Iniciativa reafirmou a necessidade de união entre empresários, autarquias e organizações para enfrentar o futuro e tornar o Oeste numa referência em competitividade e qualidade de vida
O CCC foi, no passado dia 13 de novembro, palco do Congresso Empresarial do Oeste, o regresso dos fóruns de discussão do futuro económico da região face aos desafios do presente e do futuro. Volvidos seis anos do último congresso, seria expectável maior adesão, uma vez que a plateia do grande auditório esteve a meio gás, e graças à presença de turmas de escolas das Caldas da Rainha. Mesmo assim, os responsáveis pela administração pública, das associações de empresários e os (poucos) empresários presentes levaram algumas ilações importantes para o futuro, que se podem resumir numa sigla muito utilizada ao longo do dia, as políticas ESG (Sustentabilidade, Social e Governança).
A sessão teve a abertura de Vítor Marques e o discurso do presidente da Câmara das Caldas acabou por ser destacado, ao longo do dia, por vários oradores. O edil caldense realçou a importância da colaboração entre diferentes atores da região — empresários, autarquias e associações — para criar sinergias que impulsionem a economia do Oeste. Segundo o presidente, a integração de políticas públicas e empresariais é essencial para enfrentar temas como formação profissional, competitividade salarial, desafios tecnológicos e sustentabilidade.
“Abordar questões como a inteligência artificial e a sustentabilidade é essencial para criar um ecossistema empresarial mais forte, com empresas que possam crescer, com foco nas pessoas, e ter capacidade de atrair investimento para o nosso território”, afirmou.
Filomena Frade, presidente da AG da Federação das Associações Empresariais da Região Oeste (FAERO), enfatizou a diversidade da matriz empresarial do Oeste como um dos seus principais ativos. A dirigente associativa e empresária refletiu sobre os impactos de crises recentes, como a pandemia e a crise energética, destacando a necessidade de enfrentar problemas como a falta de habitação, a captação de mão de obra e a integração de novas tecnologias. “Entre os desafios prioritários estão a retenção de talento, a eficiência de recursos e a descarbonização”, disse.
A encerrar a sessão de abertura, Pedro Folgado sublinhou o papel central dos empresários na transformação da economia da região. Para o presidente da OesteCIM, o futuro da região depende de práticas sustentáveis e da digitalização como ferramentas indispensáveis para a competitividade. “Investir em economia verde e tecnologias como a inteligência artificial não é apenas uma necessidade, mas uma oportunidade para criar valor”, afirmou, destacando ainda o potencial de transição ambiental e digital para tornar o Oeste uma referência em inovação e qualidade de vida.
O primeiro painel do dia focou-se nas estratégias para a região, abordando questões como transições digital e verde, sustentabilidade, inovação e políticas públicas. Paulo Simões, secretário executivo da OesteCIM, abriu o painel com uma visão otimista do crescimento regional, reforçando a necessidade de transformar os desafios em oportunidades de criação de valor. “A transição digital e ambiental exige políticas públicas focadas nas pessoas e na justiça social para garantir que ninguém fique para trás”, afirmou.
O secretário executivo da OesteCIM destacou que a estratégia desta foca-se em tornar a região um território ESG — ambientalmente sustentável, socialmente justo e bem governado — enquanto aposta em ferramentas como inteligência artificial e ciência de dados para apoiar a gestão pública e a competitividade empresarial. “Não se trata apenas de competitividade, mas de sobrevivência. Precisamos de políticas públicas ágeis que integrem as inovações nos negócios, criando um território inteligente, sustentável e inclusivo”, concluiu.
A representar o Turismo de Portugal, Rui Veloso destacou o alinhamento estratégico entre as entidades locais e nacionais para consolidar o turismo como um dos pilares da economia regional. “O turismo é uma atividade de pessoas para pessoas. Criar valor com menos quantidade só é possível através de serviços de alta qualidade, o que exige formação e capacitação”, sublinhou. O dirigente enfatizou a necessidade de diversificar produtos turísticos e sofisticar as fontes de financiamento para empresas do setor.
Para falar de financiamento esteve neste painel Jorge Brandão, da comissão diretiva do Centro 2030, programa que tem uma dotação de 2,2 mil milhões de euros. Para dele tirarem partido, “é fundamental que as empresas tenham uma estratégia clara e estejam alinhadas com as prioridades regionais e nacionais”, afirmou.
Para ajudar a definir essas estratégias, o Politécnico de Leiria criou a Estrutura de Missão para o Desenvolvimento do Ecossistema de Leiria & Oeste. Agostinho Silva destacou que o programa identificou 34 vetores que “unem os dois territórios”, dos quais resultaram 20 projetos-piloto “com potencial para gerar valor”. Estes vão ser validados e, caso sejam viáveis, podem depois resultar em projetos de investimento.
As políticas ESG foram apresentadas como fundamentais para o futuro das empresas e tiveram direito a um painel próprio. Nathalia Erverdosa, consultora internacional nesta área, salientou que Portugal tem um grande desafio na implementação destas políticas que medem a atuação das empresas no campo da sustentabilidade, da responsabilidade social e da governança, sobretudo porque tem um tecido empresarial composto em larga maioria por PME’s e porque há desconhecimento dos empresários nestas áreas. A consultora realçou que estas políticas são fator de controlo de risco, que antecipam problemas, “tornando as empresas mais resilientes na crise”. “Empresas ESG têm mais reputação no mercado, têm maior controlo de custos com utilização de energias verdes e adotam políticas de recursos humanos que potenciam bom ambiente laboral e fidelização dos trabalhadores”, completou.
