Esta semana o destaque na Gazeta das Caldas vai para “a primeira crise governamental”, com um extenso artigo de António Avelãs.
Refere o jornal “a falta de dados concretos sobre a situação” que “impede uma análise cuidada”, deixando ainda assim uma reflexão sobre os motivos, que “parecem ter sido vários, mas o que a fez agudizar foi uma tentativa do Prof. Palma Carlos de conseguir que o Conselho de Estado lhe desse mais poderes Governativos, na sua qualidade de primeiro-ministro. Entre esses poderes pretendia o Prof. Palma Carlos ser ele, primeiro-ministro, a escolher os Ministros e não o presidente da República, como estabelece o programa das Forças Armadas”.
O artigo prossegue a recordar que “segundo o jornal «O Século», este pedido teria sido aceite pelo Conselho de Estado, que teria rejeitado dois outros pedidos do Primeiro-Ministro: o da promulgação de «Constituição Provisória» e a de uma eleição para breve do Presidente da República. Estas exigências alteravam bastante o Programa do Movimento das Forças Armadas e parece ter sido este o motivo que levou o Conselho de Estado a não aceitar as exigências do Prof. Palma Carlos. Contudo, para além destes factos, outros problemas graves devem ter surgido entre os Ministros da coligação governamental – o que explicaria a saída dos dois ministros ligados ao P. P. D. e de outros que, não militando neste partido, estão próximos das suas posições. Que problemas terão sido esses?”, questiona.
“Da entrevista concedida pelo General Costa Gomes à Imprensa, parece lícito concluir que um deles é o processo de descolonização e do fim da guerra: comunistas e socialistas querem ver o processo acelerado, o que parece não ser defendido pelo Dr. Sá Carneiro (PPD). Outro ponto de atrito terá sido o problema da greve; sabe-se que o Ministro do Trabalho, Avelino Gonçalves (PCP) apresentou um projecto de regulamentação, que mereceu uma contra-proposta do Dr. Sá Carneiro (PPD). De resto, nas recentes entrevistas dadas pelo Prof. Palma Carlos, o problema da greve é sempre apontado e discutido. Também alguns aspectos da política económica mereceram sérios reparos ao P. C. P. — que apoiou a manifestação dos funcionários públicos contra o decreto de aumento de vencimentos recentemente proposto (e que não será publicado), que toma posição clara discordando da hipótese de um substancial aumento do preço do pão. Também o problema do saneamento tem provocado divergências entre os ministros”.
O artigo procura também perceber as consequências. “Antes de mais nada, esta crise reforçará o Movimento das Forças Armadas e o seu programa; é assim que parece dever entender-se a decisão do Conselho de Estado, ao rejeitar uma proposta que vinha alterar substancialmente esse Programa. Neste aspecto a crise poderá eventualmente fortalecer a posição do Partido Socialista e do Partido Comunista dentro da coligação, posições essas que, tudo indica viriam a ser enfraquecidas se o Conselho de Estado aceitasse as propostas do Prof. Palma Carlos. E o Partido Popular Democrático? Abandonará a coligação? Nos seus comunicados públicos, o PPD tem afirmado que não abandonará a coligação. Assim sendo o novo governo teria (apenas) mudado de pessoas, mas manter-se-iam as forças políticas nele incluídas. Francamente esperamos que tal venha realmente a acontecer. Finalmente: poderá a reacção (de direita e extrema-direita) aproveitar, esta crise para tentar derrubar o governo democrático? É uma hipótese; diria mesmo que isso é o que eles tentarão fazer; e é contra essa tentativa que as forças democráticas, mesmo quando há divisões e conflitos entre elas, têm de se unir, numa frente antifascista que corte pela raiz as tentativas reaccionistas dos fascistas e afins”.
