Escrito a Chumbo 26

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29 de junho e 3 de julho

Esta semana destaque para a Assembleia do Caldas Sport Clube para definição do futuro do clube. Não falamos da atual, mas sim de há 50 anos. Precisamente há cinco décadas debatia-se qual deveria ser o caminho. Tal como hoje!
Tratava-se de um assunto “considerado muito importante, revestia-se, de facto, de alguma importância uma vez que um grupo de jogadores do Caldas S. C. e naturais das Caldas exigiu um nivelamento de ordenado não só em relação uns aos outros como com o resto da equipa. Do ponto de vista teórico parece-nos esta reivindicação absolutamente certa embora na prática possa o C. S. C. não dispôr de meios económicos para a satisfazer. Que fazer? Ir para o amadorismo desportivo? Quanto a nós seria a atitude. Ficar no profissionalismo? Há ainda muita gente enraizada nos moldes do desporto profissional e que infelizmente não compreenderia a curto prazo a existência de um Desporto puramente Amador!”, começa por referir a peça.

“Está absolutamente provado que uma transição profissionalismo-amadorismo, não poderá, nem deverá, ser feita num dia, mas sim quando todos tivermos espírito desportivo para aceitar que a prática desportiva é algo mais importante que os resultados sofregamente procurados pelas equipas e pelos adeptos, é algo mais que as grandes somas pagas aos chamados «craques», é algo mais que o panorama desolador que todos os domingos se nos depara nos Estádios por esse pais fora isto falando é claro(!) em relação ao futebol. Mas desporto nunca foi, é, nem podemos deixar que seja só «futebol»! Desporto é todo um conjunto de modalidades que proporcionam ao Homem harmonizar conhecimentos, aperfeiçoar técnicas, socializar-se, em suma dignificar-se e educar-se através do exercício físico!”, prossegue.
“Se nas Caldas queremos efectivamente um desporto verdadeiro, temos que organizar todo um trabalho de base, isto é, temos primeiro que tudo que dirigir as nossas formas de actuação em relação à juventude. Ela é quem realmente precisa de praticar desporto como necessidade absoluta: E o que têm realmente feito as colectividades despo:tivas da nossa terra em relação à juventude caldense? Quantos milhares de jovens em todo o concelho desejariam praticar desporto e não o podem fazer por falta de estruturas?”, aponta a Gazeta de então. Algo que, 50 anos depois, mudou radicalmente. Hoje, nas Caldas, é possível praticar uma diversidade de desportos impressionante.
“Já alguma vez se pensou nível oficial – em fazer jogos juvenis, organizar torneios, construir mais recintos desportivos? Isto sim, parece-nos também um assunto muito importante, embora de momento tenhamos que compreender a importância atribuida a assuntos de outra ordem. Para terminar por agora queremos apenas aqui deixar bem expressa a ideia de que pensamos que não só o C. S. C. mas também as demais colectividades desportivas estão realmente interessadas na construção de um desporto verdadeiro e para todos os caldenses, só que isto levará o seu tempo a efectuar”, conclui o artigo assinado por António João M. Freitas, que sob o subtítulo “Algo que promete… a nível desportivo” dá conta de que “a um grupo de jovens, entre os quais se encontram alguns dos Organizadores do I Encontro Desportivo da Juventude Caldense jornada que, pela primeira vez, reuniu cerca de 200 jovens determinados na prática desportiva amadora foram entregues não só a gestão, como as instalações, como até o próprio material desportivo do Sporting Club das Caldas. Esta colectividade encontrava-se há já algum tempo sob o signo da estagnação por motivos que não nos interessa agora averiguar. Interessa-nos, sim, que alguém se preocupou com a inactividade do clube, e está a tentar reconstruí-lo o que é digno de aplauso. No próximo número apresentaremos o resultado de uma conversa a ter com esse grupo de jovens. Para já fica a esperança não só nossa, mas de todos os caldenses, de que algo poderá, dentro em breve, frutificar no campo desportivo, na nossa cidade”.

