Há ainda quem pense que são a mesma coisa, mas em comum têm apenas o facto de serem dois negócios em que a comida é servida rapidamente. Os veículos do Street Food têm aspecto vintage e a maioria dos empresários aposta em produtos de qualidade, procurando um conceito gourmet. É por isso que o preço a pagar pelos clientes também é diferente.
Gazeta das Caldas falou com a caldense Maria João Botas, organizadora dos festivais Street Food On Tour, que é da opinião que o Street Food não é apenas uma moda. Veio para ficar e está em crescimento.
“Pensar que o street food é fast food é ter uma ideia completamente errada, mas em Portugal ainda há muita gente com essa mentalidade”, diz Maria João Botas, realçando que a comida de rua não é padronizada nem tem aquele aspecto gorduroso. “Investimos cada vez mais em produtos de qualidade e em servir pratos criativos, que marquem pela diferença”, acrescenta. Isto significa que hoje em dia não basta vender hambúrgueres, é preciso que esses hambúrgueres sejam especiais por algum motivo.
É por isso que os preços praticados no street food são mais elevados que aqueles que encontramos nas cadeias de fast food.
“O cliente estrangeiro está mais habituado que o português, mas aos poucos as mentalidades vão mudando”, afirma Maria João Botas, revelando que em países como os Estados Unidos, Brasil, Espanha, Inglaterra, Itália, Bélgica e França o street food está por todo o lado. É inclusive uma forma de “escape”, pois as pessoas aproveitam as horas de refeição para saírem à rua e descomprimirem após tantas horas a trabalharem num espaço fechado.
Esta empresária, que é detentora da marca Miss Vinagreta e organizadora do Caldas Street Food, diz que os restaurantes sobre rodas funcionam mesmo como um ponto turístico. E ainda que nem todos os turistas parem para comer, pelo menos fazem-no para tirar fotografias. É que o próprio veículo é apetecível aos olhos e há cada vez projectos mais originais. “Posso mesmo dizer que relativamente à criatividade do design dos food trucks, o nosso país é dos melhores”, diz a empresária, que também é designer.
Hoje em dia pode-se transformar uma carrinha pão de forma, uma piaggio APE50 ou um atrelado com investimentos que variam entre os 70 mil e os oito mil euros. Tudo depende das funcionalidades que se pretende acrescentar ao veículo. Tal como os restaurantes, também os food trucks são obrigados a cumprir as normas da ASAE e HACCP.
“Há maior proximidade com o cliente”
Como em todos os negócios, também no street food há vantagens e desvantagens. Começando pelos aspectos negativos, os veículos estão muito mais condicionados que um restaurante no que respeita à quantidade de comida que podem servir. Isto principalmente nas viaturas mais pequenas, onde não sobra grande espaço para armazenamento. Além disso, este é um negócio que ainda depende muito das condições climatéricas – a chuva e o frio podem arruinar um dia de vendas porque o “cliente português ainda está muito habituado a ficar em casa quando faz mau tempo”, sublinha Maria João.
Mas depois há também um conjunto de mais valias que fazem com que se ganhe um “bichinho pelo street food que é muito difícil de perder”. A começar pelo atendimento.
“Costumo dizer que no street food os clientes são tratados como amigos, porque o ambiente de informalidade faz com que as pessoas se sintam muito à vontade”, realça Maria João Botas, salientando que através das redes sociais já há clientes fidelizados que seguem os food trucks pelos vários locais onde vão estacionando. “Isto com a vantagem que a paisagem onde se come nunca é a mesma”, acrescenta.
Com a participação em festivais e eventos privados, os empresários do street food também têm oportunidade de lidar com públicos muito diferentes e divulgar os seus produtos de norte a sul do país. São mais vantagens às quais se junta o facto deste ser um negócio desafiante porque obriga os vendedores a fugirem à regra para apresentarem pratos diferenciadores.
Tal como Maria João Botas, que se aventurou no street food por ter ficado desempregada, há muitos mais exemplos de projectos que nasceram da crise. “Depois há ainda casos de pessoas que investiram neste negócio porque queriam dar uma volta de 180 graus à sua vida, sair da rotina…”, explica a empresária, realçando que há também cada vez mais restaurantes que vêem no street food uma estratégia de marketing e publicidade da sua marca.
“Câmaras têm medo do comerciante tradicional”
Quem se inicia no Street Food tem três hipóteses: ou obtém licenciamento para estacionar o veículo e vender num ponto fixo, ou participa em eventos como festivais, ou junta as duas opções anteriores. Normalmente, os empresários começam por vender em festivais – não só os específicos de street food como outros em que sejam necessários carros de comida ambulantes – mas nem todos conseguem dar o pulo para um local de venda fixo. Isto porque são as Câmaras Municipais as autoridades competentes para atribuir as autorizações. E nem todas estão receptivas ao street food.
“Os autarcas são resistentes porque têm medo que o comerciante tradicional se vá queixar, mas é um erro. O street food atrai muita gente e funciona como complemento ao comércio que está nas suas proximidades. É bom para todos”, diz Maria João Botas, dando como exemplo o Caldas Street Food Festival, evento que durante três dias enche a Avenida de restaurantes ambulantes e com o qual os comerciantes locais também saem beneficiados. Eles próprios o afirmam.
Nas Caldas da Rainha há três projectos de street food: a Miss Vinagreta vende pequenas sandes com recheios saudáveis, a Poffs vende mini panquecas holandesas com coberturas artesanais e a Ora Bolas vende bolas de berlim. Na Lourinhã o Vai à Fava dedica-se à confecção de pratos gourmet saudáveis.
Sobre o futuro do street food, Maria João Botas acredita que “a comida de rua não é apenas uma moda, veio para ficar, mas só os melhores projectos vão conseguir ter sucesso”. Segundo dados da Associação Street Food Portugal este é um sector que vale cerca de 5,7 milhões de euros e está em pleno crescimento: desde 2015 o número de negócios duplicou de 200 para 400.