Novo governo
Na semana seguinte temos a notícia da escolha de Vasco Gonçalves para primeiro-ministro do Governo provisório. “O Movimento das Forças Armadas – e com ele, a democracia – consolidam a sua posição” é o título do artigo também de António Avelãs que conta que “ainda não era conhecida a composição do governo”, mas salientando o facto de o primeiro-ministro “se tratar de um destacado elemento do Movimento das Forças Armadas”, que “dá a primeira indicação de que este glorioso movimento está perfeitamente decidido a não perder o controlo da situação, em suma, está perfeitamente decidido a consolidar a vitória da Democracia no nosso país. E esta consolidação é a grande vitória desta crise – se assim se pode chamar que foi uma tentativa de alterar, num sentido nítida e perigosamente direitista o Programa do M.F.A. É por isso que os partidos de esquerda (o socialista e o comunista) se mostram amplamente satisfeitos com o evoluir da situação, pois que eles, mais que qualquer outros, estão interessados na consolidação do triunfo da democracia.
O P. P. D., cuja posição publica é anunciada num documento inserto neste mesmo número, pode ter saído um pouco comprometido deste momento político, dado o apoio que os seus membros no Governo, nomeadamente o Dr. Sá Carneiro, deram à tentativa do Prof. Palma Carlos que, repetimos, é considerada pelos partidos de esquerda – com especial realce para a posição do P. S.- uma manobra susceptível de favorecer a reacção da direita. Colocar no cargo de primeiro-ministro um destacado membro do Movimento é tornar bem claro que as Forças Armadas não vão transigir na defesa do seu Programa. E o grande beneficiado com esta posição será sem dúvida o Povo Português na sua marcha (nem sempre fácil) para uma sociedade democrática. É nesta mesma linha que deve entender-se a entrada de militares do MFA para algumas pastas dada como certa no momento em que escrevo. Mas a coligação manteve-se (segundo tudo indica). E, como disse no último artigo, esse dado é importante: significa que para lá de todas as diferenças existentes entre o PPD, o PS e o PC, há um objectivo comum, agora mais consolidado – talvez mesmo mais facilitado. E é para a efectivação deste objectivo a vitória da Democracia e o definitivo repúdio do fascismo que todos os esforços são necessários, que todos os democratas têm de trabalhar”, lê-se na peça.
As reações
Nesta edição encontramos também as reações dos partidos. Num artigo faz-se a análise das posições de PS e PCP e noutro do PPD. Os “partidos da «esquerda» estão plenamente satisfeitos com a evolução dos acontecimentos, inclusivamente com a indicação do coronel Vasco Gonçalves (elemento profundamente ligado ao M. F. A.) para o cargo de primeiro-ministro”, refere-se no jornal, acrescentando que o PCP “continua pronto a participar num governo de coligação e pronuncia-se favoravelmente à entrada no Governo de outros oficiais do Movimento das Forças Armadas”. Por sua vez, o PS “condena a atitude assumida pelo ex-primeiro ministro Palma Carlos, cujas consequências poderiam ter entravado o processo de democratização”.
Relativamente ao PPD, diz o jornal – então com uma orientação vincadamente de esquerda, que “está empenhado em contribuir para uma realista solução da crise aberta pela demissão do Primeiro Ministro Professor Palma Carlos, crise que se concretizou após o Conselho de Estado não haver dado satisfação às condições a que, o Primeiro Ministro, subordinou a sua continuidade no Governo. Tanto a atitude assumida pelo Primeiro Ministro, no actual momento da vida nacional, como os pedidos de demissão dos membros do Governo que com ele solidarizaram, como ainda os motivos que transparecem do comunicado oficial, são expressão significativa da gravidade dessa crise. O Partido Popular Democrático considera que essa gravidade resulta da imperiosa necessidade de se tomarem decisões políticas de fundo que capacitem o Governo a assumir plenamente as suas responsabilidades. Para isso há que reduzir ao mínimo o período de incerteza política em que se vive, impondo-se que, muito rapidamente, sejam tomadas as medidas de ordem políticas adequadas à efectiva Implantação da Democracia em Portugal; à Resolução do Problema Colonial; à Dinamização da Vida Económica, condições fundamentais para a criação de um Portugal socialmente justo”.
