Cegos podem “sentir” peças do Museu de Cerâmica

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José Monteiro aprecia a estatueta Cupido, uma das dez que podem ser tacteadas por invisuais

O  Museu de Cerâmica é agora mais inclusivo. O programa “O Museu na Ponta dos Dedos”, implementado em Dezembro, permite que aquele espaço museológico abra a visitantes cegos ou com baixa visão pois oferece-lhes uma visita táctil que é complementada com materiais em Braille.
Trata-se de uma iniciativa em parceria com o CRID – Centro de Recursos para a Inclusão Digital do IPL (Instituto Politécnico de Leiria).
Este projecto beneficiou da consultadoria de Josélia Neves que é docente do IPL e pós-doutorada em Comunicação Museológica. “Estou a trazer para Portugal os ensinamentos que colhi por essa Europa fora”, explicou a docente. Na sua opinião, a arte “não se vê apenas com olhos, mas sim com o cérebro, com o coração, com os ouvidos, ou com a pontas dos dedos”.
São 11 as peças que os invisuais podem agora conhecer melhor, tais como as figuras de movimento Maria Paciência e Zé Povinho, a estatueta de Cupido e a placa Adamastor (peças em faiança de Simões de Almeida), os azulejos holandeses que revestem a lareira do Palacete Visconde de Sacavém, um fogareiro (do caldense João Reis), uma pia com garrafão e um Zé Povinho que é simultaneamente um depósito de aguardente. Há também um touro (de Manuel Mafra), uma jarra “Dança das Rãs” e um azulejo Borboleta, ambas produções da Fábrica de Faianças Bordalo Pinheiro.
A maioria das peças pertence à colecção do museu, mas há três que são réplicas pois os originais “são tão delicados ou valiosos que não se pode correr o risco de se danificarem”, explicou Josélia Neves.
Presente na abertura do “O Museu na Ponta dos Dedos” esteve o presidente da delegação local de Leiria da ACAPO – Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, José Monteiro, que classificou esta iniciativa como “muito importante para os cegos”.
José Monteiro foi dos primeiros a tocar numa das peças – o Cupido – e conseguiu identificar os vários elementos da personagem.
Na zona das Caldas há 30 invisuais, mas no país o último recenseamento identificava 163 mil. José Monteiro, que também é presidente da delegação de Leiria da associação de cegos, crê que agora este número pode ser mais elevado.
A delegação de Leiria da ACAPO possui 100 associados e o novo responsável quer iniciar uma campanha para angariação de novos sócios.
Matilde Couto, directora do Museu, estava satisfeita com esta iniciativa que vai agora permitir novos tipos de visitas temáticas. A responsável diz que o museu está interessado em arranjar dez áudio-guias, com a descrição sonora das peças. “Gostaríamos de encontrar mecenas para este projecto, que custa cerca de 20 mil euros. Os audio-guias vão permitir ao museu ser mais inclusivo e abrangente”, rematou.

N.N.