«Futebol a sério» de Carlos Daniel

0
907
notícias das Caldas
| D.R.
- publicidade -

Na página 50 deste livro o nome do jogador Álvaro Cardoso (1914-2004) surge errado (Correia em vez de Cardoso) confirmando uma ideia estabelecida há muito em Portugal: ser diferente já é mau, ser superior é ainda pior, ser do Sporting Clube de Portugal é o pior de tudo. Ainda o autor deste livro (Carlos Daniel) não tinha nascido (1970) já Figueiredo estava proibido de substituir José Torres (com injecções de novocaína) em Inglaterra (1966), tal como em 1986 Manuel Fernandes foi excluído da selecção nacional no México, do mesmo modo que Paulo Alves em 1996 e Adrien em 2016 não contam para a chamada «equipa de todos nós».

O autor apresenta-se deste modo: «Gosto demasiado de futebol para o reduzir a ciência, mas também o aprecio em demasia para desprezar o quanto se estuda sobre ele.» O próprio título do livro («Futebol a sério») sugere uma atitude e apela a um princípio («No futebol de hoje a guarnição comeu o bife») mas na página 141 aparece uma aparente contradição: «Portugal perdeu o apuramento para o França/98 quando um árbitro francês chamado Marc Batta fez o que pôde e a falta de vergonha lhe consentiu para que a Alemanha – que seria eliminada – não faltasse ao Mundial francês.» A relativa contradição continua nas referências a Bill Shankly pois na página 29 se copia uma das suas frases («O futebol não é uma questão de vida ou de morte mas algo mais importante do que isso») e na página 117 se relativiza tudo: «Afinal Shankly estava enganado: o futebol é muito menos que uma questão de vida ou de morte». Pelo meio uma das frases mais emblemáticas do treinador oriundo de um país que só foi campeão do Mundo na única vez em que organizou a prova: «O problema dos árbitros é que eles sabem as regras mas não conhecem o jogo».
Na página 67 aparece a palavra «rival» em vez de adversário, na página 32 onde está Jorge Nuno Coelho é João Nuno Coelho, na página 288 é bem «A.C.» em vez de «a.C.» e na ficha de Guttmann talvez se justificasse uma referência ao trabalho feito no clube Lanerossi (Itália).
O que mais encanta neste livro é a possibilidade de o ler como um romance; bastaria a página 113 com o guarda-redes Duckadam a receber a visita inesperada de uns torturadores que lhe partiram os dedos da mão direita por causa dos ciúmes de Valentim Ceausescu.
Livro dedicado ao pai do autor (Ao meu pai, tudo isto lhe devo) acaba por ter outro destinatário na página 292: Este livro é para ti, Zé Maria, «o guarda-redes que voava». Mas nos agradecimentos um comovido aceno a dois irmãos (Miguel e Flávio) repetindo o que eu tenho intuído desde 1978 quando comecei a escrever sobre livros nos jornais: a literatura é o amor em palavras que faz juntar de novo tudo o que a morte separou.
(Editora: A Esfera dos Livros, Coordenação Editorial: Jorge Reis-Sá, Prefácio: Fernando Santos)

Noticias das Caldas
| D.R.
- publicidade -