
Cerimónia de abertura decorreu a 14 de maio com a presença da ministra da Cultura
A Rainha D. Leonor, que deu nome às Caldas da Rainha, faleceu a 17 de novembro de 1525. Cinco séculos depois, a cidade presta homenagem ao seu legado, com a realização de conferências, exposições, concertos, teatro, gastronomia e reedições históricas.
A cerimónia de abertura das comemorações teve lugar no passado dia 14 de maio, no CCC, com a presença da ministra da Cultura, Dalila Rodrigues. “É pela marca profunda que D. Leonor imprimiu a este lugar, nas Caldas que a Rainha fundou, que aqui nos encontramos hoje e que esta cidade assumiu, com plena legitimidade, as comemorações dos 500 anos da sua morte”, referiu a ainda governante. Dalila Rodrigues destacou o trabalho da monarca a nível assistencial e o seu mecenato artístico, realçando que D. Leonor “inscreve-se numa linhagem de mulheres poderosas e cultas que, mesmo num contexto patriarcal, souberam intervir nos destinos da história”.
Tal como infere a ação de D. Leonor, a governante acredita na “responsabilidade de incrementar e dar uso ao património”, pelo que considera urgente “repensar a política de coleções, aumentar as aquisições, garantindo-lhes condições de preservação adequadas e o estudo que precede a interpretação e a mediação”. Dalila Rodrigues defendeu ainda a necessidade de assegurar a circulação das obras, tanto do Estado como de particulares, respeitando a sua natureza jurídica e incentivando um colecionismo responsável”.
Dalila Rodrigues destacou o facto do ciclo ser assumido por um município fora da capital. “Caldas da Rainha tem plena legitimidade para chamar a si a invocação dos 500 anos da morte e os cinco séculos de celebração de um legado”, disse, deixando a sugestão de elaboração de um roteiro geográfico, com a presença dos tesouros artísticos da monarca e assumindo Caldas da Rainha a centralidade do acontecimento.
As celebrações têm como coordenador científico e pedagógico Nicolau Borges e pretendem celebrar, não a morte, mas a vida e o legado da monarca. O historiador caldense, que considera D. Leonor a “personagem feminina mais importante da história de Portugal”, partilhou que é “muito difícil” fazer a sua história porque os biógrafos da época eram biógrafos de reis e não de rainhas. O orador destacou ainda D. Leonor como um exemplo, para os cidadãos do século XXI, de uma mulher que “numa época muito complexa, muito anti-mulher, soube ser política e soube ser gestora, pois geria uma das maiores fortunas de Portugal”.
Para assinalar a efeméride tentaram “fazer um programa que estivesse à altura da cidade e da nobreza da rainha”, disse, lembrando que ela viveu uma vida longa, para a época (tendo falecido com 67 anos). Para os próximos meses está prevista a realização de um conjunto de conferências, que também serão de formação para os professores, permitindo-lhes “replicar tudo o que será esta homenagem pelas escolas”, a par de outras iniciativas de várias instituições que trabalham no terreno.
Comemorações até 17 de novembro
De acordo com a vereadora Conceição Henriques, as comemorações foram estruturadas em torno de “vários eixos”, entre eles um ciclo de conferências de especialidade, de periodicidade mensal e que resultará numa coletânea de textos. Haverá também um conjunto de exposições associadas, das quais uma central está a ser articulada entre o município e o museu José Malhoa, a par de um “eixo de concretizações artísticas nas quais entrará a música e o teatro, em associação com o Teatro da Rainha”. Um outro eixo, que a autarca denominou “para a memória futura das publicações”, está a trabalhar a reedição do Livro do Compromisso, da Rainha, numa versão mais alargada, em articulação com o Teatro da Rainha e a associação Património Histórico (PH).
O programa incluirá também “comemorações populares ou mais lúdicas”, como um conjunto de iniciativas ligadas à gastronomia da época da Rainha que mais ou menos acompanhará o período das conferências”, até 17 de novembro, a par de celebrações religiosas.
Na cerimónia, Conceição Henriques disse que as Caldas deve a D. Leonor e ao Hospital Termal mais do que a sua existência. “Deve-lhes também a sua identidade de pequena urbe voltada para a hospitalidade, para o livre pensamento, para a valorização das artes e entre estas a arte cerâmica, para o diálogo, para a macieza do caráter das suas gentes a quem, com alguma dose de verdade e outra tanta de ironia, se chama “Águas Mornas”, e a para a fruição do espaço e do tempo”. Razões pelas quais diversas instituições da terra adotaram o seu nome, disse a autarca, dando ênfase ao espírito humanista da rainha.
O presidente da Câmara referiu-se à efeméride como um “momento solene e de júbilo” para as Caldas, pois celebra-se a vida e obra da “mãe fundadora da nossa cidade”. Depois de caracterizar a “mulher de notável inteligência” que foi D. Leonor, o autarca considera que a comemoração do seu quinto centenário deve ser um “poderoso apelo ao que podemos ser”, lembrando o Hospital Termal, que fundou, e pedindo união na sua defesa e continuidade.
Vítor Marques considera que celebrar D. Leonor é também uma “oportunidade para refletirmos sobre a importância de reconhecer e valorizar todos aqueles que, ao longo da nossa história, são os benfeitores da nossa cidade”. O autarca referia-se aos voluntários, empreendedores, educadores, profissionais de saúde, artistas e munícipes que, à sua maneira contribuem para o bem comum, deixando-lhes um “profundo agradecimento”.
A cerimónia das celebrações do legado da Rainha D. Leonor começou com um momento artístico, com o pianista e compositor Aurélien Vieira Lino a interpretar uma peça criada propositadamente para o evento, seguido de “Estrela do Mar”.