Família de emigrantes nos Estados Unidos investe na terra onde nasceu

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O alojamento local Casal Velho, situado no Guisado, é uma homenagem de Rogério Justino aos avós maternos

Rogério Justino, juntamente com a filha Grace, nascida em Long Island, gerem um alojamento local no Guisado. O emigrante tem mais projetos para investir na terra Natal

Natural do Guisado, Rogério Justino emigrou para os Estados Unidos em 1986. Tinha 22 anos e a tropa acabada de cumprir. Emigrar nunca tinha feito parte dos seus planos e, reconhece, quando era mais novo até via com alguma estranheza aqueles que saíam do país à procura de uma vida melhor. Mas o falecimento da mãe, uns anos antes, levou-o a “reprogramar” a vida e partir rumo a Long Island (ilha do estado de Nova Iorque), onde já viviam a sua namorada, e atual esposa, e os pais dela, originários do Valado de Santa Quitéria.

Grace da Silva com o pai, Rogério Justino, no Guisado. Este ano já viajaram sete vezes a Portugal

Para trás deixava a avó paterna, com quem viveu grande parte do tempo, e o pai, que era embarcado. Em terras do Tio Sam, encontrou uma nova família e foi trabalhar para a empresa do sogro, composta por matadouro, transformação e distribuição de carne de aves, juntamente com o cunhado. “Sempre pensei em ter um negócio próprio, o que veio a acontecer passados 35 anos”, conta Rogério Justino, recordando a aquisição de um matadouro. Inicialmente tinha intenção de ter um negócio autónomo mas, a conselho da família, acabaria por dar sociedade ao cunhado e ficaram com dois matadouros.
Do casamento com Esmeralda, que conheceu num baile de Verão, nasceram Olívia e Grace, de 33 e 31 anos, respetivamente. A mais nova, Grace da Silva é quem gere com ele o investimento que fez na terra Natal, a recuperação da casa dos avós e transformação em alojamento local, que começou a funcionar este ano, depois de uma primeira experiência em 2023.

Uma homenagem aos avós
A casa dos avós maternos, da qual guarda muitas lembranças porque passava muito tempo com eles, começou a ser recuperada em 2000 e agora encontra-se a funcionar como o alojamento local Casal Velho, proporcionando aos clientes, muitos deles americanos, canadianos, franceses e espanhóis, o sossego da aldeia. “A casa foi toda catalogada, tive o cuidado de procurar uma empresa especializada em reconstrução”, explica Rogério Justino, especificando que foram catalogadas diversas peças e depois guardadas aquando da demolição da casa (com excepção da adega). O proprietário já tinha a ideia do que queria e os materiais foram aproveitados, tendo agora um novo uso.

Uma antiga janela agora transformada em moldura com as fotos da família materna de Rogério Justino

A padieira da lareira dos avós são agora o candeeiro da cozinha, enquanto que as janelas antigas deram origem a molduras com retratos e as pedras das portas e janelas foram incluídas nas escadas. O lagar foi transformado em biblioteca e zona de lazer.
“Tentei ir ao encontro do que as pessoas procuram, pois quando vão de férias querem estar num espaço diferente e, se possível, melhor do que estão nas suas casas”, referiu, acrescentando que, no interior da casa, o ar está sempre a ser filtrado. Para além do alojamento, também podem ser disponibilizados diversos serviços aos clientes.
O negócio de família ocupa agora grande parte do tempo de Grace da Silva, que também tem outros investimentos em Portugal e passa o ano entre os dois países. Com o genro a seguir os rumos da empresa nos Estados Unidos, Rogério Justino pretende começar a passar cada vez mais tempo na residência que tem no Guisado e também começar um novo projeto no terreno que era da avó paterna e que fica a poucas centenas de metros da aldeia. “Gosto de fazer coisas diferentes, desafiar”, conclui o emigrante que se integrou “muito bem” na comunidade americana mas que, também, sempre quis preservar as suas origens. Rogério Justino fez sempre questão que as filhas falassem português, ainda que esta não fosse uma língua optativa nas escolas. Com a ajuda da comunidade brasileira conseguiram introduzir o ensino da língua e Grace teve uma disciplina de Português no primeiro ano da faculdade. “Mas como ela falava português fluentemente, por vezes tinha de ajudar o professor, que era chinês e tinha estado no Brasil!”, recorda o emigrante. ■