Corridas de carrinhos de rolamentos estão novamente na moda

0
751
- publicidade -

Num dia com muita diversão, realizou-se nos Vidais a primeira manga do primeiro grande prémio, organizado em conjunto com Alvorninha, onde este sábado decorre a segunda manga

Foi com muitas gargalhadas e palmas, uma boa dose de criatividade e poucos despistes e saídas de estrada que se realizou a primeira manga do primeiro grande prémio de carrinhos de rolamento, nos Vidais, no passado sábado, no âmbito do festival Vidais ao Luar.

O evento recriou uma tradição antiga, dando a conhecer aos mais novos como eram as diversões de outrora, num dia em que crianças, jovens e adultos conviveram em festa. É, portanto, com base na brincadeira, que se criam estes momentos de aprendizagem e de partilha que vão muito além de uma corrida de carrinhos de rolamentos.

- publicidade -

Durante a manhã realizavam-se os treinos livres, com os participantes a testarem as suas invenções pelas primeiras vezes no percurso da prova. É um reconhecimento, que permite aprender as “manhas” do carro e do trajeto, mas também fazer alguns ajustes de última hora nos carrinhos. No final do treino da manhã, já depois do almoço, que se fazia nas tasquinhas dinamizadas pelas associações da freguesia, encontrávamos alguns participantes a trocarem os travões, feitos com recurso a pneus velhos cortados e, entretanto, já gastos das descidas da manhã. Em carrinhas ou nas bagageiras dos carros, mais carrinhos de rolamento vão aparecendo, com o aproximar das passagens cronometradas. Se uns apostaram tudo na performance, outros parecem mais preocupados com a vertente decorativa.

Gonçalo Custódio veio da freguesia de Alvorninha com o filho, Simão, de 16 anos, dado que este viu que ia haver uma corrida de carrinhos de rolamentos e pediu ao pai para participar. “Ele queria experimentar e eu disse-lhe que se ele construísse o carro dele, eu fazia um também para mim e vínhamos e assim foi, ele fez o dele e eu tive que fazer o meu”, conta. O seu carro levou dois dias a construir e destaca-se porque é, literalmente, uma… banheira! Cortada e virada ao contrário, com rolamentos por baixo, dois olhos e dois cornos, chama a atenção do público. Em criança Gonçalo Custódio “já tinha andado em carrinhos de rolamentos”, até porque tinham “uma descida perto de casa e juntávamo-nos os amigos da aldeia, com carrinhos rudimentares”, recorda, lembrando que iam “aos mecânicos pedir rolamentos e fazíamos os carros com madeira”. Este participante considera que “é bom para os miúdos novos aprenderem como era o antigamente e cria-se uma memória interessante em família e com amigos, é um dia bem passado”. Conta-nos ainda que “a descida é boa, dá pica a descer, porque ganhamos muita velocidade”.

O jovem Simão frisa à Gazeta das Caldas que mal viu anunciada a corrida quis experimentar porque era uma coisa diferente. Começou por desenhar o que pensava que queria que fosse o seu carro, depois “tive que mudar algumas coisas, os rolamentos saíam fora, mas agora já está melhor, a pior parte é os travões”. O processo todo levou três dias. Usou madeira de paletes e o banco de uma cadeira, dando ao seu carrinho um design inspirado nos carros de Fórmula 1, “à procura da velocidade”. Os treinos durante a manhã permitiram-lhe “aprender a trabalhar com os travões e a controlar o carro e é uma coisa fixe, que nunca tinha experimentado”, afirma. “Eu não costumo trabalhar com estes materiais, mas gosto de mexer nas coisas, viver ao ar livre, não estar nas tecnologias”, partilha o jovem que vem para se divertir, mais do que para ganhar, e que realça o espírito de amizade que se vai sentindo entre todos os participantes. Vemo-los, animados, a torcerem uns pelos outros, a ficarem felizes pelos tempos dos “adversários” e a trocarem ideias e conselhos de como melhorar a performance dos carrinhos, num espírito e ambiente de boa-disposição. É que isto não é propriamente um campeonato, embora, fique o leitor a saber que existe o campeonato nacional de carrinhos de rolamentos!

Entretanto surgem duas acusações de doping, que não podemos ignorar: uma, quando um dos participantes aplica o famoso óleo WD40 nos rolamentos e outra quando um dos concorrentes bebe uma imperial, mas nenhuma das práticas foi punida pelo júri.

