica situada perto de Florianópolis. É considerada a primeira estância hidromineral do Brasil e as suas águas termais são benéficas ao nível do aparelho digestivo, reumatismo, pele, doenças metabólicas e sistema nervoso.
[caption id="attachment_114012" align="alignnone" width="850"] Tinta Ferreira ofereceu uma peça da Bordalo Pinheiro ao seu homólogo Edésio Justen -Fátima Ferreira[/caption]
O caldense que foi sacerdote e senador do Império do Brasil
José Caetano da Silva Coutinho, um nome praticamente desconhecido dos caldenses, fez história no Brasil. Nascido nas Caldas da Rainha a 13 de Fevereiro de 1768, foi um sacerdote católico e político brasileiro, tendo sido deputado geral e senador do Império, de 1826 a 1833, ano em que viria a falecer, no Rio de Janeiro.
Na condição de bispo do Rio de Janeiro, foi também nomeado (por carta régia de 3 de Junho de 1808) capelão-mor da capela real e abençoou as núpcias de D. Pedro e presidiu ao acto da coroação do primeiro Imperador do Brasil, D. Pedro I. José Caetano da Silva Coutinho baptizou-lhe também os filhos e assistiu aos últimos momentos de D. Maria I e a da imperatriz D. Leopoldina.
Como político, foi presidente do Régio Tribunal da Mesa de Consciência e Ordens e presidiu à primeira Assembleia Nacional Constituinte, após a Independência do Brasil, em Maio de 1823.
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, teve conhecimento desta personalidade caldense, “com grande influência no Brasil”, pelo historiador José Carlos Petri. Este investigador deu-lhe ainda a conhecer que terá sido José Caetano da Silva Coutinho uma das pessoas que mais influenciou o imperador D. Pedro no investimento em Caldas da Imperatriz porque conhecia a realidade das termas das Caldas da Rainha e sabia da importância das águas.
Entre as várias obras que escreveu, a sua maioria de teor religioso, há algumas de teor histórico sobre as memórias da invasão francesa, onde refere factos passados nas Caldas da Rainha. O autor, e na altura bispo do Rio de Janeiro, ficou retido em Lisboa, aquando da primeira invasão francesa, tendo chegado ao Brasil somente em finais de Abril de 1808, três meses depois da comitiva de D. João VI.
Quero parabenizar pela excelente reportagem, e dizer que estou muito feliz por ver que pudemos trazer a luz a memória de um Caldense tão ilustre, e que teve grande participação na história do Brasil e de Caldas da Imperatriz,
Felicidades,
Somos seus devedores.
Historiador José Carlos Petri
Vice-presidente da Academia Santoamarense de Letras
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina