TIAGODUARTEISAURA
Tiago Rocha e Duarte Dias com a vendedora Isaura |Beatriz Raposo

Têm vinte e poucos anos e vão pelo menos uma vez por semana à Praça da Fruta. Conhecem pelo nome os vendedores das bancas onde costumam comprar os legumes, as frutas, os frutos secos, os queijos, o pão. Dizem que estes produtos são mais baratos e frescos que os do supermercado e apelam a que mais jovens façam compras no mercado diário das Caldas da Rainha.
São a nova geração de clientes da Praça que se preocupa com a alimentação e prefere contribuir para a economia local do que dar dinheiro às grandes superfícies.

Cogumelos, cenouras, pimentos, tomates, alface, agrião e brócolos. Foram estes os produtos que Teresa Valadares, 22 anos, comprou a semana passada por três euros e tal. Embora seja caldense e se lembre bem de em pequena acompanhar a mãe nas suas idas à Praça, só há três anos é que Teresa passou também a ser cliente.
Foi desde que se mudou para a Lisboa, para frequentar a licenciatura em Enfermagem, que a jovem decidiu também mudar a sua alimentação, substituindo gradualmente os hidratos de carbono (como o arroz e a massa) por legumes. “Acontece que comecei por comprar os vegetais e frutas no supermercado em Lisboa e reparei que me saía um bocadinho caro. Em alternativa passei a fazer compras na Praça ao fim-de-semana e depois levava os produtos comigo para o resto da semana”, explica Teresa Valadares, salientando que quando comparou as duas experiências – Praça da Fruta e supermercado – chegou a uma conclusão. “No nosso mercado, além de gastar menos dinheiro, conseguia alimentos muito mais saborosos”. De tal forma que muitas vezes mesmo os legumes crus (sem serem sequer cozinhados)  são cheios de sabor.

Não é que na maior parte das vezes os produtos das grandes superfícies não sejam até mais apetitosos aos olhos. “Mas serem mais bonitos não faz deles mais gostosos”, realça Teresa, que prefere fazer compras na Praça durante a semana para evitar a confusão de sábado de manhã. Esta é, aliás, uma preferência que a maioria dos jovens clientes manifesta ter.
Quando vem à Praça da Fruta, Teresa já não vem acompanhar a mãe. Agora também ela é compradora e inclusive criou o hábito de dirigir-se sempre às mesmas bancas. Entre os produtos que mais compra destaca os brócolos, a couve-flor, o tomate, os pimentos, os cogumelos, a curgete, o chuchu, as cenouras, as maçãs e as laranjas. Sem esquecer os frutos secos, as sementes, a fruta desidratada, o queijo-fresco e o mel biológico. Às vezes também leva fruta tropical, que, tem consciência, “provavelmente vem do mesmo sítio que a do supermercado”.
Sobre a qualidade dos produtos da Praça, a jovem diz acreditar que “são melhores e mais saudáveis porque são produzidos em menores quantidades, pelo que não levam tantos químicos como os que são produzidos à escala industrial”. Quanto à variedade, Teresa Valadares realça que é maior que nas grandes superfícies e que existe mais oferta relativamente aos novos “super-alimentos”, como a quinoa ou o bulgur (cereal), que não se encontram facilmente nos supermercados.

