Hospital Termal poderá sair do Serviço Nacional de Saúde

0
525
Fernando Costa quer que o Estado invista para tornar o Hospital Termal auto-sustentável

O Hospital Termal pode vir a sair do Serviço Nacional de Saúde. Essa é uma das possibilidades em estudo para o futuro do termalismo caldense, segundo o secretário de Estado da tutela, Fernando Leal da Costa.
“O Serviço Nacional de Saúde não tem que ser visto como a única forma de prestar serviços de saúde neste país. Nós não temos uma visão exclusivista relativamente ao SNS”, referiu o governante aos jornalistas, no final da cerimónia do 15 de Maio no hospital termal.
“Se tiver que ficar no SNS com certeza que ficará, mas qualquer solução que se encontre nunca pode ser vista numa lógica estritamente exclusivista do SNS”, continuou. Para já, “está tudo em aberto”.
O secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde explicou que só serão tomadas decisões depois de criado em portaria o futuro Centro Hospitalar do Oeste. Será também esse novo conselho de administração que irá decidir sobre a distribuição das valências nos hospitais da região, em conjunto com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. “Estamos à espera que saia o mais rapidamente possível a portaria”, disse.
Fernando Leal da Costa disse que o governo “tem a noção clara que existe nas Caldas um património muito importante, quer do ponto vista histórico, quer do ponto de vista daquilo que são as suas potencialidades para a saúde”.
O governo quer contar com a câmara das Caldas neste processo. “Nós sentimos que a Câmara Municipal quer resolver o problema, em acordo connosco”, afirmou.

A população caldense participou, como habitual, na homenagem à rainha D. Leonor

A intenção é apostar no turismo de saúde, “chamando outros actores à solução, uma vez que o Serviço Nacional de Saúde não tem, por si só, condições para ser a alavanca única de um processo que não pode ser visto de uma lógica interna”.
No seu discurso, o presidente da Câmara também deixou alguma abertura sobre esta questão. “Nós queremos que a dignidade desta casa seja mantida. Se possível, para nós é a melhor solução, mantendo-se dentro do Serviço Nacional de Saúde”, afirmou, dizendo que se não for possível, “é preciso que haja tempo” para essa mudança.
Em relação à gestão do hospital termal, o autarca afirmou que a solução só poderia passar por entidades que tenham experiência no ramo da saúde.
Também o ministro Miguel Relvas comentou que não se pode esperar que a gestão destes espaços se esgote no sector público.
“Temos de encontrar uma fórmula de garantir o futuro desta unidade, que terá passar pelo diálogo com a autarquia”, afirmou, acreditando nas potencialidades da área do termalismo. “Temos que desenhar o modelo institucional para que esta unidade tenha futuro”, reforçou.
Miguel Relvas revelou que esteve pela primeira vez no hospital termal caldense em 1998, numa visita com Durão Barroso. “Os problemas que hoje estou a ouvir, já ouvia naquela época”, disse.
O ministro contou ainda que quando esteve na África do Sul houve um emigrante português que lhe perguntou a opinião sobre investir nas termas caldenses.

Presidente do CHON falou da redução de custos e de obras realizadas

O presidente do conselho de administração do CHON, Carlos Sá, salientou que em 2012 se comemoram os 500 anos da assinatura do Livro do Compromisso da Rainha D. Leonor, fazendo uma resenha histórica sobre a génese do hospital termal caldense.
“Mais de 500 anos depois, a realidade da saúde na região é muito diferente. Os hospitais assumem hoje um papel fundamental na concretização de um dos pilares fundamentais do Estado Social, garantindo a prestação de cuidados de saúde universais a toda população”, comentou.
Carlos Sá recordou a integração funcional dos hospitais de Alcobaça, Caldas e Peniche, com a criação do CHON, com o qual “pretendeu-se obter sinergias, melhorar a qualidade, a acessibilidade e a equidade no tratamento”.
O responsável divulgou que o ano passado reduziram os custos operacionais em 4% e este ano está prevista uma redução de 9% no orçamento do centro hospitalar. “Estes resultados, obtidos sem penalização do princípio essencial da prestação de serviços de qualidade aos utentes, são apenas um exemplo da possibilidade de melhoria constante nesta área”, afirmou.
Carlos Sá garantiu que ao mesmo tempo estão a apostar na “melhoria da qualidade dos serviços de saúde e das condições de trabalho dos profissionais de saúde do CHON”, para o qual pediu uma salva de palmas no final do seu discurso.
O dirigente aproveitou ainda para enumerar algumas obras realizadas no hospital das Caldas, nomeadamente a requalificação das urgências, do bloco operatório (ainda a decorrer) e na urgência do serviço de Ginecologia e Obstetrícia.
Em Alcobaça foi requalificado e remodelado o bloco operatório e o serviço de Medicina, de modo a criar uma unidade de cirurgia de ambulatório. Em Peniche “foram igualmente realizadas obras de melhoria no serviço de urgência”.
Carlos Sá recordou ainda a aquisição de equipamentos de imagiologia (TAC, dois ecógrafos, mamógrafo, raio-x e um sistema de imagem digital). Segundo o responsável, estes ainda não estão a ser utilizados porque “estão a decorrer os trâmites processuais para a obtenção das autorizações necessárias para a realização das obras de adaptação do espaço físico, para a instalação dos equipamentos”.
O CHON está também a avaliar a possibilidade de desenvolvimento de políticas de utilização de energias renováveis, através do aproveitamento da energia geotérmica para aquecimento e instalação de painéis fotovoltaicos.
No seu discurso, sublinhou ainda a colaboração da Liga de Amigos do centro hospitalar e das autarquias.

