Está a decorrer, nas Caldas da Rainha, o Festival Artístico de Linguagens Urbanas (FALU), uma iniciativa da Associação Riscas Vadias e que conta com o apoio do município. O evento, que decorre até Outubro,tem curadoria do caldense Daniel Eime, autor do retrato da sénior que pode ser apreciado nos Silos,tem como objectivo constituir no futuro uma rota de arte urbana, que se poderá associar-se à rota bordaliana
São da autoria de Nuno Viegas e de AkaCorleone as duas pinturas murais já concluídas e que fazem parte da primeira edição do Festival Artístico de Linguagens Urbanas (FALU) das Caldas da Rainha.
Cada um dos autores realizou uma pintura mural na Praça 5 Outubro e na Rua Augusto Gil, próximo do Centro da Juventude, respectivamente (ver caixa). O evento está a ser organizado pela Associação Riscas Vadias, que é também a entidade responsável pela iniciativa congénere que tem lugar em Leiria.
Segundo Carla Tavares, da associação, esta edição de estreia está a ter uma óptima receptividade do público. “Várias pessoas vêm ter connosco, perguntam sobre o mais sobre as peças que estão a ser feitas e onde serão as próximas”,contou a responsável que também faz parte da organização do Leiria Paredes com História: Arte Pública”, evento que já teve três edições e tem em preparação uma nova edição que decorrerá em Setembro ou Outubro.
Cidades são
“galerias a céu aberto”
O FALU nas Caldas da Rainha vai contar com cinco peças de arte urbana e tem ainda o objectivo de se constituir uma rota de arte urbana.
“A nossa ideia era que esta proposta se pudesse juntar com a Rota Bordaliana que já existe. Há público específico para este tipo de arte”, disse a organizadora à Gazeta das Caldas, acrescentando que estes festivais acabam por transformar as cidades em “galerias a céu aberto”.
O “Leiria Paredes com História: Arte Pública” já soma 17 peças de arte urbana e tem roteiro constituído, que proporciona uma experiência diferente ao visitante que “pode fazer um percurso à beira rio”, especificou a responsável das Riscas Vadias, explicando que é neste evento que acontece na capital de distrito que o festival caldense se está a inspirar.
O festival tem como director artístico Ricardo Romera, também ele um autor de arte urbana. “Tem sido realmente uma experiência fantástica!”, disse Carla Tavares, explicando que em Leiria todos os trabalhos de arte urbana têm sido respeitados e a rota é constituída por peças “de grande qualidade artística”.
Carla Tavares conta que nas Caldas o público tem reagido com muita alegria e satisfação mesmo em relação aos trabalhos que têm sido propostos. No início, a organização do FALU não revelava o teor ou os temas dos projectos, pois, segundo a organização querem “continuar a surpreender o público”.
Visitantes que
seguem arte urbana
Carla Tavares referiu também que, à semelhança do que acontece em Leiria, o FALU poderia ir “somando” intervenções nesta iniciativa que poderia ser anual. A Câmara Municipal das Caldas da Rainha está a apoiar a concretização do festival de arte urbana e investiu 47.500 euros (mais IVA) nesta realização, que “vai ser muita enriquecedora para a cidade e vai ajudar a atrair mais visitantes”. Segundo a responsável, há público específico que se desloca para conhecer peças de arte urbana e que “até seguem artistas a nível nacional e internacional”.
No Posto de Turismo de Leiria já há panfletos sobre a rota do Paredes com História que são distribuídos pelos visitantes.
A dirigente, à semelhança do que acontece no evento leiriense, considera que o FALU também tem condições de se tornar um evento anual e de referência.
O festival caldense prossegue com a intervenção do caldense Daniel Eime – o autor da sénior que decora os Silos – e que vai intervir numa nova peça na Rua Coronel Soeiro de Brito onde fica o terminal dos autocarros.
O início da peça deste artista local que é também o curador do FALU, estava previsto ter início ontem, 2 de Julho. A proposta do curador deverá terminar a 7 de Julho.
Por seu lado, Add Fuel tem a sua intervenção marcada para o período entre os dias 10 e 15 de Julho, na Rua do Capitão Filipe de Sousa. Os dois artistas vão fazer pintura mural recorrendo à técnica do stencil.
Semelhanças fonéticas
O FALU tem esta designação por possuir semelhanças fonéticas com o elementos figurativo característico da cidade: o falo. Assim como também remete para a mesma palavra e que pode igualmente ser associada aos actos de falar e expressar.
O evento vai encerrar com a intervenção de Bordalo II, prevista para Outubro deste ano.
A iniciativa que se dedica à arte urbana está definitivamente a dar que falar entre a população. Segundo Carla Tavares, as pessoas têm expressado o seu interesse, não só nos locais onde os artistas vêm executar as suas propostas artísticas, como também “enviam várias mensagens, mostrando-se satisfeitos, com a iniciativa”.
A arte urbana poderá ser mais um atractivo futuro para conquistar visitantes.
A organizadora considera que há todo o interesse em aliar esta nova rota, que agora está a nascer à pré-existente que é composta pelas peças em tamanho natural, feitas pela Fábrica Bordallo Pinheiro.
AkaCorleone: “Foi bom regressar para fazer um projecto de arte pública”
Pedro Campiche, mais conhecido no mundo artístico como AkaCorleone, é o autor da peça “Obrigado” que foi feito, nas proximidades do Centro da Juventude, no Bairro da Ponte. Na sua pintura mural, quis prestar homenagem aos profissionais de saúde que estiveram na linha da frente na luta contra o novo coronavírus. Este artista, que durante dois anos viveu nas Caldas da Rainha, também trabalha como designer gráfico e ilustrador é também conhecido por preferir fazer os trabalhos à mão do que usar o computador.