CONTRIBUIR PARA A ECONOMIA LOCAL

É com Caril, o seu cão de estimação, que Laura Figueiras mais gosta de vir fazer compras à Praça da Fruta. Com 24 anos, a jovem mudou-se para as Caldas em 2009 para estudar Artes Plásticas na ESAD. O carinho pelo mercado caldense, contudo, tem mais que sete anos.
“Em criança vinha com a minha avó de Aveiras de Cima à Praça, por isso não foi uma novidade quando aqui cheguei”, conta. Quer pelos preços como pela qualidade dos produtos, a Praça sempre foi a sua primeira opção relativamente aos supermercados.
A estes dois motivos junta-se uma terceira razão: “tenho o dever de contribuir para ajudar estes pequenos vendedores e produtores, de forma a que as grandes superfícies não tomem a liderança”, acrescenta.
As frutas e os legumes da dona Sandra e da dona Isaura, assim como os frutos secos, os chás e as sementes do senhor Dinis são os produtos que habitualmente leva para casa ou para o Raízes, restaurante onde trabalha.
É também na Praça da Fruta que Laura encontra o que agora é raro nos hipermercados: aqui ainda é possível comprar as nozes, as amêndoas, as tâmaras ou os amendoins avulso, escolher a quantidade que se quer e não as gramas que o pacote determina.
Embora não seja vegetariana, Laura reconhece que a Praça oferece uma enorme diversidade de alimentos principalmente para quem pratica uma alimentação à base de vegetais. Ainda assim, “não podem ser apenas os vegetarianos a dar continuidade ao mercado, mas sim os jovens em geral. Incluindo aqueles que hoje em dia têm preguiça de acordar cedo para vir de manhã à Praça, optando pelos supermercados por ser mais prático”.

“NA PRAÇA SINTO-ME EM CASA”

Duarte Dias, caldense de 23 anos, vem diariamente à Praça há três anos, altura em que saiu de casa e começou a ganhar a sua independência. Tal como a amiga Laura Figueiras,  opta por fazer compras no mercado para ajudar “as pessoas que têm negócios locais”. Na Praça da Fruta, sente-se em casa.
“Fui sempre bem recebido e há vendedoras que até me tratam por filho”, afirma, revelando que por ser cliente habitual e um rapaz novo em “início de vida” há delas que lhe fazem uma atenção no preço.
Couves, espinafres, gengibre, alho francês, maçãs e frutos secos são os produtos que compra com mais regularidade, mas admite que às vezes encontram-se boas surpresas. Como naquele dia em que a Dona Isaura tinha a chamada “fruta do paraíso”, bastante rara e difícil de achar.
Embora só há pouco tempo seja cliente da Praça, Duarte Dias conhece este mercado desde os tempos de miúdo, quando acompanhava os pais. Por isso mesmo viu de perto a sua transformação, actualmente com toldos coloridos e uma disposição mais organizada das bancas. Sobre a mudança, diz que tornou o espaço mais apresentável aos turistas e criou trabalho a quem faz a montagem.
“Mas isso não significa que tenha sido boa para os vendedores, que ou gastam dinheiro a contratar pessoal para montar ou carregam eles os ferros que são muito pesados”. Além disso, um processo que antigamente era simples e prático, é hoje muito mais demorado.
Na opinião de Duarte, há ainda um problema que se manteve mesmo após a modernização da Praça: continua a faltar estacionamento para os visitantes. Isto porque nem todos têm a sua sorte de morar ali bem perto.
FRUTA CULTIVADA COM AMOR

Quem também vive mesmo ao lado da Praça é Tiago Rocha, que aos seis anos ajudava a mãe a carregar os sacos, mas agora, aos 27, é cliente assíduo. “Passados estes anos vejo que o espírito do comércio local se mantém e que a Praça continua a ser um sítio onde toda a gente se conhece”, diz o caldense, que escolhe este mercado para fazer compras pois acredita que aqui encontra alimentos com melhor qualidade.
 “Muitos destas frutas e legumes foram plantadas em terrenos praticamente biológicos e certamente foram cultivadas com mais amor que os produtos industrializados”, acrescenta.
Depois de viver três anos em França – país onde os mercados de rua também são uma tradição – Tiago compreende porque encontra tantos franceses na Praça da Fruta. Estes, juntamente com os ingleses, são também novos consumidores deste mercado.
Foi precisamente em França que o jovem deixou de comprar carne (inicialmente pelo seu preço elevado), adoptando uma alimentação à base de vegetais. “Há cada vez mais pessoas preocupadas com a alimentação e isso  é bom para a Praça, que vai ganhando mais clientes que sabem que aqui encontram muita variedade”, realça, acrescentando que não há nada como acordar de manhã e ir à Praça comprar ovos, espinafres, chuchu, pepino, tomate, beterraba, beringela ou nabos, e depois voltar para casa e cozinhar uma refeição onde a frescura e o sabor transbordam do prato.