Se Leiria vai ser privilegiada com a linha de alta velocidade, o Oeste tem todo o interesse em aproximar-se dessa “auto-estrada ferroviária” para ficar mais próximo do Centro e do Norte
A modernização da linha do Oeste a norte das Caldas da Rainha está contemplada nas fichas de projeto do PNI2030, mas sem detalhes sobre o grau de intervenção na infraestrutura.
Assim, em causa pode estar uma modernização “low cost”, idêntica à do troço Caldas da Rainha-Meleças, ou uma modernização a sério, que permita aumentos de velocidades e uma verdadeira integração da Linha do Oeste na rede ferroviária nacional, quer seja através do ramal de Alfarelos na Linha do Norte, quer seja através da ligação em Leiria à linha de alta velocidade.
Um estudo da Infraestruturas de Portugal (IP), datado de 2017, apresenta três cenários sobre a modernização entre Caldas da Rainha e Louriçal com patamares de velocidade para 120 km/h, 140 km/h e 200 km/h. O investimento estimado seria, respetivamente, de 102, 112 e 292 milhões de euros.
Estudo da Infraestruturas de Portugal apresenta três cenários para a modernização entre Caldas e Louriçal
Qualquer destes cenários prevê a eletrificação e instalação de sinalização electrónica e sistemas de telecomunicações avançados, a eliminação de passagens de nível e a renovação integral da via. A linha mantém-se em via única, mas com cruzamentos de 750 metros nas estações por forma a facilitar a circulação de comboios de mercadorias mais compridos.
Se o primeiro cenário não é o desejável, porque 120 km/h não é compatível com uma ferrovia para o séc. XXI, os outros dois já permitiriam aproximar Caldas da Rainha de Leiria num tempo de percurso razoável e daí a Coimbra, Aveiro e Porto. Com a utilização da linha de alta velocidade até a Beira Alta, o Douro, o Minho e a Galiza ficariam claramente mais próximos da região Oeste.
Qualquer dos cenários prevê eletrificação e sinalização eletrónica, mas mantém-se com uma via única
O estudo da IP refere que “o posicionamento geográfico da Linha do Oeste confere a esta infraestrutura um interesse estratégico, na medida em que representa uma alternativa à linha do Norte entre Alfarelos e Lisboa”. Constata também a sua fraca importância na região ao referir que “o modo ferroviário não se apresenta como meio de transporte competitivo na Região do Oeste, apresentando quotas residuais, inferiores a 0,2% quando comparada com o transporte individual e com o transporte coletivo rodoviário”.
No entanto, dá-se conta do seu enorme potencial. O estudo compara a população servida pela Linha do Oeste e pela Linha do Norte entre Lisboa e Alfarelos (excluindo os concelhos limítrofes de Lisboa) e conclui que “no troço Mafra-Montemor-o-Velho, a linha do Oeste totaliza cerca de 657 mil habitantes, ou seja, mais 256 mil (+39%) habitantes do que aqueles que existem nos concelhos atravessados pela linha do Norte entre Alenquer e Montemor-o-Velho”.
E é pegando neste potencial de mercado numa Linha do Oeste devidamente modernizada que a IP sugere a criação de Intercidades entre o Porto e Lisboa através de Leiria, Caldas da Rainha e Torres Vedras, no que seria “a reversão do atual paradigma de desinvestimento e gradual abandono, para uma nova realidade de competitividade que, além de potenciar o efetivo crescimento da quota modal ferroviária, abre a região a um leque de novas oportunidades proporcionadas pelo aumento da acessibilidade ferroviária”.
O estudo sugere, ainda, que os serviços internacionais Sud Expresso e Lusitânia Expresso (ambos suspensos desde 2020 devido à pandemia) circulem pelo Oeste “agregando pontos de interesse turístico à viagem, cuja marcha é suficientemente alargada para comportar o actual tempo de viagem pela linha do Oeste”.
Quanto às mercadorias, a IP reconhece que a linha não é competitiva para o transporte de carga “por via da inexistência de serviços de tração eléctrica”, mas admite que “a instalação de catenária contribuirá para o aparecimento de novos fluxos de mercadorias e transformará a linha do Oeste numa alternativa redundante à linha do Norte”.
Este estudo foi obtido após uma deliberação da CADA (Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos) e uma sentença do Tribunal Administrativo de Lisboa terem obrigado a IP a divulgá-lo.
A empresa anexou-lhe uma nota interna na qual refere que o documento “tem um carácter meramente perfunctório, não tendo as respetivas conclusões sido objeto de qualquer aprovação interna na IP”. Além disso, acrescenta que “o nível de intervenções está subestimado, determinando elevado grau de incerteza relativamente aos investimentos”. ■
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