Especialistas dizem que CHO funcionaria melhor se fosse Entidade Pública Empresarial

1
689
- publicidade -

Notícias das Caldas A transformação do Centro Hospitalar do Oeste numa Entidade Pública Empresarial (EPE), uma melhor integração dos serviços e a construção de um novo hospital foram alguns dos conselhos dos especialistas que participaram no congresso “Os cuidados de saúde na Região Oeste”, que se realizou no CCC das Caldas a 18 e 19 de Janeiro.
A comissão de utentes quis organizar este congresso para responder a questões como: “quais os cuidados de saúde necessários para a dimensão desta região?”, “em tempo de crise, qual a forma de organização mais racional?”, “quais as condições para assegurar às populações a equidade nos acessos à saúde?” e “qual o papel do termalismo nos cuidados de saúde e o futuro do Hospital Termal das Caldas?”.
Os palestrantes foram convidados tendo em conta os seus conhecimentos e experiências, de modo a responder a essas questões.

200 mil urgências por ano

- publicidade -

A António Martins Baptista, ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, foi pedido que apresentasse uma proposta de que serviços seriam necessários para a região Oeste, que tem 350 mil habitantes.

O director do serviço de Medicina Interna do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, aproveitou os números da sua unidade de saúde para fazer uma adaptação, tendo em conta o número de habitantes. O hospital de Loures tem uma área de actuação com 300 mil habitantes e o médico adaptou os números para as 350 mil pessoas.
Nesse sentido, prevê cerca de 200 mil urgências por ano, com uma afluência diária de 360 pessoas de toda a região. “É uma urgência que precisará de quatro internistas em permanência”, disse.
O médico prevê cerca de 13 mil cirurgias anuais, com uma média diária de 50 cirurgias (metade das quais em ambulatório), e cerca de 280 mil consultas por ano.
Segundo os seus cálculos, são necessárias 495 camas de internamento, 60 gabinetes de consulta externa, oito salas de bloco operatório, cinco salas de parto, três salas de cesariana e 75 postos em hospital de dia.
António Martins Baptista apontou o facto de a partir de certa altura, em todo o mundo, começou a pagar-se mais pelas técnicas de diagnóstico do que pelo “raciocínio médico junto ao doente”. O resultado foi multiplicaram-se as especialidades médicas nos vários países e começou a haver falta de médicos generalistas. “O doente passou a ficar perdido, saltando de especialidade em especialidade, sem ninguém que integre todo o seu ser patológico”, explicou.
No Hospital Beatriz Ângelo criaram dois grandes departamentos, um cirúrgico e um médico, em que a medicina interna tem os doentes e as outras especialidades fazem exames e dão consultas.
“O doente tem que estar ‘parado’ e os médicos é que têm de ir até ele. Não pode ser o doente a circular pelo hospital”, referiu.
O médico criticou o facto de o próprio Estado “incentivar” um grande número de urgências nos hospitais. “Aos hospitais privados é dito que serão pagas todas as urgências, mas o número de consultas são limitadas”, contou.
Reorganização deve servir para prestar melhores cuidados

O cirurgião Nuno Santa Clara, que já foi director clínico do Centro Hospitalar do Oeste Norte, salientou que uma reorganização hospitalar deve servir  para melhorar a qualidade dos cuidados, a eficiência dos serviços e a sua acessibilidade. “Num país que tem uma taxa de pobreza de 18%, depois de prestações sociais, temos é que aumentar acessibilidade dos doentes aos hospitais e não diminui-la”, disse.
Na sua opinião, a redução de custos na saúde não pode ser feita apenas à custa de encerramentos de serviços ou unidades. “A dificuldade é reduzir custos com a reorganização do que existe”, referiu.
Segundo Nuno Santa Clara, o hospital das Caldas tem muitas especialidades “mas estão extremamente desguarnecidas de meios humanos e materiais”. Por exemplo, há apenas uma dermatologista. O problema é que as outras instituições recusam-se a receber doentes desta área porque a especialidade existe no CHO, mas não há capacidade de resposta. “Isto tem consequências muito graves para os doentes”, afirmou.
O médico considera também que faz falta uma melhor integração de alguns serviços e que há um excesso de prestadores de serviços, que não pertencem à instituição e não estão integrados numa equipa.
“Temos um relacionamento muitas vezes inadequado com os cuidados primários, com a rede de cuidados integrados e com o Centro Hospitalar Lisboa-Norte”, adiantou ainda. Isto resulta numa maior utilização das urgências pelos doentes, para além de uma falta de comunicação dos dados clínicos dos utentes entre as instituições.
Nuno Santa Clara contou um caso de um doente com um problema grave da área da gastrenterologia que teve ser transportado de Torres Vedras para as Caldas da Ranha e depois para Lisboa, porque não foi aceite a sua transferência directa para o Hospital de Santa Maria. “Esta relação tem que ser clarificada em muitos aspectos”, disse.
Nuno Santa Clara comentou ainda o facto de o CHO ser o único centro hospitalar do país que não é uma Entidade Pública Empresarial (EPE). “Isso faz com que o conselho de administração do CHO não tenha instrumentos que lhe permitam gerir com racionalidade e há situações que são uma enorme fonte de desperdício”, considera.
O ex-director clínico acusou a tutela de desperdiçar milhares de euros a contratar pessoal em empresa de trabalho temporário, por não ser possível contratar funcionários públicos. Isto porque o valor a pagar através das empresas de trabalho temporário é bastante superior. No caso do hospital das Caldas” custam cerca de um milhão de euros a mais por ano, do que custariam se estivessem no mapa de pessoal”. Ao ser transformado numa EPE, o CHO poderia contratar médicos e enfermeiros em regime de contrato individual de trabalho.
Há também uma série de questões burocráticas que seriam ultrapassadas com a essa alteração, ao nível da aquisição e manutenção de equipamentos, por exemplo.

“Fazer um hospital novo é um bom investimento”

Como a Gazeta das Caldas já noticiou, Luís Campos presidente do Conselho Nacional para Qualidade em Saúde e membro da Comissão de Acompanhamento da Reforma Hospitalar, defende que é economicamente mais rentável construir um novo hospital do que manter pequenos hospitais, como acontece no Oeste.
O director do Serviço de Medicina do Hospital S. Francisco Xavier explicou que “em geral, a construção de um novo hospital custa tanto como o orçamento de um ano de um hospital a funcionar”, informou. Tendo em conta esse valor, basta perceber que podem existir ganhos de eficiência de mais de 20% com a construção de um novo edifício “para que este investimento esteja pago em quatro ou cinco anos”.
Na sua opinião, deveria existir uma carta hospitalar que servisse de referência para a construção de novos hospitais.
O especialista considera também que o sector público deve aprender com os privados e utilizar um modelo que não separe os cuidados primários dos hospitalares. “É um modelo que os portugueses gostam. Daí o sucesso em Portugal da Loja do Cidadão, dos centros comerciais e dos hipermercados”, salientou.

- publicidade -