André Sousa e Gonçalo Correia vieram do Casal do Rei, onde têm uma empresa que vende peças de automóveis, a Motorpeças. “Vendemos também óleos”, notam. Daí que o seu carro seja alusivo à sua atividade, com um bidon de óleo cortado a meio e uma bandeira da empresa.. Uma particularidade deste carro é que atrás do condutor vai um dispositivo de segurança de última geração: uma grade de cervejas. Quando questionados sobre as dificuldades na conceção desta viatura, referem que “havendo tonteira o resto aparece por acréscimo”. André Sousa sente que “numa época em que os mais novos cada vez mais saem menos à rua e querem mais telemóveis e computadores, esta é uma ideia muito interessante” e, reforça Gonçalo, “a população deve aderir, não é só criticar que não se faz nada, quando se fazem as coisas é preciso alinhar”.

Entretanto, paramos para avaliar o estado dos travões de um dos participantes. Este utiliza o modelo mais antigo, chamado de sola da sapatilha e já tem mais de um quarto gasta antes da final…

De Cortém vem a médica Carla Ferreira, que faz parte da associação do Grupo de Amigos de Cortém, e que é a única participante feminina. “Nós concorremos com três carrinhos que tínhamos desde 2012, de uma grande festa na aldeia”, contou. Daí para cá têm estado guardados, sendo esporadicamente utilizados para brincadeiras e manter as tradições. “Quitei este carrinho de rolamentos, que batizei de Craze 77, dado que aproveitei um carrinho de brincar de criança que estava abandonado na associação para lhe dar um ar de rally, pintei-o e coloquei enfeites tipo labaredas, coloquei uma buzina e uns “escapes”, sendo que à noite tem luzes, porque é um carrinho tuning”, explica-nos com humor Carla Ferreira, que sente que “esta é uma iniciativa muito boa, uma forma de juntar as pessoas dos vários lugares da freguesia” e as várias gerações. “Criam-se boas memórias, foi curioso ver que em dois carrinhos vinham as filhas com os pais e noutros temos meninos de 12, 13 e 14 anos a participar”, faz notar.

Ao longo da tarde vão chegando cada vez mais adeptos, que se entusiasmam com os carrinhos. Entre as passagens cronometradas e a final há uma pausa, para convívio.

Foram entregues quatro prémios. O mais rápido, que fez a descida em um minuto e 12 segundos, foi Gonçalo Custódio. O mais radical foi o da Motor Peças, enquanto que o mais ecológico foi o de José Miguel Ferreira. Por fim, o de Carla Ferreira foi o mais tecnológico.
Rui Henriques, presidente da Junta dos Vidais, lembrou que ainda nos anos 90 esta era uma brincadeira comum “para aproveitar os relevos das aldeias”. O conceito, divertido, barato e ecológico, trouxe a ideia para os nossos dias e demonstrou que “com pouco dinheiro se pode fazer algo diferenciador que une as pessoas”. O autarca notou ainda a boa relação com Alvorninha, e, dado que tinham festas em fins de semana seguidos, pensaram em criar uma iniciativa para levar as pessoas de um lado para o outro, com a primeira corrida de carrinhos de rolamentos oficial destas duas freguesias.

Este sábado realiza-se então a segunda manga, em Alvorninha, a partir das 14h00, com uma descida de cerca de 600 metros, do Casal do Souto até ao recinto do evento do Somos Alvorninha, que tem a sua segunda edição entre 27 e 30 de junho. Contará com animação de David Antunes no sábado e Quim Barreiros, na segunda-feira. No domingo há um passeio de motorizadas e são dinamizados jogos tradicionais. O evento reúne nove associações da freguesia, com um restaurante comum e tasquinhas.

O presidente da Junta de Alvorninha, José Henriques, realça que as duas juntas de freguesia têm uma boa relação e procuram dinamizar iniciativas conjuntas.
Apesar de nunca ter havido uma prova oficial na freguesia, nas brincadeiras de miúdos havia regras, “porque ninguém gosta de perder, nem a feijões”, graceja José Henriques, que recorda “o encanto de fazer os carrinhos” e o desafio de ver quem descia mais rápido.

- publicidade -