As condutas da água escondem minerais oxidados que, quando entram em contacto com o ar, se desprendem e são arrastados pela água, conferindo-lhe uma cor castanha pelo ferro e manganês. A água cumpre os requisitos, dizem as análises. Mas tendo em conta as queixas e fazendo um trabalho de prevenção, os Serviços Municipalizados mandaram limpar entre 15 a 20 quilómetros de condutas na cidade.
Gazeta das Caldas acompanhou a limpeza de duas delas, um trabalho feito por uma empresa caldense que usa uma tecnologia inovadora: ao invés de químicos, injecta ar hospitalar comprimido.
Um reboque fechado, com uma mangueira ligada a uma conduta e a fazer estranhos sons, como se de uma bomba de ar se tratasse. Eis ao que se resume esta forma inovadora de limpeza das condutas de água efectuada pela empresa caldense Manusystems, que a 12 de Dezembro de 2013 foi notícia na Gazeta das Caldas.
Escolhido o ponto de entrada de ar, é ligada uma mangueira a uma conduta. É por aí que irá ser injectado o ar comprimido produzido dentro de reboque. No seu interior, tecnologia de ponta consegue produzir ar com qualidade hospitalar, ou seja, um ar puro que possa ser bombeado para o interior das condutas de água sem provocar infecções.
A limpeza processa-se através da injecção descontínua de ar, com uma pressão constante. Quando o ar é injectado, forma-se uma bolha entre a água que passa na conduta. Essa bolha de ar faz soltar o biofilme (o conjunto de minerais que oxidam nas condutas, formando uma pasta castanha) que é depois arrastado pela água que vem a seguir à bolha.
No ponto de saída, constituído por uma boca de incêndio com um óculo de visualização e uma mangueira, a água é expelida e é impressionante verificar aquilo que sai das condutas. O castanho escuro e denso vai dando lugar a uma água ligeiramente amarelada e no fim do processo ao precioso líquido transparente e límpido.
Nalguns casos usa-se uma caixa de saída para impedir a projecção de objectos, como pedaços de betão provenientes de rupturas nas condutas, ou outros.
Quando a água começa a ficar mais próxima do ideal, os técnicos analisam a sua turvação e a eventual presença de partículas. A água que é ejectada é encaminhada para o esgoto, sendo depois tratada na ETAR das Caldas.
Resta dizer que procuram injectar o ar no ponto mais baixo, porque este tem tendência a subir e assim obriga a menos esforço.
FERRO E MANGANÊS SÃO PROBLEMA
Este método de limpar as condutas de água é mais caro do ponto de vista económico imediato, mas mais eficaz e seguro porque não adiciona qualquer produto químico. Além disso, reduz o desperdício de água quando comparado com uma limpeza sem ar. O risco de rebentamento, assegura Dina Soares, da empresa, “é nulo”. A limpeza custa entre 1 e 2 euros por metro linear de conduta, consoante a extensão, o diâmetro e o material da mesma.
Nas Caldas o grande problema é a presença dos minerais ferro e manganês, que vão oxidando e formando a tal pasta castanha.
Ainda assim, este não é dos problemas mais graves, faz notar Dina Soares. É que há bactérias que não dão cor à água, mas causam reacções adversas às pessoas, como indisposições, vómitos ou diarreias.
Na terça-feira, 8 de Novembro, Gazeta das Caldas acompanhou a limpeza de duas condutas. A primeira, de 800 metros, entre o Cencal e a rotunda do Centro da Juventude e Silos; a segunda, de 600 metros, começava na estrada velha da Foz e ia até ao Nadadouro, junto a uma urbanização que tem estradas e passeios, mas não tem casas. A primeira, de fibrocimento, é mais porosa, o que leva a que a limpeza demore mais tempo. A segunda, de PVC, larga mais facilmente o biofilme.
EXCESSO DE PRESSÃO CAUSOU ÁGUA TURVA
A periodicidade de limpeza é a que as necessidades ditarem. Por exemplo, a primeira conduta que acompanhámos nesta reportagem havia sido limpa há três anos, mas a segunda nunca tinha sido. A de saída do reservatório do Ameal é sempre alvo de limpeza. Apesar de também terem sido registadas queixas, o município de Caldas é o único que faz um trabalho preventivo. “Tal como em 2013, continua ser uma excepção a nível nacional”, afirmou Dina Soares, para quem nem todas as câmaras municipais têm os mesmos cuidados que a das Caldas.
Esta empreitada, que custou aos Serviços Municipalizados 20 mil euros, demorou dez dias úteis, e foram limpos entre 15 a 20 quilómetros de condutas.
No fim de Outubro vários caldenses queixaram-se de água turva nas torneiras das suas casas. Em comunicado, os SMAS de Caldas explicaram que o incidente se deveu a “um refluxo resultante da limpeza de biofilme” que, por excesso de pressão, entrou na rede água de abastecimento público.
O caso teve também repercussão na última Assembleia Municipal com um munícipe e um deputado a abordarem o assunto. O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, esclareceu que “entrou uma bolha de ar comprimido nas condutas que estavam abertas e houve um refluxo quando se abriram as torneiras, saindo água suja”, informou.
O edil revelou também que já foi adjudicado o concurso para cadastrar e avaliar o estado da rede, num investimento superior a 300 mil euros.
Manusystems – a empresa caldense que já vende serviços no Brasil e no Médio Oriente
Em Portugal os principais clientes da Manusystems continuam a ser as autarquias, as entidades gestoras de água e as comunidades intermunicipais.
Há três anos, em entrevista à Gazeta das Caldas, os responsáveis da empresa apontavam já ao mercado espanhol, que é hoje o melhor cliente externo. Esta firma, que tem sede na Zona Industrial, também faz trabalhos no Brasil e no Médio Oriente, onde tem actualmente uma equipa no Kuweit.
Ao contrato de limpeza e manutenção dos reservatórios do Jumbo, juntou um contrato do mesmo tipo para os 178 estabelecimentos da Sonae, que levou à abertura de uma delegação na Maia (2015).
A facturação cresceu de 533 mil euros no último ano, para os 746 mil até Outubro de 2016. Os mais de 20% de crescimento provém do mercado externo.
A empresa conta com 11 funcionários.
A patente desta tecnologia foi desenvolvida pela Hammann, uma empresa alemã, da qual a empresa caldense Manusystems tem a representação exclusiva em Portugal.


O antes e o depois da limpeza. A água começa por sair castanha e acaba transparente.