Igreja Católica adapta celebrações natalícias ao contexto de pandemia

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Num ano marcado pela pandemia, a Igreja está a tomar medidas para evitar aglomerações como as que costumam acontecer todos os anos em épocas religiosas | DR
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A Igreja Católica adapta-se às circunstâncias de uma quadra natalícia marcada pela pandemia de covid-19, que origina algumas mudanças nas cerimónias religiosas.
O padre Filipe Sousa aproveita a oportunidade de contactar com os leitores da Gazeta para “desejar um Santo Natal a todos e que a luz do menino Jesus espaireça as sombras que o tempo que vivemos trouxe”.
Pároco das paróquias de Salir de Matos e do Coto, o padre Filipe Sousa organiza uma Missa do Galo um ano numa freguesia e no ano seguinte na outra. “Em muitas paróquias o horário tradicional é a meia-noite, mas aqui já tínhamos alterado há alguns anos”, explicando a mudança com o facto de quando a cerimónia se realizava à meia-noite havia menos crentes a ir à missa.

No dia de Natal, na igreja das Caldas, está prevista a realização de mais missas, mas com menos pessoas, evitando aglomerações

Este ano a Missa do Galo será na Igreja do Coto, às 23h00. “Há cerca de dez anos que se realiza neste horário, normalmente a começar entre as 22h00 e as 23h00”, explicou Filipe Sousa, explicando que não existem muitos fiéis que tenham como hábito ir a esta missa nestas duas paróquias.
Os tempos de pandemia obrigaram, ainda assim, a algumas adaptações. “Não temos a disponibilidade de espaço no interior da igreja que tínhamos noutros anos”, esclareceu o pároco, referindo a limitação a um terço da ocupação.
O rito tradicional de beijar a imagem do menino Jesus está este ano suspenso, mas também “não era obrigatório e muita gente já fazia uma reverência ou uma inclinação, sendo que este ano é isso mesmo que vamos pedir que façam”, afirma o padre.
Um cenário semelhante retratou-nos o padre Joaquim Pedro, da paróquia das Caldas da Rainha. “Como já alterámos tudo, o dia de Natal vai ser como um domingo ‘normal’”, contou.

Este ano o “menino Jesus” não será dado a beijar, sendo a tradição adaptada a um gesto simbólico

Nesta paróquia irão celebrar-se mais missas, com menos pessoas presentes. Esta é uma forma de, por um lado, evitar os possíveis contágios de covid-19, e por outro assegurar que todos os crentes possam ir à missa.
No dia de Natal as missas na igreja paroquial das Caldas deverão realizar-se às 9h00, 11h00, 16h00 e 18h00. Sobre a Missa do Galo ainda não decidiram. “Costuma ser às 22h30, mas não sabemos se este ano não será mais cedo”, explicou o padre.
A tradição de beijar a imagem do menino Jesus será adaptada, mantendo “uma atitude de gratidão”, que pode ser expressa com uma reverência ou um cântico.

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Missa do Galo por marcação
Nas paróquias de Óbidos, A-dos-Negros e Gaeiras a missa do Galo será celebrada pelas 23h00 na Igreja das Gaeiras e no Santuário do Senhor da Pedra.
No entanto, tendo em conta a hora e as limitações próprias do distanciamento social, a participação será feita mediante marcação prévia. Ou seja, os fiéis que queiram participar nesta celebração na noite de Natal poderão inscrever-se nos serviços da paróquia de Óbidos.
Este ano o “menino Jesus” não será dado a beijar como é tradição no final da Missa do Galo. No entanto, e de acordo com o pároco de Óbidos, Ricardo Figueiredo, no final da celebração, as “pessoas são convidadas fazer uma inclinação ou um gesto simbólico”.
A pandemia veio condicionar as celebrações natalícias, sobretudo no que respeita ao número de participantes, mas também de alguns rituais que exigem contato, como é o caso do abraço da Paz, o dar esmola e o receber a comunhão na boca.
Alguns especialistas na área da saúde têm vindo a reiterar os benefícios do uso de máscara e outras práticas sanitárias no controle de algumas doenças respiratórias.
O paróco de Óbidos reconhece que, do ponto de vista social, poderão ser benéficas essas boas práticas e que a Igreja depois irá tirar as suas ilações, ainda que saliente que “essas coisas não se fazem por decreto, depende da consciência das pessoas”.

