A receita original pertence à esposa do tenente Sangreman Henriques, que o produzia na Rua Miguel Bombarda. No início do século XX podíamos encontrar o Pelicano nos principais cafés da cidade, mas a partir dos anos 60 o famoso pastel deixou de ser comercializado. Agora regressa pelas mãos do grupo Calé – Confeitaria Tradicional Portuguesa (proprietário dos estabelecimentos Comtradição) que após dois anos de pesquisa e experimentação conseguiu recuperar este doce típico caldense.
O Pelicano voltou à Miguel Bombarda. Era nesta rua que no início do século passado o pastel era produzido por Maria Luísa, esposa do tenente Sangreman Henriques com a ajuda de mais uma senhora. Depois era distribuído de bicicleta pela “mulher eléctrica” – assim conhecida por andar sempre acelerada – que fazia chegar o doce aos principais cafés das Caldas.
Nos anos 60 o Pelicano deixou de ser produzido e desapareceu das montras dos cafés. Dizemos que agora regressou à Rua Miguel Bombarda porque, coincidentemente, uma das pastelarias Comtradição também tem essa morada e é nesse estabelecimento (ou no Comtradição junto à estação rodoviária) que o podemos voltar a encontrar.
A necessidade de recriar este doce típico surgiu porque “não comercializávamos nenhum produto que fosse exclusivamente tradicional caldense e muitos turistas perguntavam-nos se não havia nenhum doce original da cidade”, explica Hélia Calé, administradora do grupo Calé, que detém as pastelarias Comtradição. “Quando soubemos por um amigo caldense que em tempos tinha existido o pastel Pelicano mas que já não era produzido, achámos que seria uma excelente ideia tentar recuperá-lo”, acrescenta a responsável.
Foram necessários dois anos para chegar à versão mais aproximada do Pelicano original, isto porque não existia qualquer receita ou documentos escritos sobre o pastel. O grupo Calé partiu para esta recriação quase às cegas, valendo-se de um grupo de cerca de 50 pessoas que conhecia o Pelicano e foi provando as várias versões do pastel, dando dicas sobre o sabor, a textura e a forma, até ser encontrada a fórmula final deste doce.
“A única pista que tínhamos ao início é que o Pelicano era feito à base de ovo e amêndoa”, conta Hélia Calé, acrescentando que a única alteração que fizeram foi reduzir a percentagem de açúcar, uma vez que o grupo Calé tem nos seus ideais a preocupação com a saúde. Prova disso é que já desenvolveu produtos de pastelaria e padaria sem quaisquer adições de açúcares.
Além do sabor a ovo e a amêndoa, o Pelicano distingue-se pela sua massa fina e crocante, que no seu interior contém um recheio não muito doce com uma textura suave. É depois embrulhado em papel vegetal, à moda antiga. Já existe também uma caixa com design exclusivo para este produto, onde é contada a sua história em português, inglês e francês. O nome – Pelicano – faz referência a um dos símbolos do brasão das Caldas e que está relacionado historicamente com o rei D. João II (marido da Rainha D. Leonor).
Desde finais do mês de Abril que o pastel se encontra à venda e, segundo Hélia Calé, a reacção dos clientes tem sido positiva. “Os que se lembram do Pelicano ficam orgulhosos pelo facto de alguém se ter lembrado de recuperá-lo, enquanto os mais jovens, que não o conheciam, mostram-se surpreendidos pela positiva”, afirma, realçando que o passo seguinte é que os caldenses voltem a associar o Pelicano à doçaria tradicional da cidade.
Desde 2009 que o grupo Calé está presente nas Caldas com dois estabelecimentos Comtradição. Este grupo surgiu há 37 anos em Peniche e começou por dedicar-se apenas ao fabrico de pão. Mais tarde estendeu a sua actividade à pastelaria e cake design. Em Peniche tem mais um estabelecimento e é aqui que também tem instalada a sua linha de produção. Além dos espaços físicos de venda ao público, o grupo também distribui os seus produtos por escolas, restaurantes e unidades hoteleiras da região. Emprega ao todo 40 funcionários.
A aposta na criação de produtos inovadores tem sido uma constante do grupo Calé, que recentemente desenvolveu em conjunto com a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar o pão d’algas e o pão do mar. São também suas criações o pão biológico, as sardinhas e os esses de Peniche e o pastel d’algas. Junta-se agora o Pelicano.
Parabéns por esta excelente ideia. Há que registá-la rapidamente para não serem ultrapassados por alguém maldoso.
Este pastel designado Pelicano, não era fabricado pelo Sr. Paços ou Passos no Beco do Borralho?