“Não há nenhum hospital em Portugal que tenha uma receita tão elevada em relação à despesa”

Fernando Costa chamou a atenção do facto de se comemorar o feriado municipal com uma cerimónia num hospital “porque a cidade nasceu aqui e o coração das Caldas é esta casa”.
É por isso que “a questão do hospital termal é uma questão de identidade e de alma para a população das Caldas da Rainha e da região”.
O autarca salientou ainda que os edifícios à volta do termal são uma identidade arquitectónica e patrimonial da cidade e que “toda a gente, até hoje, respeitou esta origem e identidade”.
Aceitando que há constrangimentos financeiros no país, Fernando Costa referiu que há alguns anos o hospital termal recebia cerca de 8000 aquistas por ano “e era lucrativo, saía daqui dinheiro para sustentar o hospital distrital”.
Na sua opinião, nos últimos anos houve “desleixo e incúria” por parte dos sucessivos governos. “Se este hospital tivesse o rés-do-chão reparado condignamente, e para isso bastaria um investimento de cerca de um milhão de euros, poderia passar a ter 3000 ou 4000 utentes anualmente”, explicou.
Actualmente “o hospital tem despesas na ordem do um milhão de euros, mas também receitas de quase 400 mil euros”. Isto quando um hospital normal tem “um ratio entre despesas e de receitas de 2% a 3%”. Isto quer dizer que “não há nenhum hospital em Portugal que tenha uma receita tão elevada em relação à despesa”.
Na sua opinião, seria suficiente que fossem feitos os investimentos necessários para que esta unidade voltasse a ser auto-sustentável.
O edil caldense chamou ainda a atenção para o património do centro hospitalar. “Monumentos nacionais, de interesse público, não podem ser tratados como uma qualquer ponte que, ameaçando ruína, tem de ser destruída para ser substituída por outra”, comentou.
Fernando Costa fez questão de referir à frente dos governantes que a câmara tinha contribuído com 2.500 euros para a realização das análises das águas termais e que estava disponível para disponibilizar mais 50 mil euros do seu orçamento “para o funcionamento desta casa”.
O presidente da Câmara anunciou ainda que a autarquia está disponível para assegurar 500 mil euros por ano para o funcionamento e manutenção do Parque e da Mata.
Entre o discurso de Fernando Costa e Miguel Relvas, a directora do hospital termal, Conceição Camacho, entregou um envelope com um dossier em que constavam informações sobre esta unidade de saúde, que acabaria por ficar nas mãos do secretário de Estado da Saúde.

Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt

“Só Deus sabe o quanto gosto de Fernando Costa”, diz Miguel Relvas
A cerimónia no hospital termal foi precedida da habitual homenagem à rainha D. Leonor, com as entidades oficiais, já com a presença do ministro Miguel Relvas, a colocarem à frente à estátua os habituais ramos de flor.
Para além de homenagear a rainha, o governante fez a revista aos bombeiros voluntários das Caldas e cumprimentou os representantes das entidades que estavam presentes.
Já no hospital termal, fez questão de elogiar Fernando Costa. “Só Deus sabe o que eu gosto dele, apesar das divergências que muitas vezes temos”, disse. Segundo Miguel Relvas, Fernando Costa é muito bom autarca.
“Se há uma autarquia que tem sido bem gerida e com uma situação económico-financeira saudável, é a das Caldas da Rainha”, sem que isso significasse que o concelho não se desenvolvesse. “Foi tudo feito com equilíbrio, planeamento, dedicação e competência”, acrescentou, explicando que foi também por isso que se deslocou às Caldas. “Para deixar bem vincado a importância que a administração local tem para o desenvolvimento do país”, concluiu.
O governante aproveitou também salientar que as autarquias devem ter maior dimensão e passarem a ter competências que actualmente estão na administração central. “Esse é um caminho de reformas. O mais importante em Portugal é fazer essas reformas estruturais, que andamos a adiar há anos”, afirmou.

P.A.