A certificação como empresas ESG, o que em Portugal já pode ser obtido com os projetos Empresas Turismo 360, do Turismo de Portugal, e SIBS Ecosystem, que foram apresentados por Célia Antunes, da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, e Ana Gouveia, da SIBS, vão ter uma importância crescente no futuro, nomeadamente no custo do financiamento bancário, mas também na própria sobrevivência das empresas que estejam integradas em cadeia de abastecimento de empresas maiores, que estejam obrigadas a cumprir estas políticas.
Sem elementos do Governo presentes, uma vez que se realizou, no mesmo dia, a reunião com o Fundo Europeu do Investimento, coube ao deputado na Assembleia da República e presidente da Comissão de Assuntos Europeus, Telmo Faria, encerrar o congresso.
O deputado começou por reconhecer as ameaças que o mundo enfrenta, desde a guerra na Ucrânia às tensões migratórias e económicas. Contudo, sublinhou que estes desafios podem ser transformados em oportunidades, com liderança e visão estratégica.
“O mundo sempre teve ameaças. A arte de escapar dos medos é o que nos faz crescer”, afirmou, destacando a necessidade de uma Europa mais forte e sustentável, lembrando que a transição digital e a economia verde são imperativos não apenas para a competitividade, mas para a sobrevivência.
“Nunca houve tanto dinheiro europeu disponível para investir. É hora de garantir que esses recursos sejam aplicados em projetos estratégicos que articulem inovação territorial e desenvolvimento regional”, apontou.
A ferrovia é, para Telmo Faria, uma peça-chave para esse desenvolvimento sustentável no Oeste. “É essencial para o transporte de passageiros e mercadorias, para a descarbonização e para a integração regional”, disse, defendendo que se faça com a Linha do Oeste o mesmo que trouxe a A8, uma ligação mais rápida a Lisboa por Loures, agora com a integração com o Metro Ligeiro de Superfície.
Telmo Faria apontou a necessidade de hubs de inovação territorial para que o Oeste possa competir numa escala internacional. Mas, para tal, a colaboração entre empresas, autarquias, universidades e cidadãos deve ser ampliada, adotando governança ágil. “Acredito que, se se souber discutir uma agenda ambiciosa e pôr em marcha uma metodologia diferente, que junte privado e público, podemos criar a região mais inovadora do país”, concluiu. ■
A urgência de uma visão colaborativa e sustentável
Paulo Madruga falou dos desafios que a região enfrenta
No Congresso Empresarial do Oeste, Paulo Madruga traçou um panorama incisivo sobre a região e o papel das políticas públicas regionais no desenvolvimento territorial, numa intervenção que trouxe reflexões sobre a necessidade de articulação entre os diversos atores e destacou o potencial de transformar desafios em oportunidades através de práticas colaborativas.
O professor do ISEG iniciou a sua análise comparando a região do Oeste a um “filho de pais separados”. Hoje, o financiamento e o ordenamento territorial são tratados de maneira desconexa, com interlocuções que oscilam entre a CCDR do Centro e de Lisboa e Vale do Tejo (LVT). Com o novo quadro comunitário, que se inicia em 2027, haverá uma integração total em LVT. No entanto, a simples “reunião da família” não será suficiente para haver mudanças, alertou. “Juntar atores e trazer para o terreno as ideias comuns será fundamental para enfrentar as dificuldades estruturais”, afirmou.
A análise macroeconómica de Paulo Madruga evidenciou que Portugal está entre os países da OCDE com menor desigualdade, mas não por méritos próprios. Usando as sete NUTS II como exemplo, mostrou que, enquanto Lisboa caiu de um PIB per capita superior à média europeia para um valor em linha com esta, as outras regiões pouco avançaram, perpetuando um processo de coesão não virtuoso, promovido porque “os mais fortes estão a perder força” e não o contrário, destacou.
Nas NUTS III, o cenário é “ainda mais crítico”. Regiões como o Oeste, Lezíria do Tejo e Médio Tejo, que constituem a nova NUT II, aparecem no vermelho, abaixo da média nacional e a afundar. No entanto, o Oeste apresenta um trunfo: “a sua capacidade de atrair população que contrasta com o declínio demográfico observado em outras áreas do país”, observou o especialista.
Para Paulo Madruga, o futuro da região depende de uma mudança de mentalidade. “Hoje precisamos de avaliar desempenhos pelo valor criado, e não pelas quantidades produzidas”, disse, defendendo que processos transformadores devem ser vistos como oportunidades.
Segundo o economista, “ignorar os riscos de não mudar pode ser mais perigoso do que enfrentar os desafios da mudança”. Mas deve ser assegurada “uma transição justa, que ampare as pessoas prejudicadas pelas transformações, mas sem subsidiar atividades sem futuro”.
A sustentabilidade é um desses processos transformadores e Paulo Madruga enfatizou que ela exige práticas colaborativas e a internalização de externalidades nos modelos de negócio.
“A sustentabilidade não é apenas uma palavra da moda, é uma lente que obriga a repensar atividades e valorizar o coletivo sobre o individual”, afirmou. É, então, fundamental gerar sinergias entre empresas, administrações públicas, incluindo o Estado central, e outros agentes.
“Responder a perguntas como “onde estamos?”, “onde queremos chegar?” e “como chegar lá?” exige essas práticas de sinergia e a coragem de abandonar modelos ultrapassados”, concluiu. ■