Escrito a Chumbo 25

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22 e 26 de junho de 1974

 

 

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Esta semana um dos grandes destaques é a realização do primeiro comício do M.D.P. – C.D.E. nas Caldas. “Este País começou a servir para nós no 25 de Abril. Tudo o que está nele é nosso! Desde as juntas de freguesia, às câmaras municipais, até ao governo”, afirmou Rúben de Carvalho, membro da comissão central do movimento, na Praça de Touros.
No seu discurso, Rúben de Carvalho afirmou que “tudo o que tenho para dizer podia-se resumir em duas palavras: Unidade e Trabalho. Falar de unidade nas Caldas da Rainha não é difícil; no dia 16 de Março, capitães, sargentos e soldados, homens do povo, empunhando armas compradas e pagas pelo povo arrancaram para derrubar o Fascismo. Não sofreram uma derrota, daqui até Lisboa fizeram uma sementeira, uma sementeira que frutificou na unidade dos soldados, na unidade do povo no dia 25 de Abril ao derrubarem o regime fascista. Foi essa unidade que tornou possível que ao fim de 48 anos o povo português pudesse aspirar a uma vida gerida por si próprio, a uma vida de Paz e Progresso”.
No mesmo comício, Odete Santos sobre a situação da mulher portuguesa, numa “longa análise aos processos que o sistema fascista utilizava para subjugar e minimizar a mulher na sociedade, apelou para a participação de todas as mulheres na construção da Democracia apontando como exemplos da mulher na luta, os nomes de Catarina Eufémia, Aida Magro e Sofia Ferreira”.

 

A-dos-Francos livre
Na edição de 26 de junho refere-se que em A-dos-Francos foi eleita nesta semana a comissão para a Junta de Freguesia, com o jornal a destacar que “finalmente o povo intervém na vida política discutindo-a livremente e elegendo os seus representantes”. Os elementos eleitos foram Valdemar Ventura Prudêncio (votado por unanimidade), José Carvalho Duarte (eleito com 3 abstenções e 4 votos contra), Artur Francisco Ribeiro (eleito com uma abstenção), Augusto Maria (eleito com 2 abstenções), Duarte Romão (eleito com uma abstenção), António Jacinto Almeida (eleito com 4 abstenções) e José Reis Sobreiro (com 3 abstenções).
Para regedor foram propostos três nomes tendo sido eleito Manuel Luís com 36 votos.

 

O 16 de março visto por fora
“Um pouco do historial da tentativa falhada do 16 de março nas Caldas da Rainha” é o título de um artigo transcrito do jornal «A República» de 13 de Junho de 1974 com declarações do capitão Varela, do R. I. 5 e que era um dos elementos mais ligado à linha Spinolista, que “dado que se trata de um artigo que eventualmente interessará aos habitantes das Caldas, «Gazeta das Caldas» decidiu transcrevê-lo, com a devida vénia de agradecimento àquele diário”.
Conta o artigo que “no dia 14 de Março, o juramento de fidelidade de alguns oficiais generais, em pseudo-representação das Forças Armadas, fez com que a tensão existente dentro de algumas unidades se tornasse insustentável” – afirmou o capitão Vergílio Varela, durante a visita que o general António de Spínola efectuou ao R. I. 5, das Caldas da Rainha. As palavras proferidas por aquele oficial, em nome do Movimento das Forças Armadas, faz, pela primeira vez, um pouco de historial da tentativa falhada de 16 de Março, precursora do 25 de Abril. Com a autorização de S. Exa. o Presidente da República, sem a pretensão de fazer história, com o pleno direito de defender a verdade e a justiça, vou, mais uma vez, e para a Nação, esclarecer as coordenadas em que se integra o Movimento de 16 de Março do R.I.5, dentro do plano geral do Movimento das Forças Armadas. Se tive o cuidado de escrever este apontamento, foi com o intuito de não omitir, por esquecimento, nenhum dos pontos principais a focar. Passo a expor os acontecimentos mais importantes. Quero, porém, antes afirmar, para que não restem dúvidas à Nação, que o Movimento de 16 de Março, não foi iniciativa individual de um grupo de oficiais mais exaltados, mas sim uma execução pronta e rápida, por parte desta unidade, com a firme determinação de alcançar os objectivos que lhe tinham sido confiados dentro do plano de Acção, logo após recebida a ordem de Lisboa.
Com efeito, os Oficiais do R. I. 5 estiveram presentes nas reuniões desde o alvorecer do Movimento. Como resultado destas, este Regimento estava imbuído no plano de operações, cujo início foi marcado para o dia 12 de Março.

