
A 1 de outubro Gazeta das Caldas assinalou os 98 anos e também foi dia de aniversário para Susana D’El Rio Chust. A presidente dos Pimpões é filha de Domingos Del-Rio e, quando nasceu, o pai era chefe de redação do jornal
Susana D’El Rio Chust tem uma ligação especial com a Gazeta das Caldas, promovida por vários elos. Nascida a 1 de outubro de 1965, precisamente no dia em que o jornal assinalava os 40 anos da fundação, Susana é filha de Domingos Del-Rio, que à data do seu nascimento era chefe de redação e diretor das Notas Desportivas, a página de desporto da Gazeta de então.
A coincidência das datas do seu nascimento e da fundação da Gazeta das Caldas foi algo que Susana Del-Rio Chust só se apercebeu em anos mais recentes. “Eu nem sequer sabia, essa curiosidade, que tinha nascido no mesmo dia da fundação da Gazeta, não era uma coisa de que falássemos em casa”, diz Susana, que hoje atribui ao dado “uma simbologia engraçada, porque o meu pai trabalhou na Gazeta, e a Gazeta sempre foi a referência lá em casa. Mesmo havendo outros jornais nas Caldas ao longo destes anos, foi sempre a Gazeta, porque ele trabalhou e dedicou-se muito ao jornal. É uma ligação que tenho desde pequenina”, conta.

Domingos Del-Rio terá iniciado a sua colaboração com a Gazeta das Caldas na década de 1940. As primeiras vez que o nome do jornalista surge associado à escrita regular de artigos é, muito curiosamente, a… 1 de outubro de 1949, apesar da colaboração com a Gazeta seja anterior. Tinha, nessa, altura, 30 anos e Susana só nasceria, precisamente, 16 anos depois. Domingos Del-Rio assinava as Notas Desportivas do jornal que, na altura, se publicava a cada 10 dias e vinha a reerguer-se após um período conturbado, no qual teve apenas uma edição nos anos de 1946 e 1947, voltando à publicação regular em 1948.
É com Domingos Del-Rio que a Gazeta passa a ter uma rubrica desportiva regular, que acompanha o crescimento da atividade desportiva na cidade, nas diversas modalidades. Esta fase é marcada pela ascensão do Caldas SC no panorama futebolístico, primeiro a nível distrital, depois a nível nacional, com a subida do clube à 1ª Divisão Nacional.
Também em outubro, mas de 1959, Domingos Del-Rio assume a chefia da redação da Gazeta, que acumulava com a direção das Notas Desportivas. E era essa dupla função que o jornalista ocupava na Gazeta quando Susana nasceu.
As memórias que Susana Del-Rio Chust guarda da Gazeta nessa altura são vagas, até porque era ainda pequena. “Lembro-me onde era a Gazeta, no sítio onde fica o edifício onde ainda está, mas que era uma casinha pequenina. Lembro disso, de estar ali ao pé”, conta. “É muito provável que lá tenha entrado com ele, porque tenho ideia daquele cheiro das máquinas da impressão – sou muito ligada a cheiros -, e nunca fui a nenhuma tipografia que imprimisse jornais depois disso, mas do jornal em si não tenho memórias”.

No entanto, há outras que guarda mais frescas. “Eu ia ver os jogos todos com ele, principalmente os do Caldas, e lembro-me perfeitamente de ele sair dos jogos a correr para ir dar as equipas e o resumo dos jogos para outros jornais onde trabalhava, por telefone”. “Recordo-me também de ir ver os jogos do Benfica com ele sem pagarmos nada, porque ele era da imprensa, mas nessa altura ele já não estava na Gazeta”, acrescenta.
Em janeiro de 1971, Domingos Del-Rio assumia o cargo de subdiretor do jornal, sob a direção do Dr. Carlos M. Saudade e Silva, que ocupou até 6 de setembro desse ano.
“Ele fazia de tudo na Gazeta, tinha uma dedicação enorme. Ele tinha o emprego dele, na Sodicel, e depois investia muito na Gazeta. Passava lá muito tempo, e não só não tinha ordenado pelo trabalho, como investia dinheiro dele no jornal”.
Depois da Gazeta das Caldas, Domingos Del-Rio continuou a trabalhar como jornalista, tendo colaborações com o Diário de Notícias e com a ANOP, a agência noticiosa da qual nasceu a Lusa.
Da dedicação do pai à Gazeta, Susana Del-Rio Chust só tem um lamento: “penso que nunca houve um reconhecimento. O meu pai sempre foi, assim como eu, low-profile, não gostava de aparecer, nós fazemos porque gostamos de fazer, não é para aparecer, nem para que nos agradeçam, mas ele merecia, pela dedicação que sempre teve”.
Mesmo depois dessa saída, ficou sempre a referência do jornal no seio da família. “Penso que a minha mãe até hoje recebe a Gazeta, foi uma coisa que ficou sempre”, acrescenta Susana.
Apesar de conhecer a história, Susana Del-Rio Chust diz que nunca teve curiosidade de procurar o trabalho do pai no jornal. “Acabei por ler muitas coisas que ele escrevia, quando as escrevia. Penso que será engraçado um dia fazer isso, gostava de saber dessas datas, de quando começou, o que escrevia, quando saiu”, afirma.

Apesar da ligação estreita ao desporto – até porque também foi desportista, chegando a integrar uma ilustre equipa de hóquei em patins do Sporting Clube das Caldas e também porque apoiou, através da Sodicel, a prática desportiva –, Susana Del-Rio lembra-se do pai como “uma daquelas pessoas que se interessava por tudo: ia às reuniões da Câmara, tudo o que acontecia na cidade lhe interessava, tinha uma cultura incrível”, conclui. ■