A Cooperativa que nasceu no pós-25 de abril e que detém o jornal Gazeta das Caldas é a quinta maior do país na área da Cultura, segundo estudo da CASES
A Cooperativa Editorial Caldense, que detém o título do jornal Gazeta das Caldas, é a quinta maior cooperativa do país na área da Cultura.
A informação consta no relatório da CASES (Cooperativa António Sérgio para a Economia Social), “As 100 maiores Cooperativas 2021”, onde estas são analisadas e ordenadas por volume de negócio.
A mesma publicação apresenta as cinco maiores cooperativas por ramo e é aí que aparece a cooperativa que detém a Gazeta das Caldas, com um volume de negócios de 367 mil euros em 2021 e com 11 trabalhadores (nesse ano). É a quinta maior cooperativa do país no ramo da Cultura, que é liderado pelo Instituto Nossa Senhora da Encarnação Cooperativa de Ensino e Cultura. Fundado na Benedita, em 1964, é responsável pelo Externato Cooperativo da Benedita e tem um volume de negócios de 2,5 milhões de euros. Na Cultura, destaque para a Pro Nobis – Cooperativa de Actividades Artísticas, o INAC (Instituto Nacional de Artes do Circo) e a Companhia de Teatro de Almada, que completam as 5 maiores.
Uma filha da Liberdade
A Cooperativa Editorial Caldense foi fundada, formalmente, com a escritura de constituição no Cartório Notarial no dia 30 de janeiro de 1975, nas Caldas, mas esse momento foi antecedido de um percurso de discussão e debate para a criação de uma empresa cultural sem fins lucrativos e na qual pudessem participar todos os interessados. Dessa discussão democrática surgiu a conclusão de que a Cooperativa seria o melhor estatuto, numa escolha que se revelou acertada, visto que há quase meio século se mantém.
Mas antes de tudo isso, o jornal, que foi fundado em 1925, havia sido tomado após a Revolução dos Cravos, numa das poucas ocupações que ocorreram na cidade das Caldas.
Mas antes de tudo isso, o jornal, que foi fundado em 1925, e que em meados dos anos 30 havia sido entregue pelos fundadores a líderes locais ligados ao regime, voltou a uma direção desligada da situação, depois de uma “ocupação” que acabou em acordo com o titular do jornal, Saudade e Silva. A maioria dos ativistas que assumiram a Gazeta no pós-Revolução estava ligada ao Conjunto Cénico Caldense, que tinha a sede perto do jornal e cujo presidente era Adérito Amora, que, com Ermelinda Freitas, assumiram a direção e redação do jornal. Entretanto elaboraram-se os estatutos, aprovados em novembro. Dá-se, depois, uma polémica, com a publicação de um artigo em que se defendia Paiva e Sousa para presidente da Câmara das Caldas. Publicado no jornal, o artigo não refletia o sentir da maioria no jornal e criou uma crise interna, que levou à nomeação de uma nova comissão de direção composta por Alberto Lemos, António Avelãs, Jorge Sobral, José Luís de Almeida Silva e Teresa C. Ferreira.
Foi lançada uma campanha que de imediato juntou 180 pessoas que adquiriram títulos da cooperativa por mil escudos (5 euros, um valor que era superior a um salário médio de então) e José Luís de Almeida Silva foi escolhido em maio de 1976 para diretor interino, a pedido de Adérito Amora que não dispunha de tempo para a direção do jornal. Desde então propôs-se manter a independência em termos de estatuto editorial da Gazeta, tanto em termos partidários como económicos. É, atualmente, o diretor do jornal e o presidente da Mesa da Assembleia Geral da Cooperativa e tem uma particularidade: é que é o diretor de jornal há mais tempo em funções no país. A Cooperativa Editorial Caldense, que é uma Filha da Liberdade, e que foi constituída no espírito democrático do pós-25 de abril (como a Infancoop ou a Cooagrical), é hoje, quase 50 anos depois do seu nascimento, a quinta maior cooperativa de cultura do país.
CASES elaborou o estudo
A publicação das “100 Maiores Cooperativas”, da autoria de Eduardo Pedroso e Edna Neves, apresenta também as 5 maiores agrícolas, de artesanato, de comercialização, de consumo, de crédito, de cultura, de ensino, de habitação e construção, de pescas, de produção operária, de serviços e de solidariedade social (onde percebemos que o Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor é a quarta cooperativa do país com mais subsídios à exploração na sua área (2,4 milhões de euros).
