Por: João Barbosa*
Definitiva só há uma coisa na vida. Todas as outras são opções ou consequências passageiras. Retórica à parte, quero dizer que há boas razões para conhecer os vinhos de Lisboa.
A geografia física é uma coisa e a geografia humana é outra. A região vitivinícola de Lisboa é comprida, parece-me em torno de 140 quilómetros e, também por isso, diversa. Embora sempre se tivesse feito bom vinho, a fama da antiga Estremadura não era das melhores.
A reputação deveu-se muito por culpa própria, as muitas décadas em que se privilegiou a quantidade deixaram nódoa. As castas muito produtivas, como a seminário ou a seara nova, têm vindo a ser substituídas e tem crescido o número de empresas a trabalhar bem.
Não gosto de estabelecer tabelas para relações entre a qualidade e o preço e, muito menos, aplicando-as a regiões. Podem enumerar-se os critérios de avaliação, mas cada pessoa terá a sua sentença. No entanto, há nesta região vinhos que, se produzidos noutras, teriam outro preço.
A mudança da designação, realizada há uns anos, de Estremadura para Lisboa trouxe certamente uma maior reconhecimento e visibilidade comercial. A alteração não foi apenas nominal. Na verdade, a nova designação veio premiar produtores que faziam, alguns há muitos anos, vinho com reconhecida qualidade.
A região é generosa, nela se consegue fazer muita quantidade como muito bem, cabendo a escolha ao produtor. Sendo que não são incompatíveis: firmas como a DFJ, a Casa Santos Lima ou Parras Wines provam-no.
É sempre injusto e difícil fazer listas, mas há casas que se destacam, porque começaram mais cedo ou porque alcançaram um importante reconhecimento. Quinta do Monte d’Oiro, Quinta de Chocapalha, Quinta de Pancas, Quinta de Santana, Quinta do Pinto, Casa das Gaeiras, Quinta da Romeira, Fundação Oriente, Adega Regional de Colares… dificilmente não estariam numa lista de honra.
Felizmente, passou a mania de afirmar que Portugal é um país de tintos. Convém referir que na região de Lisboa fazem-se alguns dos melhores brancos do país – não apenas na denominação Bucelas, exclusivamente de brancos e que pode dar muito mais.
Além de generosa, Lisboa é plástica, nela cabem nove denominações de origem controlada. É discutível se o número é adequado por traduzir particularidades dos vinhos ou obedecer a pressão de poderes políticos variados.
Sejam muitas ou poucas, há algumas que são, para mim, indiscutíveis: Alenquer, Bucelas, Carcavelos, Colares e Lourinhã. A primeira comprova-se pelo número de empresas de referência e quintas com prestígio. A Lourinhã é uma das três regiões vitivinícolas do mundo que produz apenas aguardente. Colares e Bucelas têm variadas e antigas referências, ainda anteriores ao estabelecimento em letra de lei. E Carcavelos é um bicho de zoológico, visto estar praticamente extinto – louve-se o trabalho que a Câmara Municipal de Oeiras tem vindo a realizar, com apoio do Ministério da Agricultura, para a sua existência.
*Jornalista. Especialista em vinhos.
joaoamesa.blogspot.pt