Mulher com hemorragia teve de esperar os bombeiros à porta do hospital porque a Urgência estava fechada
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) abriu um inquérito ao atendimento no hospital das Caldas da Rainha a uma mulher com hemorragias, que sofreu um aborto espontâneo e que não teve assistência. O processo foi distribuído a duas equipas multidisciplinares, esclareceu o ministério da Saúde à Gazeta das Caldas.
A situação aconteceu na manhã de segunda-feira quando uma mulher, com hemorragias e após sofrer um aborto espontâneo, dirigiu-se ao hospital das Caldas e não lhe terá sido prestada assistência porque a urgência obstétrica estava encerrada. De acordo com o comandante dos Bombeiros das Caldas, Nelson Cruz, foram contactados às 7h21 pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) para irem ao parque de estacionamento do Hospital caldense, onde se encontrava uma senhora, de 32 anos e grávida de três meses, que tinha tido um aborto espontâneo. “Quando chegámos confirmámos que a senhora estava dentro da viatura, com uma hemorragia abundante, tinha o feto com ela num saco e o marido disse à equipa da ambulância que tinha pedido ao Hospital para ser atendido, mas que a Urgência estava fechada e mandaram ligar 112”, explicou o comandante à Gazeta das Caldas. A equipa, após a avaliação verificou que, devido à hemorragia grave, a senhora não estava em condições para fazer o transporte até Coimbra, para a Maternidade Bissaya Barreto, local para onde fora indicada.
“O colega alertou que estamos a falar de mais de 130 quilómetros de distância e mais de uma hora de caminho, que a senhora não estava em condições e que precisavam de um apoio diferenciado”, conta Nelson Cruz, acrescentando que, enquanto estava em contacto com o CODU, o bombeiro pediu ao marido da grávida para “tornar a ir à Admissão de Doentes insistir com o funcionário para ver se conseguiam entrar”. Receberam depois a informação, por parte do CODU, de que uma médica “viria ter com a equipa de ambulância e a vítima, que estava dentro da viatura particular, para lá fazer a sua avaliação”, mas tal não chegou a acontecer, pois o segurança do hospital viria informar os bombeiros para darem entrada com a senhora, tendo-a levado diretamente à maternidade.
Em comunicado, o conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Oeste, refere que a utente “ao chegar ao Hospital teve conhecimento através do cartaz afixado na porta da Urgência de Ginecologia/Obstetrícia que esta não estava a funcionar”, presumindo esta entidade que ela “tenha ligado para a Linha SNS 24 ou para o 112, e que tenha aguardado na viatura respetiva pelas indicações telefónicas”. Refere ainda que têm registo que a utente “apenas entrou no Hospital às 8h04 de hoje, tendo sido de imediato admitida. Em momento algum foi recusada a sua admissão, nem temos registo de várias insistências para admissão”, adiantando que a “situação mereceu o atendimento necessário e ficou em vigilância”.
O comandante Nelson Cruz diz que o teor do comunicado “não corresponde à verdade”, acrescentando que os tripulantes são testemunhas e que, inclusive, “o subchefe António Soares disse ao marido para lá ir outra vez insistir com eles [na Admissão de Doentes]”.
Urgência encerrada até dia 12
Por ausência de recursos humanos médicos, a Urgência de Ginecologia/Obstetrícia do Hospital das Caldas encontra-se encerrada até às 9h00 de dia 12 de agosto, “estando assegurado o funcionamento em rede com os Hospitais da zona Norte da Região de Lisboa e Vale do Tejo”. A ULS Oeste esclarece que o Plano de Verão contempla um funcionamento em rede dos Serviços de Urgência de Ginecologia/Obstétrica concertada entre os hospitais da zona Norte da Região de Lisboa e Vale do Tejo, tendo por base a premissa de manter sempre, pelo menos, uma Urgência em funcionamento. “Num contexto de carência de recursos humanos médicos especializados e forte dependência de prestadores externos, transversal a todo o território nacional, mas particularmente aguda nesta Unidade, a Maternidade da ULS do Oeste tem vindo a dar resposta à população, socorrendo-se do funcionamento em rede sempre que necessário”, refere. ■