Gazeta das Caldas - enfermeiros
Perto de uma centena de enfermeiros concentraram-se junto ao hospital caldense
- publicidade -

Perto de 100 enfermeiros concentram-se junto ao Hospital das Caldas na noite de 13 de Fevereiro para uma vigília de apoio aos colegas que se encontram em greve. Esta acção solidária foi convocada espontaneamente através das redes sociais. “Não há sindicatos, partidos políticos nem ordens profissionais envolvidas”, esclareceu o enfermeiro Nuno Pedro, realçando que quiseram mostrar apoio aos colegas e dizer à população que os enfermeiros “não são maus” e que estão a defender os seus direitos.

Às 19h00 começaram a chegar e foram acendendo pequenas velas que dispuseram pelo muro que dá acesso à entrada do Hospital das Caldas. Em menos de uma hora já estavam reunidos perto de uma centena de enfermeiros, em solidariedade para com os colegas que estão em greve.
De cravos brancos nas mãos e com cartazes com palavras de ordem como “De olhos bem abertos nesta luta estamos certos”, “Enfermeiros por um SNS mais justo e humano” ou “O nosso valor é a saúde e o valor de todos”, os profissionais quiseram também dizer à população que não pretendem prejudicar ninguém mas ver concretizados os seus direitos.
Nuno Pedro, enfermeiro no serviço de Pediatria do hospital caldense, considera que a opinião pública tem sido moldada pelos actores políticos em relação a esta greve. Reconhece que sempre que há um protesto deste género a “probabilidade de alguém ser lesado é grande”, mas destaca que esta é consequência de muitas outras que foram fazendo, sem resultados.
Nuno Pedro recorda que estes profissionais, que até então eram bacharéis, voltaram às escolas para licenciar-se a partir de 2001, com a promessa de um vencimento de enfermeiros licenciados, o que não aconteceu. Para além disso, os vários graus de carreira foram revogados em 2009, cingindo-se a apenas dois: enfermeiro e enfermeiro principal. “Fiz a minha licenciatura em 2004, em 2011 fui aumentado 50 euros e agora a ministra veio dizer que nesse ano todos os enfermeiros foram aumentados 200 euros, o que não corresponde à verdade”, diz Nuno Pedro.
O enfermeiro diz que reclamam um vencimento adequado à formação que possuem e a diminuição da idade de reforma. Destaca que os valores apresentados pelos sindicatos são para serem discutidos e lamenta a falta de negociação por parte do governo.
“Eu sou enfermeiro especialista e paguei do meu bolso 10 mil euros, no mínimo, em formação”, disse, acrescentando que esta valorização profissional não é para benefício próprio, mas para prestar melhores cuidados à população.
Este profissional duvida que os cuidados mínimos não tenham sido cumpridos e espera que esse assunto seja esclarecido em tribunal, tal como acontece com a legalidade das campanhas de financiamento colaborativo (crowdfunding) para financiar a greve. Nuno Pedro acredita que sim, tal como na “honestidade” da origem do valor angariado, de mais de 784 mil euros. E exemplifica: “no meu serviço os 24 enfermeiros quase todos disponibilizaram 20 ou 30 euros, mas existem 42 mil enfermeiros no SNS”.

“Há união e que não vamos desmobilizar”

- publicidade -

A vigília, convocada espontaneamente através das redes sociais, é apartidária e não envolveu sindicatos nem ordens profissionais, disse o enfermeiro especialista, acrescentando que quiseram mostrar à população e aos colegas em greve que “há união e que não vamos desmobilizar”. Nuno Pedro defende que a luta deverá continuar até que “haja negociações sérias por parte do governo e que estas se traduzam em algo que realmente os enfermeiros desejam”.
A concentração movimentou cerca de um terço dos enfermeiros que prestam serviço no Hospital das Caldas da Rainha, uma das três unidades do Centro Hospitalar do Oeste, que no total emprega cerca de 600 profissionais de enfermagem.
A greve dos enfermeiros abrangeu inicialmente sete hospitais, aos quais se juntaram depois mais três. Depois de vários responsáveis hospitalares terem manifestado que os serviços mínimos não estavam a ser cumpridos, o governo aprovou a requisição civil, que passou a funcionar no Centro Hospitalar Universitário de São João, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Centro Hospitalar Tondela -Viseu e Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga.
Entretanto, na passada sexta-feira, o Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República emitiu um parecer onde conclui que a greve decretada para os blocos operatórios em Novembro e Dezembro do ano passado é ilícita por ter decorrido de forma diferente do que estava previsto no aviso prévio. Também ilícito é o fundo usado pelos enfermeiros para compensar a perda de salário porque não foi constituído nem gerido pelos sindicatos que decretaram a paralisação.
Como reacção, o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor) já manifestou que só os tribunais podem proibir o direito à greve e pediu aos enfermeiros para não se deixarem intimidar e continuarem a cumprir os serviços mínimos. Já a Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) pede para que a greve nos blocos operatórios seja suspensa de imediato, dadas as ameaças de marcação de faltas injustificadas a quem faz greve.

- publicidade -