Bastonário da Ordem dos Enfermeiros alerta para carências no hospital das Caldas

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ENFO bastonário da Ordem dos Enfermeiros visitou na passada segunda-feira, 19 de Janeiro, o serviço de urgências do Hospital das Caldas da Rainha, tendo no final alertado para a situação de “caos” que ali se vive diariamente.
Em declarações aos jornalistas no final da visita, Germano Couto declarou ter saído daquele serviço com “uma preocupação enorme em relação aos cuidados que são prestados nas urgências em Portugal”. Na sua opinião, a maior parte dos hospitais do país não têm capacidade de resposta para o pico de urgências que se verifica totalmente.
O bastonário salientou que a situação que se vive actualmente era previsível e por isso era preciso planear com antecipação, “preparando-se o número de profissionais adequados às necessidades e não nos lembremos apenas desses planos de contingência em cima do acontecimento”.
Curiosamente, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, também visitou o hospital das Caldas, em Dezembro, supostamente para garantir que estavam criadas as condições para o pico de procura que se previa para este mês, por causa dos casos da gripe. Nessa altura o governante deu a entender que as obras de remodelação das urgências caldenses iriam avançar, o que veio a confirmar, já este mês, num debate sobre saúde na Assembleia da República.
Lares de idosos sem cuidados de saúde

Especificamente em relação às Caldas, o bastonário da Ordem dos Enfermeiros verificou nesta visita que existe “um certo caos instalado, com um excesso de macas nos corredores, o que não permite prestar os cuidados necessários e em segurança”.
Na sua opinião, um dos principais problemas, que afecta todo o país, é a falta de resposta de cuidados de saúde por parte dos lares de idosos. “Praticamente todas as macas que vi aqui estavam com idoso acima dos 75 ou 80 anos”, referiu.
O bastonário defende um entendimento entre os ministérios da Saúde e da Solidariedade para um maior investimento em equipas de cuidados integrados, constituídas por enfermeiros que fazem serviços ao domicílio, e em relação aos cuidados de saúde nos lares.
“Neste momento temos cerca 3000 lares em Portugal e a maioria não tem cuidados de saúde”, disse, o que leva “a que estes adoeçam e recorram às urgências, ficando internados”. Há também muitas pessoas mais velhas que não têm apoio social e que também acabam por ficar internadas nas urgências.
Para Germano Couto, é também importante que os centros de saúde possam ter maior capacidade de resposta às situações menos graves, de forma a descongestionar as urgências dos hospitais. Segundo os dados que lhe foram revelados, “46% das situações aqui atendidas tiveram pulseira verde ou azul, ou seja, não urgentes”.
O presidente do CHO, Carlos Sá, também referiu aos jornalistas que há falsas urgências que prejudicam o funcionamento deste serviço. Perante esta realidade, “temos reunido com várias entidades, com os agrupamentos de saúde primários e as corporações de bombeiros, para procurar minimizar os problemas”.
Em relação ao alargamento do horário de atendimento nos centros de saúde do Bombarral e das Caldas, Carlos Sá acredita que poderá reduzir o número de falsas urgências.

Carência de enfermeiros?

Há quase um ano, em Março de 2014, Isabel Oliveira, presidente do Conselho Directivo da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros, também tinha visitado o hospital das Caldas e considerado caóticas as suas urgências. Menos de um mês depois a agência Lusa divulgou o relatório dessa visita, a que teve acesso através da administração do CHO, em que é referida que a urgência tinha “uma dotação adequada de enfermeiros”. A partir dessa altura, a administração tem aludido sempre esse relatório quando há críticas em relação ao número de enfermeiros no CHO.
Isabel Oliveira acompanhou o bastonário na visita da passada segunda-feira e quis esclarecer que os dados revelados foram, alegadamente, descontextualizados e que “há sete enfermeiros do serviço de urgência em ausência prolongada (de baixa médica, por exemplo) e há ainda uma carência efectiva de três profissionais”, explicou. Por outro lado, mesmo em relação a esses números, não se está a contemplar o facto de haver dezenas de macas com doentes nos corredores, o que obrigaria a um maior número de profissionais.
Segundo o bastonário, esse relatório referia que, no total, faltam cerca de 70 enfermeiros no Centro Hospitalar do Oeste e que isso se reflecte nas urgências porque resulta num maior número de vagas noutros serviços, o que acaba por fazer com que estes fiquem internados mais tempo nos corredores.
O pico de procura dos cuidados de saúde também se tem feito sentir no Montepio Rainha D. Leonor, no qual as pessoas chegam a estar várias horas à espera para serem atendidas. No entanto, a direcção da instituição não decidiu reforçar o serviço de urgência com mais um médico.

Inquéritos a mortes ainda a decorrer
A recente atenção mediática para os casos de pessoas que morreram quando estavam nas urgências em vários locais do país, incluindo no hospital de Peniche, fez com que a visita do bastonário da Ordem dos Enfermeiros fosse acompanhada por duas equipas de reportagens da SIC e da RTP.
Germano Couto fez questão de dizer que não é anormal morrerem pessoas nas urgências, mas que nos casos que têm vindo a ser divulgados é preciso perceber quais foram as causas. Uma das hipóteses que colocou foi a possibilidade de, em algumas situações, “os profissionais não estarem com a devida dedicação porque têm excesso de utentes para atender”.
A directora clínica do CHO, Isabel Carvalho, também salientou que não é de estranhar haver mortes nas urgências “porque infelizmente não conseguimos salvar toda a gente que recorre aos nossos cuidados”, sendo necessário avaliar “se estas vão para além do que é expectável”.
Em relação ao que aconteceu em Peniche, Isabel Carvalho referiu que o inquérito interno do CHO e o outro da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde ainda estão a decorrer. O centro hospitalar também ainda não sabe o resultado da autópsia, de forma a saber-se a causa da morte.
Também ainda a decorrer está o inquérito da IGAS em relação à morte de João Brochado, em Fevereiro de 2014, duas semanas depois de ter sido operado nas Caldas da Rainha. O caldense, então com 60 anos, contraiu uma infecção na sequência de uma intervenção cirúrgica a um cancro raro e foi transferido para unidade de cuidados intensivos de Abrantes (depois de ter sido recusado em Leiria e Lisboa), onde viria a falecer.
Este caso também teve bastante atenção mediática na altura, mas acabou por ser esquecido.