Editorial
E já que falamos da orientação do jornal, esta semana destaque também para um editorial da Gazeta, dirigido a todos os caldenses. “Parece-nos que passados cerca de dois meses depois da nova orientação da Gazeta, podemos analisar aquilo que já fizemos e num esforço de autocrítica, apontarmos o que nos parecem ser as limitações do nosso trabalho. Estamos convictos que o nosso propósito, afirmado desde o primeiro número, de servir o processo de democratização em curso no nosso país, de preparar os nossos leitores para uma intervenção consciente no evoluir da vida da nossa comunidade, tem sido cumprido. Assim parece que não nos podem acusar de seguir esta ou aquela orientação partidária, uma vez que temos estado sempre abertos aos esclarecimentos e notícias sobre os diferentes partidos ou movimentos políticos das Caldas da Rainha. Por vezes são esses mesmos partidos que não nos enviam todos os elementos que por nós são solicitados, como aconteceu, por exemplo, com um inquérito sobre à guerra que distribuímos e a que recebemos apenas uma resposta! Já nos têm afirmado que a Gazeta se deveria preocupar mais com os problemas das Caldas. Tal acusação parece-nos injusta uma vez que fazemos um esforço por cobrir os principais acontecimentos da região. (Veja-se neste aspecto, a nossa Iniciativa «Ronda das Colectividades», o Problema dos Produtores de Leite, as referências a problemas agrícolas, etc., etc., E mesmo os artigos políticos publicados dizem respeito à vida política do nosso concelho, como regra geral). Se mais não fazemos é por impossibilidade técnica, uma vez que o jornal não dispõe de repórteres profissionais. De qualquer modo, pedimos insistentemente a colaboração de todos os leitores interessados, que muitas vezes estão em melhores condições que nós para nos levarem até aos problemas das Caldas. Como é natural reservamo-nos, entretanto, o direito de seleccionar os artigos que publicamos, uma vez que por eles somos responsáveis. Gostaríamos de melhorar a qualidade gráfica, o número de páginas de nosso Jornal; mas por enquanto as condições materiais não nos permitem por em prática qualquer projecto mais ambicioso. Apoiar e divulgar a Gazeta na sua nova orientação é tarefa de todos aqueles que estão interessados na existência de vozes democráticas na nossa terra”, conclui-se.
Política em A-dos-Francos na televisão
No último programa «A política é de todos» tivemos, como já se esperava, a possibilidade de ver o povo de A-dos-Francos debatendo publicamente temas políticos. E esta é a grande vitória da Democracia: possibilitar que as pessoas possam falar livremente, mesmo quando discordam umas das outras. E discordaram: houve quem achasse correctíssimo o modo como foi eleita a Junta de Freguesia (ainda não empossada) e houve quem entendesse que devia ter sido por voto secreto. Houve quem defendesse que todos os que ocuparam cargos directivos (Juntas de Freguesia, Casas do Povo, Câmara) durante o regime fascista deviam ser afastados das novas direcções e houve quem defendesse o contrário. É isto a Democracia e o nosso povo está a mostrar de um modo inequívoco que já aprendeu o que é isso da Democracia o que nos faz acreditar que está disposto a cerrar firmemente fileiras. para a defender. A-dos-Francos falou de política e mostrou que a política é uma tarefa de todos e não apenas dos «doutores». A-dos-Francos mostrou-nos que a política é apenas querer encontrar as formas melhores para conseguirmos uma melhor vida para todos”, lê-se.
O Caldas Sport Clube
“Viva o Caldas – Assim se define o que foi a assembleia geral última” titula uma peça sobre o clube da terra. “Sala dos Bombeiros, repleta de associados, cheios de «nervos» receando ainda, e sem razão, que se confirmasse o «susto», que nunca chegou a ser «perigo» verdadeiro, surgido na parte final da última assembleia extraordinária, enchentes de gente e de amor ao Clube… assim se iniciou pelas 22 horas, a assembleia ordinária do quase «sexagenário» Caldas S. C., clube «popular» mas «grande» do desporto desta região, dos primeiros na Província a ter a Medalha de Bons Serviços Desportivo, parece-nos que o primeiro fora de colectividades de Lisboa e do Porto, sob a presidência de Eduardo de Carvalho, secretariado por Jorge S. Almeida e Figueiredo Santos”, lê-se no artigo, que esclarece que “foi a Assembleia elucidada de que houvera uma anunciada reunião entre candidatos a dirigentes em 1974-1975 e Jogadores de Futebol, em que o presidente da assembleia colaborara. Nessa reunião que correu pelo melhor ficou tomada a melhor decisão: os Dirigentes desempenharão as suas funções na sua plenitude e tudo se procurará fazer da melhor maneira para o Clube e para todos os jogadores, etc. Tal notícia muito agradou à assembleia, o que bem se compreende”.
