Caldense integra projeto de língua gestual no Serviço Nacional de Saúde

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Hugo Alves é um caldense na primeira linha do combate à pandemia: intérprete de Língua Gestual Portuguesa, integra a equipa que assegura o canal de comunicação destinado à comunidade surda

Filho de pais surdos, Hugo Alves desde cedo se confrontou com questões relativas à comunicação. “A língua gestual é a minha língua materna”, assume o caldense, que integra, desde abril, a equipa do sistema de tradução que garante a comunicação com cidadãos surdos, desenvolvido pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), em parceria com a Federação Portuguesa das Associações de Surdos.

Caldense explica que a língua gestual é a língua materna, dado que os pais são surdos

Depois de se licenciar em Interpretação de Língua Gestual em Coimbra, aceitou um convite para traduzir aulas para surdos na ESAD durante um ano letivo e estagiou no Centro Educação e Desenvolvimento Jacob Rodrigues Pereira, uma escola referenciada para surdos da Casa Pia. Até que entrou no SNS, na sequência do concurso que previa a criação de um canal de comunicação direta com a comunidade surda em tempos de pandemia.
“O projeto já era para ter avançado antes da covid-19, mas com a pandemia veio a confirmar-se, ainda mais, a necessidade desta resposta”, explicou Hugo Alves à Gazeta das Caldas.

Hugo Alves durante a realização de uma video-chamada, que permite à pessoa surda o contacto com um intérprete de Língua Gestual Portuguesa

No call center, o caldense realiza entre 15 a 20 videochamadas por dia com surdos e está na linha da frente no combate à pandemia.
“Trabalhamos com um sistema no SNS24 em que temos um computador para a videochamada e outro para entrar no sistema, podemos também contactar com farmácias ou o hospital, desde que o surdo nos solicite”, explica o intérprete de língua gestual, que classifica este projeto como “um desafio muito grande”, até porque os números mais recentes estimam que existam cerca de 300 mil surdos no nosso país.

Projeto no SNS24 permite dar acesso à informação à comunidade surda

“É muito gratificante para nós e para a comunidade surda. É um direito deles, que, finalmente avançou, pois garante o acesso à informação e acesso à saúde”, resume Hugo Alves, de 24 anos, que estudou na Raul Proença e tem uma irmã mais velha que é professora e também utiliza a língua gestual em atividades com crianças.
No futuro, Hugo Alves quer continuar a valorizar-se profissionalmente e tem o mestrado no horizonte, sendo certo que o trabalho em prol da comunidade surda é uma prioridade, até para continuar a ser um “motivo de orgulho” para os pais.
“Não sei o que o amanhã me reserva, mas sei que gostaria de continuar aquilo que estou a fazer, sempre com o foco de servir a comunidade surda”, remata o jovem, que se habituou a superar obstáculos. Até no desporto, dado que praticou futebol no Nadadouro, ténis de mesa no Sp. Caldas e atletismo no Arneirense. ■

Visita de uma task force do Ministério da Saúde, com António Lacerda Sales, ao espaço onde funciona o canal de comunicação destinado à comunidade surda