Esta publicação das 100 maiores cooperativas é feita desde 2018. A maior é a Cooprofar – Cooperativa de Proprietários de Farmácia, que foi fundada em 1975 no Porto e que tem um volume de negócios a rondar os 318 milhões de euros, empregando 44 trabalhadores.
A maior cooperativa do Oeste é a Cooperativa Agrícola dos Fruticultores do Cadaval, que é a 18ª maior do país. O volume de negócios foi superior a 25 milhões de euros, empregando atualmente mais de 150 funcionários. Já a maior do distrito de Leiria, e segunda maior do Oeste, é a Cooperativa Agrícola dos Criadores de Gado da Benedita, que foi fundada em 1970 e que movimentou mais de 20 milhões de euros em 2021. Emprega 33 pessoas e é a 26ª maior a nível nacional. Logo a seguir, em 30º, encontramos a Frubaça – Cooperativa de Hortofruticultores que foi criada em 1988 e que tem 160 trabalhadores. Em 2021 registou um volume de negócios de 17,5 milhões e euros. A Frutus – Estação Fruteira do Montejunto é a 54ª na lista, seguida pela Cooperfrutas – Cooperativa de Produtores de Fruta e Produtos Hortícolas de Alcobaça (55º) e pela Louricoop – Cooperativa de Apoio e Serviços do Concelho da Lourinhã (57º). A Frutalvor – Central Fruteira fundada em 1993, é a 59ª maior cooperativa do país, tendo registado um volume de negócios superior a 11 milhões de euros. A Adega Cooperativa de São Mamede da Ventosa é a 63ª, a Granfer Produtores de Frutas a 72ª e a Cooperativa Agrícola do Bombarral a 87ª. A Adega Cooperativa da Vermelha é a 99ª maior cooperativa, com mais de 6 milhões de euros faturados. Dá trabalho a 41 pessoas. Juntas, as Cooperativas do Oeste presentes na listagem representaram, em 2021, um volume de negócios superior a 141 milhões de euros. São, no total, 11 cooperativas que dão emprego a mais de oito centenas de pessoas. Um dado negativo é o 0% que todas apresentam no que respeita à presença feminina na administração, algo que, entretanto, já mudou na Cooperativa Editorial Caldense.
As 20 maiores de crédito
No que respeita às 20 maiores cooperativas de crédito, encontramos a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Alcobaça, Cartaxo, Nazaré, Rio Maior e Santarém na 12ª posição, seguida pela Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Caldas da Rainha, Óbidos e Peniche, com um valor de crédito a rondar os 408 milhões de euros. A de Leiria é a 5ª maior e a de Torres Vedras a 10ª na lista, o que faz deste um distrito que se destaca. ■
Já de olhos postos no 50º aniversário
Fernando Xavier, presidente da direção da Cooperativa Editorial Caldense, realça que esta distinção “traz um sentimento de grande satisfação para a administração e para os cooperantes” e que “não é normal uma cooperativa manter-se em funcionamento durante quase 50 anos numa área tão difícil e tão sem apoios como a edição de jornais”.
“É um orgulho, quase 50 anos, sem apoios, sem grupos económicos, continuarmos a editar semanalmente a Gazeta das Caldas com a qualidade que tem”, algo que só é possível, segundo o próprio, pela equipa que tem atualmente. Ainda assim, admite, “a cooperativa tem dificuldades”, causadas especialmente pela inflação e pelo aumento dos custos de produção, que não foi imputado aos leitores e anunciantes. “Tal levou a que 2022 fosse um ano muito difícil”, reconhece. Mas esta distinção “dá-nos muita força e coragem para continuarmos e vencermos as dificuldades”. A criação de receitas extra, com a publicação de revistas e a realização de eventos é um dos grandes desafios “para mantermos viva a cooperativa e o jornal”. A reformulação do site é um dos projetos em curso, mas outras iniciativas estão a ser preparadas para festejar o centenário do título Gazeta das Caldas e o meio século de existência da cooperativa, que coincidirão em 2025. “Estão a ser preparadas as comemorações, haverá uma comissão organizadora e já estão pensados diversos eventos ao longo de todo o ano”. ■