Festival de literatura e viagens regressa em 2024, com novidades ao nível da curadoria e a inclusão da poesia
“Óbidos é um sonho que Portugal sonhou”. As palavras são do escritor José Luís Peixoto, um dos convidados desta edição do Latitudes, que vê a vila como um “lugar marcante”, com passado mas também presente. Num texto que escreveu para o seu podcast na Antena 1, “Tanto Mundo”, e que partilhou na conferência “De Óbidos até lá longe”, o escritor e viajante fala de uma viagem a Óbidos, onde na Rua Direita se cruza com gente que fala várias línguas, da ginja em copos de chocolate, ou das espadas de madeira para as crianças brincarem. “As razões que levam todas estas pessoas a fazerem este caminho são inúmeras e, de certeza, que quando chegam encontram coisas que não imaginavam”, partilhou.
Frequentador assíduo das livrarias e também do Fólio, José Luís Peixoto, considera que a ligação de Óbidos à rede das Cidades Criativas é de uma “grande perspicácia, porque nem sempre se valoriza a cultura do ponto de vista do seu potencial e das possibilidades que abre, inclusive económicas e da valorização das regiões”, concretiza à Gazeta das Caldas.
“Óbidos já tem uma mística e um carisma que casam de forma perfeita com a literatura e os livros”, referiu, adiantando que quando se juntam as viagens essa ligação ainda é mais feliz. O escritor estabelece mesmo um paralelismo entre as viagens e a escrita: “escrever um livro para ser publicado é sempre um exercício de imaginar o outro. Viajar também”, contou o autor para quem, também, cada livro é uma viagem. Para além das conferências, o festival dedicado à literatura e viagens contou com lançamentos de livros, exposições, oficinas e experiências literárias para os mais novos, workshops, jantares temáticos literários, música e conversas sem tempo aos finais de dia.
Ópera e Viagens pelo Concelho
A ópera voltou a Óbidos. O auditório da Casa da Música encheu para as duas atuações de “Vénus e Adónis”, de J. Blow, que juntou em palco solistas, o Coro Alma Nova, Coro Infantil do município e a Orquestra Sinfonieta. A apresentação resulta de uma proposta lançada pelo Coro Alma Nova ao município, e elaborada para grupos do concelho, tendo como principal objetivo o enriquecimento cultural e social de todos os participantes. Resultado de seis meses de trabalho, o projeto incluiu numa primeira fase trabalho vocal com os coros e, posteriormente, ensaios musicais e de cena, com solistas, coro e orquestra, em residência artística. Tendo em conta a forte recetividade do espetáculo, a organização admite a sua repetição noutro evento, possivelmente durante o Folio.
Novidade nesta quinta edição foi também a “Viagem pela minha Terra”, que permitiu a descoberta do concelho, dando a conhecer a sua cultura e identidade. Com um percurso pelas freguesias, estruturado em parceria com as respetivas juntas, cada viagem partiu da vila e contou com pequenas paragens em diversos lugares, permitindo conhecer as tradições e costumes locais, degustar produtos locais ou ouvir testemunhos dos populares.
A vereadora da Cultura, Margarida Reis, considera que o festival “tem vindo a crescer de ano para ano” e o objetivo é que este “se transforme num dos eventos temáticos mais relevantes do país”. A passagem de nomes de relevo da literatura, e que o reconhecem como uma “marca” para o país, atesta-o, acrescenta.
Para o próxima edição, a organização quer fortalecer as viagens nas suas diversas formas, continuar a apostar no envolvimento com a comunidade local e com novos desafios para a juventude. Também haverá novidades ao nível da curadoria do evento e na área da poesia, concretiza Margarida Reis.
Também o edil, Filipe Daniel, destaca a importância destes eventos para quebrar a sazonalidade. “Estamos com uma procura extraordinária. A nível da região Centro estamos com 1,4 milhões de dormidas por ano e Óbidos representa 256 mil destas,”, concluiu. ■