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A vida sindical
A agitação em termos sindicais e laborais no país era intensa no pós-Revolução de 1974. Esta semana a Gazeta das Caldas dá conta de uma mulher que foi despedida por participar numa manifestação.
“A notícia chegou-nos através do Sindicato. Um facto grave, a revelar bem que a prepotência patronal se mantém intacta, escudada, de resto, em leis que urge rever para acabar de vez com injustiças destas. Sobretudo, a lei que permite despedimentos sem justa causa, apenas com o pagamento de uma indemnização que, na maior parte dos casos, é absolutamente insignificante. Mas vamos aos factos: Maria da Assunção Silva Almeida, 17 anos, apenas 6 meses ao serviço da «DINAPAU»- uma das lojas do sr. Isaías Encarnação Maria. Ora este senhor não gostou mesmo nada da manifestação que, nesta cidade, os caixeiros fizeram para apoiar a sua reivindicação de «semana inglesa». E a prová-lo fica o despedimento arbitrário de uma empregada só por ter participado na manifestação. Claro que o sr. Isaías nem sequer teve coragem para dizer logo à Maria da Assunção o ‘motivo do seu despedimento, alegando apenas que «vocês fazem demasiadas exigências…», isto logo na 2.a feira seguinte à manifestação. Enfim, toda a gente vê a que exigências se que exigências se referia o sr. Isaías. Mas, para que dúvidas não restassem, eis que o senhor em causa resolve esclarecer, gabando-se publicamente (no café) de a ter despedido por ter participado na manifestação. A funcionária recebeu a sua indemnização-e descobriu por fim que ganhava 1.400$00 – era o seu ordenado oficial embora recebesse 1.500S00. Claro que a Maria da Assunção ignorava que oficialmente» ganhava menos do que realmente recebia. É um processo muito usado pelos senhores patrões (às vezes com a inconsciente conivência dos empregados): assim conseguem eles «poupar» nos descontos, à custa do prejuizo que isso acarreta para a futura reforma dos empregados. A empregada despedida dirigiu-se ao Sindicato; mas que pode este fazer, se o sr. Isaías até pagou a indemnização devida (1 mês de ordenado, férias e subsídio de férias)? O assunto aqui fica à reflexão cuidada de todos os enpregados: até quando leis que permitem despedimentos nestas condições? Até quando prepotências deste género dos patrões sobre os seus empregados?”, conclui a peça.

A PSP agradece
Interessante também um artigo sob o título “A PSP agradece”, numa carta enviada à Gazeta pela Polícia com o pedido para “publicar esta simples nota de apreço, com o sentido de agradecer a todos os populares de Caldas da Rainha, que no dia 20 do corrente mês, em conjunto com elementos da Polícia de Segurança Pública de S. Martinho do Porto e de Caldas da Rainha, colaboraram na perseguição de três ratos de automóveis, os quais vieram a ser detidos na referida cidade como já se esperava. Pelo facto de não poder apresentar pessoalmente, a todos, os meus agradecimentos, como seria o meu desejo, dirijo por este meio o meu voto de confiança e de compreensão, em que todos esses estão impregnados e o meu muito obrigado”, refere a PSP, realçando “a magnifica, valorosa e prestigiosa contribuição, em que foi empenhado o Exm. Senhor Carlos Alberto de Sousa Cardoso, gerente do «Restaurante Samar», desta vila, pela perícia, que demonstrou na condução da sua viatura, ponto fundamental, para que essa perseguição fosse coroada de êxito”.

Guerra colonial
A questão da guerra colonial continuava a marcar o dia-a-dia a nível nacional e a Gazeta das Caldas procurava também fomentar a discussão sobre o tema. Esta semana temos um texto sobre o 12º aniversário da FRELIMO e sobre a independência de Moçambique e outro sobre o programa do MPLA, em Angola.

O PPD nas Caldas…
Esta semana é notícia a “apresentação nesta cidade de Caldas da Rainha, no passado dia oito de Junho de mil novecentos e setenta e quatro, o Partido Popular Democrático. A sala do Cine-Teatro Pinheiro Chagas apresentava-se completamente cheia”. Abriu a sessão o Dr. Mário de Carvalho e encerrou-a o Ministro da Administração Interna, Magalhães Mota.

 

 

… e o PCP
Nota também para o anúncio da realização do Comício do Partido Comunista, no Teatro Pinheiro Chagas, na noite de 5 de julho.

 

 

 

Cartoons
O cartoon desta semana traz-nos a forma como o autor, Diogenes, viu o corte do programa do Mercado da Primavera na televisão.

Para a semana trazemos mais artigos escritos a chumbo. Até lá.

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