Mais presépios
Apesar da pandemia, o presépio continua a ser elaborado nas várias paróquias.
“Este ano chama-me mais a atenção haver mais presépios do que mesmo Pais Natal”, assume o pároco, acrescentando que, tendo em conta a crise, a parte comercial está menos viva.
Nas paróquias do concelho estão a ser desenvolvidas duas iniciativas em conjunto com o município. Uma delas é a campanha “Estrelas de Natal, oferece um postal”, a ser desenvolvido nas catequeses, pelos cadetes dos Bombeiros e JVG. Este iniciativa propõe que as crianças e jovens façam postais, que depois vão ser distribuídos pela população idosa, através dos lares e dos serviços de apoio domiciliário.
Estão também a ser gravados pequenos vídeos de vários presépios das igrejas, a que irão juntar cânticos e poemas de Natal para posteriormente publicar nas redes sociais.
O padre Ricardo Figueiredo salienta que na vigararia das Caldas da Rainha, Óbidos e Peniche as alterações são muito poucas, não estando previstas a diminuição das celebrações.
Também no resto do país as celebrações religiosas não têm sofrido grandes alterações, porque as decisões têm sido tomadas entre a Conferencia Episcopal Portuguesa e DGS.
“Tem havido menos restrições porque temos tido, desde o início, uma atitude responsável”, explica o padre, dando por contraponto as limitações colocadas às celebrações em países como França ou Bélgica.
“O ambiente que se vive na Igreja é de grande responsabilidade”, salienta, dando nota de que os templos têm estado “bastante compostos” durante as celebrações. “Em alguns casos estamos a atingir o número máximo de lotação, porque as pessoas sentem-se à vontade para participar”, conclui.


“Esta experiência de fé vai ajudar muito ao crescimento espiritual”

A participação nas celebrações religiosas faz parte da vida de Marta Roque. “É uma prática corrente, faz parte da nossa manifestação de fé”, conta à Gazeta das Caldas, acrescentando que todos os domingos vai à missa com os cinco filhos.
Este ano a família não poderá ir à Missa do Galo, mas, ainda assim, não deixará de ir à missa no dia de Natal. Na casa de Marta Roque também o tempo de Advento, que consiste nas quatro semanas de preparação para o Natal, é vivido com bastante intensidade. Também é acesa uma vela por semana, do Advento até ao Natal.
“É uma grande expetativa pela vinda do menino, do nascimento de Jesus”, conta a residente em Óbidos, lembrando que, logo no início do mês de dezembro, montaram o presépio, feito com musgo e decorado com diversas figuras, à porta da casa.
“A primeira coisa que os miúdos fazem quando chegam da escola é ir brincar ao presépio”, realça Marta Roque, acrescentando que também costumam cantar temas de Natal e rezam, enquanto esperam o nascimento do menino. “Estes dias do advento são sempre muito saborosos, bem vividos”.

Marta Roque, que reside em Óbidos, considera que a pandemia veio obrigar os cristãos a um maior recolhimento e a viver a fé com mais interioridade

Mesmo com as circunstâncias difíceis deste atípico ano, com consequências na vida das famílias, esta católica praticante considera que o Natal significa Paz e pede, para todos, “saúde, mas também muita tranquilidade para o que aí vem”.
Apesar dos tempos conturbados e de incerteza que se vivem, Marta Roque salienta que a fé não desaparece, mesmo com as perdas humanas e as dificuldades económicas que se registam, partilhando o seu caso concreto, em que os filhos fizeram a primeira comunhão no início deste mês, próximo do Natal.
Em sua opinião, a pandemia veio obrigar os cristãos a um maior recolhimento e a viver a fé com mais interioridade. “É um salto que os cristãos têm que dar. Tínhamos liberdade para fazer festas e celebrações, mas agora podemos estar com Deus de forma recolhida e essa é a essência da fé”, refere Marta Roque, que acredita que esta experiência irá ajudar muito ao crescimento espiritual.
As restrições impostas para mitigar a pandemia de covid-19 são bem aceites, ainda que esta crente sinta falta de alguns dos rituais que antes integravam as celebrações religiosas e que agora não se podem realizar.
“As restrições são temporárias”, assume, acrescentando que, como “filhos da Igreja”, os católicos sabem que estas medidas são o melhor para todos e, nesse sentido, obedecem.

Marta Roque e os seus cinco filhos na cerimónia da comunhão, em inícios de dezembro | DR
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