Primeira obra inteiramente de fotografia e a 19ª individual do autor.
A Comunidade de Leitores e Cinéfilos das Caldas da Rainha promoveu, no dia 15 de outubro, o lançamento do livro “Isto, agora, são outros 70…”, de Jorge Castro. A obra é uma compilação de cerca de duzentas fotografias legendadas que retratam o Portugal do início dos anos setenta (de 1971 a 1 de maio de 1974) vivenciado pelo autor, com enfoque na área metropolitana de Lisboa (cidade de Lisboa e linha de Cascais), e com incursões pelo Norte, de onde é originário, e pelo Sul.
A sessão de apresentação, que decorreu na Biblioteca Municipal de Caldas da Rainha, contou ainda com a atuação do Quinteto de Sopros de A-dos-Francos, que integra a Banda Filarmónica daquela freguesia, e com uma homenagem a Adriano Correia de Oliveira, célebre cantor de intervenção e um dos primeiros a musicar poemas, como “Trova do Vento que Passa”, de Manuel Alegre, com poesia dita por Jorge Castro e canto por João Paulo Oliveira.
Foi com uma Voigtländer que o autor captou a maioria das fotografias, que seguem a corrente artística da “fotografia social” e que foram tiradas entre os seus 19 e 22 anos, enquanto também estudava Direito. Porém, foi apenas durante a pandemia que começou a “revelar os negativos em positivos”, depois de escutar os “gritos lancinantes” que soltavam das gavetas. É que, à época em que as fotografias foram tiradas, o orçamento disponível para a tarefa mostrou-se insuficiente, mesmo fazendo-a artesanalmente, num “laboratório fotográfico” montado na garagem de um amigo. Agora, é à velocidade de um negativo por cada “duas horas e meia/três horas” que o trabalho é finalizado pelo próprio.
Cada fotografia conta uma história. As que exibem realidades habitacionais contrastantes, dos “bairros ricos” às “barracas”, por exemplo, foram tiradas como material pedagógico para as “Sessões Magníficas” que se realizavam, “naquele espírito subversivo e de agitar as massas”, numa escola para adultos que o autor e os amigos criaram, em Carcavelos, onde viviam. Em três anos, a escola levou mais de quarenta africanos, que “tinham acabado de vir naquela leva para a construção civil no fim dos anos 60 e princípio de anos 70”, até ao “quinto ano liceal” (atual 9º ano).
Na capa surge uma fotografia tirada à ocupação popular de um prédio em construção na Praça do Areeiro, no 1º de Maio de 1974, dia que o autor documentou, a par do 25 de Abril e dos dias pelo meio, formando um espólio de outras duzentas fotografias que serão publicadas em livro brevemente.