A cidade de Tartu, na Estónia, foi em finais de Janeiro, a segunda cidade a ser visitada no âmbito do projecto europeu, depois de Reykjavik, na Islândia. O país do norte da Europa que tem cerca de 14% da sua população jovem em situação NEET (não estuda nem trabalha) está a fazer um trabalho integrado, ao nível da administração central, para combater esse problema. Os ministérios da Educação e dos Assuntos Sociais juntaram-se e, em conjunto, criaram um programa que tenta dar resposta a essa população.
A Estónia tem 1,3 milhões de pessoas, entre as quais 21% são jovens (com idade compreendida entre os sete e os 26 anos). Entre estes, cerca de 12 mil estão em situação NEET, sendo que as raparigas (62,6%) são a larga maioria.
Ainda assim, e de acordo com Katrin Siider, do Ministério da Educação, o número de jovens com idades entre os 15 e os 24 anos que não estudam nem trabalham tem vindo a diminuir significativamente desde 2009. Para isso contribuíram o programa Garantia Jovem e outros projectos de integração e a cidade de Tartu é considerada como um bom exemplo da implementação dessas soluções.
Foram criadas redes de centros da juventude, instalados pelos municípios e associações, que respondem com uma oferta lúdica, que depois pode ser especializada em desportos radicais, desportos náuticos, ou a música, por exemplo. Para além desta oferta, disponível para todos os jovens, estejam ou não integrados na escola, os centros da juventude têm um programa que é apoiado pelos ministérios da Educação e Assuntos Sociais destinado aos que estão fora do sistema.
Algumas associações possuem carrinhas para transportar os jovens para as actividades, ou mesmo, para as dinamizar em locais que de outra forma não seriam abrangidos. Para alguns dos utentes é a possibilidade que têm para ir à praia ou conhecer o campo, lagos e montanhas, e participar em actividades ligadas à Natureza.
Há mesmo centros de aconselhamento de carreira, como é o caso do Tartumaa Rajaleidja Keskus, onde os técnicos apoiam os jovens nos próprios centros e nas escolas, quer presencialmente quer online, dando-lhes ferramentas para melhorar as entrevistas e os currículos e informações sobre possíveis áreas de interesse e oportunidades de trabalho. Promovem igualmente visitas a empresas e escolas e dinamizam eventos, como o Dia das Profissões e o Jogo da Orientação Profissional.
Na cidade há também espaços onde os jovens podem fazer mesmo quase tudo o que quiserem, como é o caso do Spark Makerlab. Martelar, soldar, pintar, imprimir em três dimensões, desenhar, modelar, construir um banco ou um drone ou mesmo costurar um vestido são algumas das opções. E workshops sobre rodas? Também os há. Dois jovens engenheiros apetrecharam uma carrinha, que levam às escolas, ou associações, e onde dão a conhecer diversas profissões através de trabalho prático. Os participantes nesta visita também foram convidados a “põr mãos à obra” e escolher entre fazer uma pen drive, utilizando algumas ferramentas para trabalhar o metal, ou pequenos quadros e candeeiros em madeira. Uma tarefa que é acessível a todos os jovens (dado que as máquinas fazem grande parte do trabalho) e que pode aguçar a curiosidade pelas áreas da engenharia, que actualmente não têm grande procura, especialmente ao nível da madeira e do metal.
DAR-LHES UMA CARREIRA
“Há um objectivo em dar-lhes um rumo, uma carreira”, refere Helder Luiz Santos, responsável da CAI-Associação Internacional (associação parceira do projecto), acrescentando que tem algumas reservas relativamente a esta forma de acção. É que cada criança a partir dos 13 anos integra o programa que a guia na futura profissão. Para o responsável português, esta prática em Portugal não funcionaria porque o sistema português “não é pensado dessa forma”, refere, acrescentando que também não há uma planificação séria dos tipos de emprego que são precisos no futuro.
Por exemplo, ainda recentemente foi notícia a falta de mão de obra no sector dos têxteis e os centros de emprego “não previram que era necessários técnicos especializados nesta área”, constatou, adiantando que há muitos desempregados no país e depois há sectores que têm que ir buscar mão-de-obra ao estrangeiro.
Helder Luiz Santos destacou como positivo o facto das políticas sociais na Estónia não serem determinadas apenas pelo município, mas pelas necessidades de organizações que estão em contacto com as populações. “É um sistema de baixo para cima que é muito interessante e que seria muito bom que as câmaras municipais começassem a pensar nisso”, diz, referindo-se ao facto destas auscultarem quem está diariamente em contacto com as necessidades das populações e depois determinar as linhas mestras das políticas sociais para responder às necessidades.
Gazeta das Caldas acompanhou a visita, que entre os portugueses contou com representantes da CAI, de associações juvenis e do Centro Português para os Refugiados. Curioso foi também encontrar um islandês, Valgeir Skagfjörð, que é actor, compositor e professor numa escola profissional, que tinha estado durante uma semana, no início do ano, no concelho das Caldas da Rainha, mais concretamente em S. Gregório, juntamente com amigos num retiro. Valgeir Skagfjörð teve oportunidade de conhecer a aldeia, assim como Óbidos e as Caldas.
VISITA A ITÁLIA
O projecto Community Guarantee, financiado pelo programa Erasmus, é coordenado pela ONG Association of Estonian Open Youth Centres (Associação de Centros de Juventude que congrega cerca de 150 associações da Estónia) e tem por objectivo a elaboração de um documento orientador para a criação de uma rede europeia especializada em trabalhar com jovens NEET, ou seja, que não trabalham, nem estudam nem frequentam qualquer tipo de formação.
A procura de respostas para problemas comuns esteve na base deste projecto internacional que se desenvolverá durante ano e meio e tem um financiamento comunitário de aproximadamente 170 mil euros.
A participar estão associações com realidades muito diferentes e que podem ajudar os parceiros com as suas boas práticas. Durante esta semana decorreu uma visita de estudo a Itália. Realizar-se-ão ainda mais duas reuniões de projecto e uma conferência final na Estónia.