José Henriques e Rui Henriques são presidentes das juntas de Alvorninha e dos Vidais e, em época de campanhas frutícolas, desdobram-se entre os trabalhos no campo e no executivo
Têm o mesmo apelido, apesar de não terem relação familiar, são “vizinhos” nos seus pomares e nas freguesias que comandam, mas José Henriques e Rui Henriques, presidentes da Junta de Freguesia de Alvorninha e dos Vidais, têm mais em comum. São também fruticultores e andam, por estes dias, divididos entre a azáfama das colheitas e a condução das suas freguesias.
José Henriques é produtor de pera Rocha e de maçã. Já o era quando foi eleito presidente da Junta de Freguesia de Alvorninha, corria o ano de 2017. Aliás, José Henriques “cresceu” nos pomares, a ajudar a família que se dedicava a esta atividade. Mas foi depois de se formar como Engenheiro Agrónomo que assumiu os destinos do negócio da família, há quase 20 anos.
“A maior parte dos presidentes de Junta do país estão a meio tempo, pelo que têm que conciliar com uma atividade profissional”, começa por frisar. Assim, nota, “a minha dificuldade é semelhante à dos outros que acumulam alguma atividade com a vida autárquica, sendo que, no nosso caso em particular, temos estes picos no mês de agosto e início de setembro, em que temos que estar não a 100, mas a 150%, concentrados nas explorações, porque, por exemplo no meu caso, sou a pessoa que está responsável por todas as operações”.
Também Rui Henriques chegou à fruticultura por “herança”. O pai, tal como o avô, já cultivavam a terra. Rui e o irmão, Pedro, seguem os seus passos. Rui Henriques vê aqui semelhanças com o caminho trilhado na Junta. “Tal como o meu pai e o meu avô se esforçaram e dedicaram em tempos muito difíceis para conseguirem ter as suas terras, os anteriores presidentes lutaram para dar melhores condições aos fregueses, como a colocação de rede de saneamento e de água, estradas, pontes, em alturas muito difíceis para as autarquias, que tinham muito poucos meios”, refere Rui Henriques, que quer honrar ambos os legados.
Nesta época das campanhas, a atividade frutícola envolve um total de cerca de meia centena de pessoas nos pomares de José Henriques. “Exige um planeamento e uma organização grande”, nota. “As pessoas têm que ser orientadas, têm que saber que o vão fazer e para onde vão, não pode haver falhas sob pena de desmotivar as pessoas e o rendimento delas ser baixo. O negócio da fruta, hoje em dia, é de cêntimos e a operação da colheita é das mais importantes e mais caras do ciclo todo”, aponta.
O dia-a-dia do presidente da Junta de Alvorninha começa, por estes dias, cedo. Às oito horas já foi buscar o pessoal e tudo está preparado para se iniciar o trabalho. Depois tem que acompanhar os grupos na colheita, perceber o local para onde ir a seguir, garantir que não faltam os palotes para a fruta e a água para as pessoas beberem durante o dia. “É estar perto da operação, porque a minha exploração já tem alguma dimensão”, explica José Henriques, que coordena toda a ação. “Esta é uma fase muito crítica e que implica muita disponibilidade emocional, porque o nosso comportamento reflete-se nos colaboradores”. José Henriques refere que é “bastante exigente com o planeamento, mas também sou bastante exigente com o bem-estar dos trabalhadores. Quem vem ajudar tem que ser bem tratado”. E tanto assim é que as pessoas regressam ano após ano.
“Temos um grupo de estudantes da ESAD que vem há quase dez anos”, conta José Henriques. Entre as condições que oferece aos trabalhadores, está a possibilidade de tirarem café de manhã e à hora de almoço. As refeições podem ser feitas no armazém, à sombra, numa zona com casa de banho e todas as condições. No seu caso trata-se de uma exploração muito “familiar”, onde trabalham vizinhos e amigos.
Rui Henriques, perante a falta de mão-de-obra, sentiu necessidade de recorrer a imigrantes. “Temos cerca de seis indianos a trabalhar permanentemente na colheita, são excelentes trabalhadores e a nossa fruta é certificada pelo GRASP, o que garante que eles vêm devidamente legalizados”, explica. Sem esta solução “era muito complicado, porque a colheita da maçã gala e da pera é quase ao mesmo tempo, então há aqui entre duas a quatro semanas que é trabalhar quase dia e de noite”, nota.
Como não se consegue dividir, nesta época José Henriques faz-se por vezes representar por elementos da Junta de Freguesia nas diversas iniciativas. “Sou um felizardo”, atira, destacando a competência da sua equipa. “Estão sempre para ajudar e também é justo que não sirvam apenas para resolver problemas e possam representar a Junta nas partes mais agradáveis da experiência”, afirma.
A produção, este ano, podia ser melhor. “A maçã vem com boa qualidade e bom calibre, à partida será um bom ano”, começa por dizer Rui Henriques. O mesmo não acontece, porém, na pera Rocha. “O nosso “ouro do Oeste” exige muito mais cuidados, tentamos ao máximo fazer os tratamentos proativas para defender a planta, mas, infelizmente, muita fruta vem estragada por causa de doenças como a estenfiliose e o fogo bacteriano”, lamenta Rui Henriques. O produtor realça que, das cerca de 80 peças por árvore que seria uma produção ideal, “estamos a apanhar 15, 20, 30 no máximo” e teme pelo futuro do fruto. “Estamos a tirar do lucro que temos nas maçãs para tratar das pereiras, mas vai chegar uma altura em que isto se vai tornar insustentável”, alerta.
Ao fim do dia, a fruta é levada para a central fruteira, onde, antes de entrar no frio, precisa de repousar, pelo que a colheita pode acabar por volta das 19h00, mas o trabalho dos produtores ainda se estende mais um pouco.
Ser produtor de fruta e presidente de junta são atividades diferentes, mas Rui Henriques consegue encontrar semelhanças, que se resumem numa palavra: cuidar. “No pomar temos que cuidar o melhor que podemos para, quando chegar a colheita, termos o melhor fruto possível. Na Junta temos que cuidar das pessoas, em proximidade, perceber os seus problemas e tentar contribuir para a sua resolução. Se olharmos para as pessoas e as vermos felizes, então é porque estamos a fazer um bom trabalho”, conclui. ■
José Henriques (à esquerda) e Rui Henriques (à direita) são presidentes de Junta, respetivamente de Alvorninha e Vidais, e são também produtores de fruta