Protecção ao meio ambiente na nossa cidade
A Gazeta chamava a atenção que as Caldas era “até certo ponto, privilegiada com a existência de vastas zonas verdes, apesar de estarem na quase totalidade, votadas ao abandono. Falamos da Mata da Rainha D. Leonor e da Quinta Martins Pereira (conhecida por Quinta da Boneca) esta última considerada, há pouco, de interesse público; se não erramos. Feliz ou infelizmente (?) a zona não é das mais poluídas (não falamos de poluição mental…), devido à quase inexistência de unidades fabris que produzam fumos ou poeiras. Mas será por causa disto que iremos desprezar o problema? E a poluição resultante dos fumos expelidos pelos veículos automóveis? E a poluição resultante dos barulhos e ruídos? Outro dos problemas que se põem aos estudiosos da protecção ao meio ambiente é a urbanização. É inadmissível que entidades responsáveis autorizem e colaborem no aproveitamento máximo de zonas para construção de habitações, que não passam de amontoados humanos, sem terem a mínima preocupação de criarem pequenas zonas verdes com pequenos parques infantis, protegidos do trânsito automóvel”.
A Gazeta das Caldas, um jornal vincadamente ambientalista, apontava para “algumas zonas habitacionais como é o caso do Borlão, que mesmo assim tem duas pequeníssimas pseudo-zonas verdes, numa das quais foi colocada uma estátua duma figura do antigo regime. Que seria mais útil? Essa estátua ou aproveitando uma pequena parte dessa despesa, fazer uma verdadeira zona verde (arborizada) com um parque infantil? Mas estamos nós a falar de uma zona de «bem» da cidade; não seria melhor e mais honesto atirarmos a nossa atenção para alguns bairros limítrofes da cidade, já para não falar das nossas aldeias? Olhemos para o Bairro dos Arneiros. Não podemos deixar de acusar todos aqueles que tendo estado à frente (embora de maneira arbitrária como arbitrário era o regime que os colocou) dos nossos destinos nestes anos que passaram, descuraram e permitiam que se mantivesse aquele Bairro naquele estado. Sem esgotos, com estradas feitas de barro e lama, onde passeiam os despejos que saem das fossas. Cólera! É possível… Mas então inauguram-se estátuas, dão-se banquetes subsidiam-se exposições caninas, sustentam-se assassinos premeiam-se denunciadores, compram-se majestosas viaturas, passeia-se à conta do erário público, constroem-se famosas estradas do sol e não há dinheiro para atender às mais simples das necessidades de uma população? E já agora pedimos (não é ironia!) para aquele amontoado de casas – metidas naquele lamaçal que seja previsto uma ou mais zonas verdes onde não seja esquecido um parque infantil, talvez como tributo a uma juventude que foi criada nas mais deficientes e escandalosas condições de salubridade, que são um ultraje aos tempos de hoje em que nós vivemos”.
O artigo aponta ainda medidas em termos de mobilidade, como “o encerramento à circulação automóvel de certas ruas centrais da cidade e o encerramento da maioria das outras ruas da cidade aos veículos de transporte particular individual”.
Males vistos a olho nu
Esta semana a Gazeta das Caldas traz os “Males vistos a olho nu”, numa carta enviada pelos agricultores de São Gregório, freguesia do concelho caldense.
A Guerra Colonial
A questão da guerra colonial mantinha-se na ordem do dia, esta semana, por exemplo, com a reportagem da projeção de um filme sobre a luta na Guiné, em Alfeizerão, por parte do Conjunto Cénico Caldense.
As coletividades
Na Ronda pelas Colectividades Caldenses esta semana apareciam os Pimpões, numa edição em que temos novo cartoon de Deogenes e um texto de Erica intitulado de “Cravos Vermelhos”.
Para a semana trazemos mais artigos escritos a chumbo. Até lá!