Debate com deputados sobre saúde e termalismo sem conclusões

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Só terminou às duas da manhã, mas o debate com os deputados dos partidos representados na Assembleia da República, que abriu o congresso sobre a saúde na região na noite de 18 de Janeiro, não trouxe grandes novidades e acabou sem conclusões, mantendo cada um as posições que lhes são conhecidas.
O debate foi moderado por Ana Sá Lopes, a jornalista caldense que é directora-adjunta do jornal “i”, e contou com a participação de cerca de 130 pessoas na assistência, que não se coibiram de fazer várias intervenções, interpelando directamente os deputados.
Antes do início do debate, António Curado, porta-voz da comissão organizadora, explicou a necessidade de ouvir e debater com os deputados com assento na Assembleia da República. “A questão da reorganização hospitalar e do relançamento do termalismo, são questões eminentemente políticas”, afirmou.
O médico lembrou ainda que, em Julho, quando foi discutida a petição da comissão de utentes sobre estas questões, assinada por 14 mil pessoas, os deputados do PSD e do CDS chumbaram os projectos de resolução apresentados pelo PCP e BE, que transmitiam aquilo que constava do documento.
Nessa altura, “a deputada Conceição Pereira prometeu que iria haver um novo projecto de resolução do PSD e até agora isso não aconteceu”. Apesar da pergunta directa, a deputada e vereadora na câmara nas Caldas não respondeu a esta questão. Apenas referiu que até achou a petição “pouco ambiciosa” porque entende que algumas questões levantadas não tinham razão de ser por “estarem já garantidas”.
Maria Conceição Pereira iniciou a sua primeira intervenção dizendo que a reorganização hospitalar já tinha sido iniciada no governo anterior. “A Saúde é uma das áreas onde a dívida era extremamente pesada”, referiu. No entanto, considera que, para além do carácter financeiro, é importante que a reorganização hospitalar sirva “para prestar um serviço de melhor qualidade às populações”.
Recordando que a identidade das Caldas tem muito a ver com a saúde, lembrou também que “durante muito tempo se lutou por uma primeira ampliação do hospital”, que se concretizou “no tempo do PSD”, e depois se esperou vários anos por uma segunda fase “que nunca aconteceu”.
Veio depois a promessa, do então primeiro-ministro José Sócrates, da construção de um novo hospital, no âmbito das compensações pela não construção do aeroporto na Ota. Como nada disto avançou, “o hospital tem muitas vezes falta de espaço”.

“Nada mudou alem do nome”

Para Manuel Isaac, deputado do CDS, “nada mudou” com a criação do CHO. “Mantém-se tudo igual, só mudou o nome”, entende. O deputado disse “confiar muito” no ministro da Saúde e espera que o trabalho que está a ser feito seja favorável à região. Embora seja caldense, assumiu-se como deputado da Nação. “Não estou aqui para olhar para o meu umbigo. Quem pensa que estou a defender as Caldas, desengane-se. Isto não é uma questão da saúde das Caldas ou do Oeste, é uma questão nacional”, afirmou.
Manuel Isaac é defensor da associação dos serviços de saúde. “As coisas têm que ser reorganizadas, sempre a pensar nos utentes”, disse.
O deputado do Bloco de Esquerda, João Semedo, referiu que “uma coisa é gerir bem um orçamento e outra é gerir um Serviço Nacional de Saúde, enquanto serviço de prestação de cuidados de saúde”.
Na sua opinião, “está na moda integrar unidades de saúde”, quando os responsáveis de mega-estruturas hospitalares já se queixavam da dificuldade em gerir grandes hospitais. As suas dúvidas neste género de reorganização surgem, principalmente, porque “ninguém fez um estudo sobre as suas vantagens”.
Para o deputado bloquista, “está-se a governar a olho nu, quando se deveria primeiro ter estudado os primeiros centros hospitalares”. João Semedo, que é também médico, acha que está por provar que desta forma há um melhor aproveitamento dos recursos.
Em representação do PCP, João Neves, lembrou que o PSD e o CDS votaram contra o projecto de resolução em relação à reorganização hospitalar no Oeste, por defenderem “critérios economicistas e sem ter em conta a população”. Na sua opinião, o mais importante é a garantia do acesso à saúde das populações.
João Neves salientou que as dívidas dos hospitais se devem também ao subfinanciamento destas estruturas por parte do Estado. Nos últimos anos têm sido feitos cortes sucessivos nas transferências para os hospitais.
João Paulo Pedrosa, deputado do PS, recordou que o governo anterior tinha criado o Centro Hospitalar Oeste Norte, numa lógica de colocar os hospitais de Alcobaça, Caldas e Peniche a funcionarem em rede. Na sua opinião, esse centro hospitalar fazia sentido existir. Quanto à criação do CHO, considera que se deve à inauguração do Hospital de Loures “que fez com que o Hospital de Torres Vedras perdesse importância”.
O deputado socialista defende que o CHON deveria manter-se como estava e Torres Vedras deveria juntar-se à unidade de Loures.

