“Com esta modernização não vai ser fácil à ferrovia competir com a rodovia”

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O presidente da CP assume que até à chegada de novo material circulante, em 2024, não há alternativa aos transbordos
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O presidente da Comboios de Portugal, E.P.E. (CP), Nuno Freitas, diz em entrevista à Gazeta que a modernização da linha do Oeste pode ficar aquém do desejável e espera que o troço a norte das Caldas sofra uma intervenção mais profunda, por forma a que seja possível aumentar velocidades e ligar o Oeste ao Centro e Norte do país.

Começaram há poucas semanas as obras de modernização da Linha do Oeste, por enquanto apenas entre Meleças e Torres Vedras. O projeto executado pela Infraestruturas de Portugal (IP) corresponde às expetativas da CP?
O estudo de que sempre ouvi falar para modernização da Linha do Oeste, que datará ainda do tempo em que a CP integrava a infraestrutura, ou provavelmente dos primeiros anos da REFER, salvo erro feito pela Consulgal, previa uma modernização da via para patamares de velocidade na ordem dos 160 km/h, com o objetivo estratégico de permitir ao comboio concorrer com o transporte rodoviário. Estamos a falar de uma infraestrutura que passa por uma área economicamente muito desenvolvida, que passa no centro de muitas localidades importantes e que termina no centro da cidade de Lisboa, pelo que a opção me parecia correta. Entretanto, por razões que desconheço, verifiquei que o projeto foi revisto em baixa e é claro que, com estes novos padrões, não vai ser fácil à ferrovia competir com o modo rodoviário. Contudo, é justo dizer que há uma grande melhoria em relação à situação atual.

Quando tudo estiver terminado o que vai mudar na oferta da CP nesta linha?
Com esta modernização, a oferta da CP vai ficar limitada à capacidade de uma via única. A CP poderá fazer dois comboios por hora em cada sentido, um inter-regional e um regional. É possível, ainda, que possamos tentar estender o urbano que termina em Meleças até ao Sabugo [concelho de Sinta]. Contudo, tem de ser ainda avaliada a procura potencial, a capacidade da infraestrutura e a disponibilidade de comboios. Neste caso, precisaríamos também de plataformas com 220 metros de comprimento e não de 150 metros como está previsto. Considerando as condições existentes, penso que dificilmente poderemos ir com os suburbanos além do Sabugo.

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Que tipo de material circulante irá operar na linha?
É, efetivamente, mais um problema igual ao da Linha do Minho. Até à chegada dos 22 comboios que a CP encomendou à Stadler, e que não deverão chegar antes de 2024, não restará alternativa a não ser usar as UTE2240 [Unidades Triplas Eléctricas] e, eventualmente, locomotiva e carruagens para o Inter-Regional. Temos de avaliar que otimizações conseguiremos fazer para encontrar as composições necessárias. Dada a situação de escassez do parque da CP, vamos ter de ser muito criativos.
Tendo em conta o histórico dos projetos do Ferrovia 2020, que estão com uma média de dois anos e três meses de atraso, acredita que a linha estará modernizada em 2023?
Sim, penso que sim

No entretanto, o que vai mudar na linha do Oeste? Vão manter-se os transbordos nas Caldas da Rainha?
Até à chegada das Stadler, não há alternativa aos transbordos na Linha do Oeste.

Está prevista alguma oferta especial para S. Martinho do Porto durante o verão?
A CP está a trabalhar para ter uma oferta especial para a zona balnear de S. Martinho do Porto durante o verão, utilizando as automotoras UTD592 [Unidades Triplas Diesel].

Na perspetiva da CP, como deverá ser projetada a modernização do troço Caldas da Rainha-Louriçal e a articulação com a Alta Velocidade em Leiria? 
Com a ligação da Linha do Oeste à nova Linha de Alta Velocidade, considero que deveria ser pensada a tal via dupla com parâmetros de infraestrutura uniformizados para 140 a 160 km/h. Desta forma, seria possível ligar esta importante região ao Norte do país de forma muito competitiva. Passar-se-ia a andar depressa na Linha do Oeste e muito depressa na Linha de Alta Velocidade. Esta é uma região muito dinâmica e com muitas relações comerciais e industriais com o Porto, Coimbra, Aveiro e Braga. Seria uma pena para a ferrovia ficar de fora dum mercado com enorme potencial. ■

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