Inconvenientes de ordem técnica, surgidos na véspera, levaram ao adiamento até que eles pudessem ser superados.
No dia 14 de Março, o juramento de fidelidade de alguns oficiais generais, em pseudo-representação das Forças Armadas, fez com que a tensão existente dentro de algumas unidades se tornasse insustentável, galvanizando no ideário do Movimento algum membro quiçá hesitante.
A exoneração de Suas Exas. os srs. generais Spínola e Costa Gomes, ocorrida na madrugada do dia 15, como resultado daquela pseudo-representação, imprimiu uma aceleração a todo o processo.
Durante todo um dia, em algumas unidades do norte do País, a indignação ruborizou-se, dando lugar a uma convicção de que era chegado o momento de fazer estoirar o foguete desmistificador, espalhando por todo o País as luzes de um dever livre.
Em consequência, oficiais do CIOS, em Lamego, telefonaram para Lisboa e o quadro por eles apresentado, conjugado com o das outras unidades levou ao desencadear de todo o plano de acção, que ficara adiado a 12 de Março.
Dada a ordem para as diversas unidades, accionados os estafetas, chegou o R. I. 5 um capitão, com a missão de conduzir até ao objectivo que era o aeroporto de Lisboa.
Introduzido na unidade, dirigiram-se com ele alguns oficiais ao gabinete do comandante da 4.ª Companhia, onde se fez o ponto da situação e se ultimaram os preparativos, quer para a neutralização do Comando quer para a saída da coluna.
Após assumido o comando da unidade, formou-se o regimento e distribuíram-se as missões, vendo-se da parte dos oficiais-milicianos, sargentos instruendos do C.S.M. e praças, logo que lhes foram dados a conhecer os ideais que nos moviam, toda uma adesão que ultrapassou muito, em entusiasmo e decisão a que se tinha esperado.
Posso ainda acrescentar que sendo, desde o início, nosso firme propósito alcançar todos os objectivos sem derramamento de sangue, se verificou ser isso impossível naquele momento. Daí o nosso regresso ao regimento e a nossa posterior rendição. Os inconvenientes de ordem pessoal daí resultantes foram, no entanto, largamente compensados, primeiro pelo importante papel desse dia no alertamento da opinião pública nacional e estrangeira e, em segundo lugar porque funcionou como manobra de reconhecimento, possibilitando, assim, a perfeição técnica de todas as operações posteriores.
O lema da região militar de Tomar «Que eu seja o dianteiro estava bem enraizado no subconsciente de todos quantos tiveram a felicidade de aqui se encontrar e dos que partiram para uma quarentena em prisão rampa mobilizadora de todos os que tornaram possível o glorioso 25 de Abril”, conta.

 

A questão colonial e as lutas sindicais
Na ordem do dia estava a questão colonial, esta semana destacando a proclamação da independência da Guiné-Bissau, mas também as lutas sindicais. Esta semana destaca para a luta dos trabalhadores da repartição de finanças das Caldas e dos produtores de leite da região.

Menção também ao Movimento Pró-associativo dos Artistas Plásticos e às suas reivindicações que criou uma delegação nas Caldas na Rua Dr. Leão Azedo, que era a casa do Figueiredo Sobral.

 

 

 

 

 

 

 

Os comerciantes

Continuava também a ser tema na cidade a questão dos comerciantes, com a Gazeta a receber “do autor da «Carta aberta a todos os comerciantes» um texto de réplica às respostas dadas a essa carta nas colunas deste jornal”.

 

 

 

Apelo aos jovens

O jornal caldense apela à participação da juventude com a publicação da “Gazeta Juvenil”, um convite aos leitores mais jovens para enviarem desenhos, poemas, contos, reportagens, e outros, para publicação no jornal. E deixa um esclarecimento: “devido à greve dos C.T.T., e dado que «Gazeta das Caldas» se destina sobretudo aos assinantes, decidiu-se não publicar o número de 4ª feira passada – 19 de Junho – e aumentar o número de páginas do jornal de hoje”. Esta semana destaque ainda para o Caldas, o clube de futebol da terra que havia assegurado a manutenção na II Divisão Nacional.

 

A televisão
Temos um anúncio da Neves & Fonseca, Lda., na Rua Almirante Cândido dos Reis, que chama a atenção: Da National. “O televisor tecnicamente mais avançado da atualidade”, lê-se. “Vasta gama de modelos portáteis”, acrescenta, notando que era “a Marca da Juventude”.

 

Os cartoons de Diogenes
E ainda dois cartoons de Figueiredo Sobral para apreciar nas primeiras páginas desta semana: um dedicado à Liberdade de Imprensa e outro com um cão-polícia com a coleira do fascismo.

 

 

 

 

 

Para a semana trazemos mais artigos escritos a chumbo. Até lá.

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