Nadadouro e Torres Vedras. São estes os principais destinos eleitos pelos jovens caldenses para fazer a festa do Carnaval. Alcobaça e Nazaré também entram no mapa da folia, embora não tenham a mesma popularidade. Nas Caldas destacam os dias de corso (há juventude que participa todos os anos), mas a maioria diz que não existe tradição nem animação que os prenda à cidade nas noites de Carnaval.
Pela proximidade, o Carnaval do Nadadouro costuma ser a primeira experiência dos jovens caldenses. Primeiro acompanhados dos pais, depois já com o seu grupo de amigos. Quando a discoteca Green Hill ainda estava aberta também era paragem obrigatória para esta festa. Quem não se lembra das músicas brasileiras que animavam a pista um toda a noite? Para muitos adolescentes as noites de Carnaval na Green Hill coincidiram mesmo com a sua primeira ida à discoteca.
Mas já sem esta opção, os jovens vivem as noites de Carnaval no pavilhão do Nadadouro. Alguns fazem ainda um desvio até à Praça 5 de Outubro. É o caso de Marisa Feliciano e das amigas. “Para nós o Carnaval tem que ser passado na região, já tentámos ir a outros lados mas nunca encontrámos o mesmo brilho. Normalmente começamos no bar Daiquiri e depois seguimos para o Nadadouro. É receita certa para uma noite bem passada”, conta a caldense de 21 anos.
Para Marisa Feliciano e as amigas parte da experiência do Carnaval começa um mês antes. É quando põem mãos à obra para fazerem os fatos. São sempre quatro, um por cada dia, e de preferência o mais originais possível.
Já se mascararam de peças Lego, borboletas, unicórnios e morangos. “Para nós é tão divertido fazer os fatos como usá-los. É toda a preparação e o stress daqueles dias que tornam o Carnaval tão mágico!”, diz a jovem, realçando que “apesar da ginástica financeira ser grande, acabamos sempre por conseguir materiais baratos ou aproveitar coisas que tenhamos em casa”.
O hábito de fazer os fatos em vez de comprá-los ou alugá-los é cada vez mais comum entre os jovens das Caldas. Basta reparar na afluência que têm as lojas de tecidos por esta altura.
Também o grupo de Margarida Nobre e Rita Andrade faz questão de elaborar os disfarces do zero. Quanto menos peças comprarem já feitas, melhor. É esse o lema.
Tinham 15 anos quando festejaram juntas o primeiro Carnaval. Foram ao Nadadouro mascaradas de Teletubbies. “Esse fato foi feito por uma costureira, mas como ficou caro, quase 30 euros, optámos por passarmos nós a confeccionar os seguintes”, afirmam. Seguiu-se anos 50, ursinhos carinhosos e este ano o jogo do Pacman. “Procuramos sempre algo diferente e que ao mesmo tempo se adapte ao conceito de grupo”, conta Margarida Nobre, que garante que sai mais barato fazer do que comprar os disfarces. Este ano cada uma das amigas gastou 14 euros para dois conjuntos.
“A Rita corta, eu coso. É uma parceria”, brinca Margarida, que embora não tenha conhecimentos de costura aprendeu a desenrascar-se com a máquina da tia graças a todos os vídeos que viu no Youtube. “Juntamo-nos em minha casa, numa sala que durante o ano está praticamente fechada, mas que chega esta altura e é tecidos por todo o lado. Pomos música de Carnaval e entramos logo no espírito”, revela.
CONCEITO DO NADADOURO ESTÁ SATURADO
Há quem descreva o Carnaval do Nadadouro como “o clássico” e muitos dos jovens caldenses não perdem nenhum ano, pelo menos uma das noites. Mas chegada a idade da carta de condução começam também as idas para outros carnavais, principalmente para Torres Vedras.
Na opinião de Margarida Nobre a festa do Nadadouro está “saturada e torna-se repetitiva”, com a mesma banda e o mesmo repertório há anos, de sexta a segunda-feira. “Além disso acaba relativamente cedo, quatro da manhã, e depois não temos para onde ir. Como as pessoas continuam no pavilhão às vezes geram-se confusões”, acrescenta a amiga Rita Andrade. Pede-se inovação para um conceito de Carnaval que, embora continue a atrair milhares, não cativa todos os jovens para as quatro noites.
Em Torres Vedras “é a loucura”, dizem Margarida e Rita, que nos dois fins-de-semana anteriores já marcaram presença nos “assaltos” de Carnaval e hoje arrancam para o primeiro de quatro dias de pura folia. Vão e vêm de carro, mas já chegaram a ir de comboio. “Para quem não quer conduzir é uma boa opção, os jovens têm descontos nos bilhetes e o comboio vai cheio de gente mascarada”, contam.
O especial do carnaval torreense é que a festa dura até de manhã e está em todo o lado. Em cada rua, em cada casa, em cada pessoa. Os mascarados metem-se uns com os outros e ninguém leva a mal. Pelo contrário.
A ALEGRIA DE PARTICIPAR NO CORSO
A maioria dos jovens vive o Carnaval à noite, mas também há os que incluem nos seus festejos os corsos que invadem as ruas das Caldas durante o dia. Participar no desfile de carros alegóricos é mesmo um ritual para alguns, que não abdicam desta tradição.
Amigo puxa amigo e muitos convencem outros a passar pela experiência. “Uma vez depois de irem, já não querem faltar”, garante João Pacheco, 23 anos, que por ano chega a levar 20 amigos para o corso da A.C.D.R Sto. Onofre Monte Olivett. “Participo desde os oitos anos, foram os meus pais que me puseram lá, e desde então não falho um Carnaval”, conta o jovem que descreve os desfiles como momentos de convívio, diversão e, claro está, alguns excessos.
Tiago Félix, da mesma idade, subscreve estas palavras. Desfilou pela primeira vez aos 10 anos pela Associação Asas Lobeiros, actualmente fá-lo pela Associação de Desenvolvimento Social da Freguesia de Alvorninha.
“A minha terra vive muito o Carnaval e as pessoas mais velhas incentivam os jovens a integrarem os corsos. Foi assim comigo”, revela, acrescentando que dentro do grupo não há distinção de idades.
Tiago orgulha-se do facto da Associação se fazer representar com mais de 100 pessoas no corso de Carnaval, metade jovens. “Se calhar por sermos uma freguesia rural, um meio mais pequeno, isso faz com que sejamos mais unidos e gostemos tanto de participar”. Dos ensaios das coreografias, à construção do carro alegórico, aos jantares que se organizam, ao próprio desfile. “Todos estes momentos são de galhofa e até a chuva e o frio fazem parte”, acrescenta.
Relativamente ao Carnaval das Caldas, Tiago Félix gostaria que a tradição fosse a de antigamente. “Era bom que houvesse mais animação no centro da cidade além do corso e que o público que assiste aos desfiles fosse mais libertino e interagisse mais”, diz o jovem.