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“É com as pessoas que os nossos governantes se devem preocupar”

Entre as várias intervenções do público, uma das que recolheu mais palmas foi a de Pedro Coito, director do serviço de urgências do Hospital das Caldas. O médico revelou que já há doentes que deixam de ir às consultas por não terem dinheiro para pagar o transporte. Uma situação que tenderá a piorar com a concentração de especialidades nas Caldas ou em Torres Vedras. “É com as pessoas que os nossos governantes se devem preocupar”, disse.
Segundo Pedro Coito, a concentração de serviços não irá resolver as listas de espera, porque tanto o hospital de Torres como o das Caldas já têm uma grande taxa de ocupação e de procura. “Ouçam as pessoas que estão no terreno e que sabem”, em vez de pensarem apenas em “fechar para gastar menos”. O médico acha que o relatório da ARS-LVT foi feito “sem pés nem cabeça”, por pessoas que “ninguém sabe quem são”.
Pedro Coito falou no desalento dos profissionais de saúde da região, algo a que o vereador Rui Correia também abordou. “Existe um grande desânimo por parte destas pessoas que não foram consultadas e que são confrontadas com todas estas mudanças”, referiu o socialista.
Uma das intervenções mais relevantes sobre o termalismo foi a do vereador Tinta Ferreira, o qual disse que a autarquia não tem intenções de gerir o Hospital Termal e o seu património. “Não queremos ficar com a responsabilidade do património termal”, afirmou. Falando em nome da Câmara (Fernando Costa não esteve presente), defendeu que a tutela deve ser sempre da administração central.
“Só se não houver alternativa, por permanente e duradouro abandono, é que o município se verá na obrigação de ter que intervir e ter alguma responsabilidade na conversação sobre o património termal”, adiantou ainda.
A autarquia está disponível para contribuir com 150 mil euros anuais para cobrir os prejuízos na gestão do Hospital Termal e com a componente nacional de um hipotético projecto financiado por fundos comunitários para a reabilitação do património.

Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt

PS apresenta projecto de resolução na Assembleia da República

Vai ser apresentado e votado hoje, 25 de Janeiro, um projecto de resolução do PS que recomenda ao governo a suspensão do processo de reorganização dos cuidados hospitalares na região Oeste.
O documento, assinado por sete deputados socialistas, manifesta “a frontal oposição e apreensão relativamente à reorganização recentemente promovida pelo governo, fortemente contestada quer por parte das populações abrangidas, quer pelas autarquias envolvidas”.
Recordando as petições apresentadas em Julho na Assembleia da República dizem que põem em causa os impactos para as populações da criação do Centro Hospitalar do Oeste.
“Para o grupo parlamentar do PS toda e qualquer reestruturação nos cuidados hospitalares deve acautelar a articulação dos cuidados de saúde primários, continuados e hospitalares e envolver, necessariamente, as comunidades locais o que, manifestamente, não ocorreu neste processo”, refere o projecto.
João Paulo Pedrosa, que é um dos signatários, desafiou os deputados caldenses, Maria Conceição Pereira e Manuel Isaac, a votarem favoravelmente este documento.

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