
Caldas da Rainha integra o protótipo do atlas das cidades termais da Europa (juntamente com Mondariz, em Espanha, e Bath, no Reino Unido) a ser apresentado pela Associação Europeia das Cidades Históricas Termais (EHTTA) à Comissão Europeia.
Entre 16 e 18 de Maio, realizou-se no CCC o encontro da Associação Europeia de Cidades Históricas Termais, seguido do Congresso de Hidrologia Médica, fazendo com que durante uma semana este fosse o centro europeu de discussão sobre termalismo.
No encontro Cafés of the Europe, da Associação Europeia das Cidades Históricas Termais (EHTTA), que decorreu no pequeno auditório do CCC a 16 de Maio, foram dadas a conhecer várias rotas europeias nas quais Caldas está incluída e outras nas quais se pode incluir. Mas o principal projecto da associação é a criação de um atlas das cidades termais da Europa.
O atlas é uma ferramenta que reunirá toda a informação sobre as cidades termais, permitindo estudos, comparações e considerações sobre este património.
Mario Crecente, vice-presidente do Conselho Científico da EHTTA, disse que o Atlas é o projecto mais importante da associação, que entendeu que era preciso conhecer o património termal da Europa. “Estimamos que possam ser 250 cidades”, disse Mario Crecente, revelando também que estão a encontrar muito património abandonado.
Para já, está concluído um protótipo que inclui as Caldas da Rainha e que será apresentado à Comissão Europeia para tentar obter apoio financeiro para um projecto que custará perto de um milhão de euros.
Os trabalhos começaram na definição do que é o património: a soma dos valores naturais (águas), culturais (edifícios) e imateriais (lendas e mitos).
Depois foi estudada a primeira cidade: Mondariz, na Galiza (Espanha), mais tarde foi Bath (Reino Unido) e desde o último ano estudaram as Caldas da Rainha. “Agora apresentaremos este protótipo à Europa e à Comissão Europeia, dia 22 de Maio”, esclareceu.
Com o incluir de mais cidades (e por conseguinte mais dados), será preciso melhorar o software e o hardware e reforçar a equipa porque “o atlas adquirirá valor quando nos permitir medir a Europa para fazer estudos e considerações”.
“O potencial das Caldas é enorme”
Já Giuseppe Bellandi (das termas de Montecatini e presidente da EHTTA), salientou a importância do Atlas, estimando que existam na Europa mais de mil nascentes termais. “O potencial das Caldas é enorme”, afirmou, notando que esta cidade “é um cruzamento entre as termas, cerâmica, peregrinação, vinho e gastronomia, e isso tem de integrar o que vai ser oferecido aos turistas”.
O presidente da associação fez notar que “a água de cada sítio tem as suas características e propriedades terapêuticas” e que “a água termal, primeiro, é medicina e é importante que o Serviço Nacional de Saúde assegure o tratamento sem custos das doenças crónicas”.
Torná-la acessível para todos e ainda assim sustentável é um grande desafio, que passará pela preservação da qualidade da água, pelo serviço prestado, hospitalidade e marketing.
A rede conta com cerca de 40 cidades de 14 países: Portugal, Espanha, Reino Unido, Itália, França, Alemanha, Bélgica, Roménia, Hungria, Croácia, República Checa, Grécia, Turquia e Azerbeijão. “Os benefícios são iguais para todos, porque a nossa história é o nosso marketing e é mais fácil trabalhar em rede”.
Hospital termal sustentável em 2021
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, disse que a participação na rede europeia é uma forma de “dizer à Europa e às Caldas que estamos a preparar-nos para regressar”.
“Tendo em conta a nostalgia que as pessoas têm das Caldas, a divulgação que iremos fazer e o facto do Estado português admitir a hipótese de voltar a comparticipar tratamentos com água, admitimos estar em velocidade cruzeiro, num processo de sustentabilidade, a partir do ano 2020”, divulgou o autarca, prevendo que 2021 seja o primeiro ano de sustentabilidade financeira.
O autarca disse ainda que a gestão do Hospital Termal terá “uma componente de proporcionar àqueles que têm menos condições para pagar, a possibilidade de terem alguma comparticipação”.
Marion Vansingle apresentou a Route des Villes d’Eaux du Massif Central, composta por 17 spas. Um deles é o de Cransac-Les-Thèrmes, que tem como particularidade o facto de ser a única cidade termal francesa que não tem água termal. Isto porque aproveitam os gases da Burning Mountain (traduzido em montanha que arde) para fazer tratamentos.
Até meados do séc. XIX a água termal era explorada neste local, mas com a vinda dos mineiros e a exploração do carvão, as nascentes deixaram de jorrar água. Um século depois, com o encerramento das minas, surgiu a oportunidade de aproveitar os gases da montanha.
Rotas para todos os gostos
Mas no encontro Cafés of the Europe estavam representantes de 36 países e alunos do curso de Termalismo da ETEO. Além de termas falou-se de outras rotas, como a cerâmica.
Oriol Vergés, director do Museu del Cantir, em Argentona (Espanha), recordou a criação do Grupo Europeu de Cooperação Territorial das Cidade Cerâmicas, em 2014. “Não somos as cidades com grandes fábricas, mas sim as que têm tradição”, esclareceu, informando que “Portugal interessa-nos porque a cerâmica aqui é muito importante”.
O grupo reúne cerca de 30 cidades em Espanha, perto de 40 em Itália, 14 na Roménia e 20 em França. Em Portugal há 14 cidades, lideradas por Caldas e Mafra, que se irão juntar ao grupo, “graças a pessoas como o José Luís de Almeida Silva”, director da Gazeta das Caldas, que moderou a sessão e recordou a criação das rotas da cerâmica, em 2002, que envolveu mais de 300 parceiros (empresas, autarquias, museus, escolas e outras).
Outra rota apresentada foi o Caminho de Santiago, que no último ano recebeu mais de 278 mil peregrinos (um aumento de 6% face ao ano anterior) de 146 nacionalidades.
Laura Gonzalez, especialista em Projectos Europeus, disse que o caminho português é o segundo que mais peregrinos faz chegar a Santiago e que foi o que mais cresceu. “Estamos muito interessados em promover o caminho português porque achamos que é o que tem maior potencial de crescimento”.
