Grupos de folclore e gaiteiros levaram a cultura popular ao coração da cidade

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As tradições voltam às ruas da cidade levando-a a recordar um tempo em que ainda era vila. Este foi também o retomar da atividade cultural para os vários grupos do concelho, e das localidades vizinhas, após o período de pandemia

“É para o Joaquim Orelhas a pulha que vou lançar. Não é homem de grandes pressas, principalmente quando está a trabalhar”. Esta foi apenas uma das pulhas (boatos) lançadas pelos elementos dos ranchos folclóricos, a par de inconfidências sobre namoros proibidos, queixas de trabalhadores descontentes e piropos, numa das recriações feitas enquanto desfilavam pela cidade. As apelidadas pulhas, antigamente entoadas à noite na aldeia e que apregoavam o que se dizia pela calada durante o dia nas vindimas ou na apanha da fruta, foram a novidade desta edição das Tradições da Vila, que voltaram a percorrer a cidade, durante a manhã de 9 de outubro, e após um ano de suspensão devido à pandemia.

Profissões e saberes do passado “desfilaram” pela cidade para mostrar como se vivia e trabalhava noutros tempos

Perto de centena e meia de elementos de grupos folclóricos e de grupos de gaiteiros e concertinas participaram no desfile que começou junto à Escola D. João II e percorreu várias ruas da cidade, recriando as vivências de finais do século XIX, inícios do século XX. “Do religioso ao profano, do trabalho rural ao ambiente de festa, das brincadeiras de escola aos teatros de robertos, dos pregões às fogaceiras, das desgarradas aos fandangos, das danças de roda coletivas às modas espontâneas, dos trajes ricos aos trajes de trabalho, tudo nos transporta de volta no tempo e se transforma num quadro vivo do passado”, resume a apresentação do projeto. E este ano com uma determinação ainda maior. “Esta é a primeira atividade, após a pandemia, para todos os grupos”, explicou Sérgio Pereira, da organização do evento. De acordo com o responsável, a iniciativa pretendeu também estimular o arranque das iniciativas por parte dos grupos populares, alguns deles bastante “adormecidos” por causa da pandemia.

Perto de centena e meia de elementos de grupos folclóricos e de grupos de gaiteiros e de concertinas participaram no desfile

A ideia foi proposta às juntas de freguesia urbanas, mas havia uma condição: o desfile só seria feito quando os seus elementos não tivessem de usar máscara na rua. Isto porque, de acordo com Sérgio Pereira, não lhes é permitido, quando trajam, usar elementos que identifiquem a atualidade por causa do rigor histórico e etnográfico a que estão sujeitos. “Se não permitimos o uso do relógio, as unhas pintadas, e brincos só com características da época, não fazia sentido usarmos máscara”, explicou. Quem não se privou da tecnologia do século XXI foram os transeuntes que, confrontados com esta manifestação de cultura popular, filmaram e fotografaram todos os pormenores que conseguiram.

O evento, organizado pelos grupos de folclore do concelho, quer voltar para o ano, durante mais tempo e alargando-se a outros pontos da cidade

Aos grupos de folclore do concelho, juntaram-se os convidados ranchos folclóricos de Geraldes e do Arco da Memória, o grupo de bombos da ETEO, as concertinas da Rebolaria (Batalha) e de Óbidos e vários gaiteiros. Também os atores José Ramalho e Inês Fouto participaram, recriando as figuras de Bordalo Pinheiro e da Saloia num quadro sobre a vida mundana da altura.
Este ano a recriação decorreu apenas durante o período da manhã, e com grande envolvência das pessoas que circulavam pelas ruas. O objetivo é que o evento possa ter continuidade, aumentando a sua duração e também chegando a outros pontos da cidade, um pouco à semelhança do que já foi feito pelos gaiteiros, que percorreram outras ruas que não as do cortejo e foram ao Parque, animando esses locais durante a manhã de sábado.
Os presidentes das uniões de freguesia da cidade, Jorge Varela e Vitor Marques, salientaram que esta iniciativa foi um exemplo da colaboração entre as duas freguesias da cidade e destacaram o papel de Sérgio Pereira na dinamização do evento.■