Quando uma câmara frigorífica de fruta se transforma numa casa

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Na sua horta onde aposta forte na produção biológica |Natacha Narciso

Luís Félix é do Vau (Óbidos) e tem uma habitação especial. Decidiu transformar uma grande câmara frigorífica, que antes servia para armazenar fruta, na sua própria casa.
Possui 90 metros quadrados e as paredes em pladur permitem as reconfigurações que o proprietário desejar. O autor desta casa original quer continuar a desenvolver o seu projecto habitacional que inclui uma horta biológica com o dobro da área do seu lar.

Luís Félix, 47 anos, tinha uma grande câmara frigorífica desactivada onde a sua família armazenava frutas. Há quatro anos pensou em transformá-la no seu lar. Tirou proveito da luz natural e do próprio isolamento da câmara, que mede 90 metros quadrados e foi toda forrado a pladur. É uma casa modular, ou seja, se for desaparafusada a parede central, que é também feita em pladur, “pode ficar com apenas uma única e ampla divisão”, explicou o proprietário. Neste momento possui um quarto e duas casas de banho e a sala e a cozinha estão juntas. O quarto mede 20 metros quadrados (um closet com cinco e uma casa de banho com 7,5 metros quadrados).
“A casa comporta-se muito bem termicamente por causa do isolamento da própria câmara frigorífica”, diz Luís Félix. No entanto, foi necessário investir em vidro e janelas de qualidade.
A sua lareira, aquecida a biomassa, tem recuperador de calor e o aquecimento é feito com auxílio de uma bomba que lança a água quente pela tubagem da casa, onde circula aquecendo todo o ambiente.
“Não recorri a nenhum projecto, fiz a minha própria maqueta”, disse, mostrando à Gazeta das Caldas, as diferentes fases de construção. A primeira já está concluída e Luís Félix pretende no futuro criar um piso superior com mais quartos. No terraço quer colocar painéis para reaproveitamento de energia solar, em “benefício da sustentabilidade da própria casa”, explicou.
“Se eu construísse de raiz teria que gastar o dobro do dinheiro”, disse o empresário, que ainda assim  investiu em bons materiais como os vidros, as janelas e o chão, em soalho flutuante. “A ideia era apostar no conforto sem gastar demasiado dinheiro”, disse Luís Félix acrescentando que esta transformação (incluindo o custo dos materiais) rondou os 200 euros por metro quadrado. “Se fosse uma casa de raiz custaria 600 euros por m2 pelo menos”, disse Luís Félix que é também o responsável pela decoração da casa. Esta possui o mínimo indispensável para o seu conforto e das suas duas filhas, de 12 e nove anos. As práticas sustentáveis estendem-se à limpeza da casa. Não são usados produtos químicos agressivos, mas sim detergentes naturais.
Horta biológica em nome da saúde
Formado em Comunicação Social, Luís Félix trabalhou em jornais e em gabinetes de imprensa. Agora dedica-se à agricultura biológica e a práticas sustentáveis. Na sua horta, de 180 metros quadrados, Luís Félix passa parte do seu dia-a-dia. Nela produz tomate, couve roxa, alface, pepino, pimento, cebola, curgetes, alho francês, nabos, nabiças, alhos, morangos, favas e ervas aromáticas. Para assegurar alguma produção no Inverno, mostra à Gazeta das Caldas a última criação: uma estufa, que já está cheia de pequenos rebentos.
Mas há também uma aposta nos micro-vegetais. Luís Félix usa sementes biológicas e produz rebentos dos chamados super-alimentos “por terem uma grande concentração de nutrientes”. Está agora a produzir nabiças, nabo, beterraba e rúcula.
Os restos da comida são colocados no compostor, onde são transformados em fertilizante que depois são usados  para adubar a sua horta. “Não uso pesticidas nem herbicidas”, garantiu.
Em breve vai adquirir galinhas e aproveitar os ovos para a alimentação da casa. O reaproveitamento de uma jante de um pneu de camião será aproveitada para ser uma braseira que vai ser colocada na horta. Será criado um canto de lazer com cadeiras e mantas para “estar junto à fogueira a beber chá”, disse o agricultor, que tem uma planta de lúcia-lima da qual retira as folhas para fazer um saboroso chá.
Além das galinhas quer adquirir um casal de periquitos que vão aprender a andar à solta na horta e que irão à gaiola dormir. Luís Félix tem ainda em mente desenvolver workshops para crianças relacionados com a horta e com a natureza.