Ensino doméstico é um desafio que está a conquistar famílias na região

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Pais podem ser professores dos filhos. As melhores universidades valorizam candidaturas de quem aprendeu em casa
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O ensino doméstico em Portugal já deu alguns passos mas ainda há muito desconhecimento sobre esta forma de aprender em casa, com os próprios pais a serem também professores dos seus filhos

Rita de Sá viveu vários anos em Inglaterra. Com a família, um pouco antes da pandemia, transferiu-se para a Malásia, por motivos profissionais. Já tinha então a sua filha Laura, de quatro anos, e decidiu apostar no ensino doméstico nessa altura. Poucos meses depois, chegou a pandemia e, como tal, a família de Rita decide mudar-se para Portugal mantendo ligação com a escola inglesa.
“No sistema de educação inglês as crianças começam aos quatros anos”, explicou a mãe que é também professora da filha, agora com oito anos e a viver entre as Caldas da Rainha e Londres. Rita de Sá formou-se na cidade termal em Artes Plásticas na ESAD.CR e prosseguiu estudos em Ensino em Artes Visuais, mestrado que terminou em Londres.
A sua filha, Laura continua em Ensino Doméstico em Portugal, tipo de ensino que se encontra regulamentado pelo Decreto-Lei n.º 70/2021.
Rita de Sá defende este tipo de ensino, primeiro porque permitiu que a criança continuasse a ter aulas durante o período da pandemia e depois porque este formato de aprendizagem “apresenta grande flexibilidade e pode ser adaptado aos interesses da crianças e às necessidades de cada familia”, disse.
Para ensinar em casa o pai ou a mãe têm que ter uma licenciatura e pedir um requerimento à direção da escola da sua área de residência, explicando os motivos pelos quais está a pedir ensino doméstico para os seus filhos. O responsável pela educação terá que apresentar um projeto educativo que é também apresentado aos professores e à direção da escola.
“Há ainda a obrigatoriedade de seguir o currículo português e de fazer os exames de equivalência”, isto é, as crianças têm de ir às escolas no final do 4º, do 6º e do 9º ano para realizar testes, provando que obtiveram os conhecimentos correspondentes àqueles anos escolares.
Essa prova à equivalência causa algum desconforto em algumas famílias que escolhem o ensino doméstico, pois acham que o ensino regular “não cumpre com as suas necessidades em relação aos valores educacionais que querem passar aos filhos”.
Em Inglaterra, por exemplo, pressupõe-se que um dos pais fica responsável pela educação dos filhos e, como tal, está em casa. Em Portugal, há crianças inscritas em ensino doméstico, mas muitas famílias optam por colocá-los em escolas alternativas ou em comunidades de aprendizagem, mais adaptadas às necessidades das famílias.
A sua filha acumula aulas on-line a partir de Inglaterra, com reforço de alguns tutores em Portugal, no ensino da língua de Camões. Regularmente junta-se com outras crianças que estão em Home Schooling (Ensino Doméstico) para brincar e socializar.
“É um grande desafio”, disse Rita de Sá, explicando que ser mãe e professora requer um esforço grande, de parte a parte. Na sua opinião, há também muitas vantagens pois existem vários modelos de Ensino Doméstico: há quem opte por fazer um horário de aprendizagem similar ao da escola enquanto que outros preferem aproveitar tudo para realizar as necessárias aprendizagens, desde as tarefas domésticas até à realização das compras para a casa.
Desta forma, a filha de Rita de Sá está a fazer a sua aprendizagem bilingue.
O pai ou a mãe que fica encarregue da educação do filho tem que ter sempre um portefólio educativo da criança e estar recetivo a entrevistas, visitas e telefonemas das autoridades ligadas à escola. Rita de Sá conhece várias dezenas de famílias, portuguesas e estrangeiras, que optaram pelo ensino em casa.
“Muitos fazem-no para poder optar por ensino alternativo com pedagogias diferentes das que são usadas no ensino regular”.
É também uma forma de evitar o bullying, “que é um dos maiores motivos para escolher o ensino doméstico por terras de Sua Majestade”.
Pelos testemunhos que chegam a Rita de Sá também as necessidades educativas especiais determina essa escolha, de dedicação e atenção personalizada.
“Há muitas justificações para esta escolha e que a faz estar sujeita a muitas pressões por parte da família e da sociedade por fugir à norma”, disse a mãe-professora, que considera que esta é uma opção pela qual ainda há “muito desconhecimento”.
Por outro lado, Rita de Sá também referiu que as melhores universidades, como Cambridge e de Oxford, “têm preferência por alunos de ensino doméstico pois, por norma, são estudantes independentes, muito habituados a desenvolver projetos e pesquisas de forma autónoma.■

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