Gazeta das Caldas (GC): Como se designa e sobre que tema é a sua intervenção nas Caldas, no âmbito desta primeira edição do FALU?
Aka Corleone (AC): O título da minha obra é OBRIGADO e é uma homenagem a quem está na linha da frente a trabalhar para que estejamos protegidos e seguros em tempos de pandemia provocada pelo novo coronavírus. Estive quatro meses sem pintar murais. Fazia todo o sentido para mim que o primeiro mural pós quarentena fosse de alguma forma um agradecimento a quem nos tem permitido continuar com as nossas vidas da forma mais segura e confortável possível… Obrigado a todas estas pessoas, que foram e são tão importantes para a sociedade e que abdicaram, por vezes, de algum conforto e segurança pessoal para cuidar de todos nós. Mais uma vez: OBRIGADO.
GC: Como foi a experiência de participar nesta primeira iniciativa nas Caldas da Rainha?
AC: Foi muito bom voltar às Caldas da Rainha, onde já vivi durante dois anos. Ainda ganha mais significado voltar especialmente para realizar um projecto de arte pública. Na minha peça posso deixar algo pessoal e que espero, possa também trazer alguma alegria a quem passa pelo próprio local. Aliás, esta cidade tem uma ligação forte às artes e a um espírito criativo e independente. Como tal, considero que é muito importante haver mais projectos que incentivem esta criatividade.
GC: Quais são os seus próximos projectos? Algum previsto para a região Oeste?
AC: Neste momento estou apenas focado em avançar com alguns projectos pessoais que já queria desenvolver há algum tempo e que com esta situação de pandemia e de grandes restrições acabei por ter tempo para explorar mais. Gostava muito de voltar às Caldas da Rainha e desenvolver algum projecto associado à tradição da cerâmica na região, vou trabalhar nesse sentido.
Nuno Viegas: “Caldas poderá ser museu a céu aberto de arte urbana”
Nuno Viegas fez a primeira intervenção do FALU na Praça 5 de Outubro designada “Glove x Golden Paper Crown”. Este artista, que já viveu na Holanda, antevê um futuro brilhante para as Caldas, pois considera que a localidade poderá vir a ter um grande museu a céu aberto com os maiores nomes do panorama nacional e internacional, bem como ser uma nova plataforma para os artistas emergentes.
Gazeta das Caldas (GC): Como se designa e sobre que tema é a sua intervenção nas Caldas?
Nuno Viegas (NV): O nome desta pintura mural é “Glove x Golden Paper Crown”. Todas as minhas pinturas reflectem sobre elementos do mundo do graffiti. Neste caso, a Luva de Latex e a Coroa. Esta imagem já tinha sido criada ha cerca de um ano e pintada em tela e fez todo sentido voltar a pintá-la, desta vez em grande escala num mural nas Caldas da Rainha. Apesar de o conceito inicial nada ter a ver com as Caldas, nesta cidade especificamente a obra ganha uma nova leitura onde a luva pode ser associada ao médico e a coroa à Rainha. Contudo é importante mencionar que isto não é graffiti, à semelhança da pintura do cachimbo de René Magritte, uma das minhas grandes referências.
GC: Como foi a experiência de participar nesta primeira iniciativa nas Caldas da Rainha?
NV: É sempre com enorme prazer que participo em festivais como este. Especialmente no meu país onde tenho pouquíssimos trabalhos. Fui muito bem recebido nas Caldas pela organização, administração e população. A organização deste evento foi excelente, e a continuar nestes moldes só consigo antever um futuro brilhante para o evento bem como para a cidade que poderá vir a ter um grande museu a céu aberto com os maiores nomes do panorama nacional e internacional, bem como uma nova plataforma para os artistas emergentes. Voltei para casa grato por esta experiência. Por isso, não me canso de agradecer a todos.
GC: Quais são os seus próximos projectos? Neste momento, tem algum previsto para a região Oeste?
NV: Este ano, devido à covid-19, toda a minha agenda foi adiada ou cancelada e consecutivamente reajustada com novos projetos. Aquela que era uma agenda totalmente preenchida desde meados de 2019, sem espaço para novos projectos até meados de 2021, está agora bastante livre. Em Julho irei participar com uma pintura mural para o projeto “Sou Quarteira”, na minha cidade natal. Em Outubro tenho exposição a Solo em Los Angeles, nos EUA, o único evento que se manteve na agenda e não sofreu alterações devido à pandemia.
“C’MARIE & EGRITO” vão criar uma figura feminina
O próprio festival promoveu uma open call com o objectivo de possibilitar aos criadores naturais ou residentes nas Caldas da Rainha demonstrarem o seu trabalho e os vencedores foram a dupla “C’MARIE & EGRITO”.
A intervenção seleccionada vai realizar-se entre os dias 10 a 15 de Julho na Rua Dr. Leonel Sotto Mayor com a esquina da Rua José Pedro Ferreira (Caldas da Rainha).
Segundo Carla Tavares, concorreram 28 propostas e que foram seleccionadas por esta responsável da Associação Riscas Vadias, pela docente da ESAD, Teresa Luzio e por Rui Constantino, em representação da Câmara Municipal das Caldas da Rainha.
A organizadora não quis desvendar muito sobre o trabalho que se sagrou vencedor, tendo dito apenas que se tratava de uma figura feminina.
Os autores, que vão realizar pintura a spray na execução deste trabalho, já executaram mais trabalhos na cidade e que podem ser apreciados na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro e também nos muros exteriores da EB do Bairro da Ponte, que pertence ao Agrupamentos de Escolas Raul Proença.