As invenções de Da Vinci são o ponto de partida para uma conferência que tem lugar esta noite no grande auditório do CCC, a partir das 21h00, com o professor universitário João Caraça, na qual serão abordados os desafios da sociedade para este século.
Este ano assinalam-se os 500 anos da morte de Leonardo da Vinci, uma das grandes figuras do Renascimento que viveu nos séculos XV e XVI. Conhecido pelas suas grandes obras, como “Mona Lisa” e “Última Ceia”, o contributo de Leonardo da Vinci para a Humanidade vai muito além da pintura. Ele era, acima de tudo, um génio alimentado pela curiosidade que produziu conhecimento em anatomia, na ciência, na matemática e até na culinária.
A principal faceta pela qual Leonardo da Vinci é conhecido do grande público é a pintura. Artista minucioso, que não tinha pressa de acabar as suas obras e dedicava grande atenção aos pormenores, estudando-os intensamente, Leonardo da Vinci deixou algumas das obras mais conhecidas da pintura. Entre as mais famosas contam-se “Mona Lisa”, a “Última Ceia”, ou “Homem Vitruviano”, que são presença procurada nas mais importantes galerias do mundo por multidões. Além destas, obras como “A Anunciação”, “Retrato de Ginevra de’ Benci”, “A Virgem das Rochas”, ou “Dama com Arminho” fazem parte de um rico espólio que o artista deixou à Humanidade.
Mas este foi apenas um dos campos em que o génio italiano, que viveu entre 15 de Abril de 1452 e 2 de Maio de 1519, se distinguiu. De resto, Da Vinci não gostava de ser conhecido como pintor, gostava de pensar em si como um engenheiro ou arquitecto.
No entanto, não foi a via académica que levou Leonardo da Vinci à procura da sabedoria. Os seus pais não eram casados e isso negou-lhe o acesso à escola, mas a sua curiosidade era bastante aguçada e não foi isso que o impediu de a saciar.
Uma das coisas que fascinavam o jovem nascido em Vinci, cidade perto de Florença, eram os cursos de água que desaguavam nos rios e esse foi um dos primeiros objectos do seu estudo. Este seu fascínio é visível em várias das suas obras mais famosas, em que os cursos de água estão presentes num paralelismo com a corrente sanguínea e como elemento de ligação entre o ser humano e a Terra, diz Walter Isaacson na sua biografia sobre o génio renascentista.
O primeiro trabalho de Leonardo da Vinci foi no teatro, como produtor. E nessa profissão teve oportunidade de dar asas à sua mente. As artes do palco permitiram-lhe desenvolver, por exemplo, a técnica da perspectiva, trabalhando a percepção da profundidade do público não só em relação ao palco, mas também ao nível das suas pinturas.
No teatro, onde foi também considerado um género de especialista de efeitos especiais, desenvolveu alguns engenhos mecânicos, como máquinas voadoras com o intuito de simular descidas de anjos que desafiavam os limites da realidade e da fantasia. Dos efeitos especiais à realidade, este génio renascentista do séc. XV e XVI tentou depois criar máquinas voadoras, e não só, reais. Autênticas maravilhas de engenharia para a altura.
O ENGENHEIRO
Leonardo da Vinci foi um pioneiro nos estudos sobre alguma da maquinaria sem a qual não imaginamos o mundo de hoje.
A busca do conhecimento nas dinâmicas da água e do ar que tinha desde criança resultaram nalguns protótipos de aparelhos. Um dos sonhos de Da Vinci era conseguir voar. São três as principais criações nesta área. Em 1485 desenhou o ornitóptero. Tinha a forma de um pássaro e o seu funcionamento era idêntico. Aliás, Da Vinci estudou de forma intensa a interação do ar com as asas dos pássaros, o que terá resultado neste projecto. Uns anos mais tarde fez um esboço de um helicóptero, cuja hélice seria composta por uma vela em forma de parafuso, que seria operada por quatro homens.
Mas voar era um sonho e Da Vinci sabia que haviam riscos a ter em conta, por isso também projectou um pára-quedas, de forma piramidal. O princípio foi testado já neste milénio… e resultou.
Ainda relacionado com o ar, Leonardo da Vinci foi um dos percursores do anemómetro, aparelho que mede a velocidade do vento, instrumento que aperfeiçoou a partir dos desenhos de Leon Batista.
A pesquisa no campo da engenharia dá crédito a Da Vinci pelo aperfeiçoamento dos rolamentos. Apesar desta tecnologia – que hoje é imprescindível – já existir anteriormente, foi Da Vinci que, entre 1498 e 1500, concebeu uma forma de diminuir a fricção entre as esferas, com um design que pouco mudou até aos dias de hoje.
E se actualmente a corrida das marcas pelo lançamento dos primeiros automóveis autónomos está ao rubro, foi Da Vinci o primeiro a pensar em veículos não tripulados, com um carro movido por molas e engrenagens, sem condutor, que foi replicado recentemente por cientistas do museu de Florença.
Leonardo da Vinci também fez pesquisa na ciência bélica. Inventou um canhão rotativo de 33 canos, que funcionava em três partes distintas e, operado por dois militares, podia ser disparado de forma contínua. Também projectou um tanque blindado. Era dotado de canhões em todo o redor e tinha cobertura convexa para deflectir ataques inimigos.
No meio aquático, fez esboços para criar um fato de mergulhador e um submarino, com a finalidade de atacar embarcações inimigas.
O ANATOMISTA NUTRICIONISTA
O seu interesse pela ciência manifestou-se igualmente na busca de conhecimento sobre a anatomia do corpo humano. Acredita-se que as suas representações do coração, do sistema vascular, dos músculos, tendões e até dos órgãos genitais sejam das primeiras ilustrações registadas neste campo.
Mas a pesquisa de da Vinci foi mais além. Estudar o rosto humano, cada músculo, cada nervo que influencia o movimento dos lábios, foi fundamental para a criação de uma das suas obras mais notáveis, “Mona Lisa”, quadro que começou a esboçar em 1503, 16 anos antes de falecer sem o concluir. Ao estudar intensamente os olhos humanos, Da Vinci descobriu que o centro da retina é o que nos permite discernir os detalhes, e que a região exterior é responsável pela percepção das sombras e formas. Essa pesquisa foi determinante para concretizar alguns dos detalhes dessa pintura.
Além de estudar o corpo humano na sua morfologia, o génio renascentista era um amante da cultura do estilo de vida saudável, tendo produzido bastantes considerações sobre hábitos alimentares e também sobre culinária. Não comer sem apetite, jantar levemente, mastigar e cozinhar bem os alimentos, são alguns dos conselhos que se podem ler nas suas escrituras.
O interesse pela cozinha acompanhou a sua obra durante mais de 30 anos. Há quem defenda que era vegetariano. Escreveu algumas receitas, tendo até editado aquele que é considerado o primeiro livro de culinária impresso. Era também cativado por aparelhos de cozinha e inspirou algumas das máquinas que ainda usamos hoje, como um dispositivo automatizado para assar carne num espeto.
Além de estudioso do corpo humano, Leonardo da Vinci foi percursor dos direitos dos animais, questionando muitas vezes se os seres humanos eram realmente seus superiores.
João Caraça dá conferência esta noite no CCC
O professor catedrático João Caraça vai proferir esta noite, 22 de Março pelas 21h00, no CCC uma conferência sob o tema: «500 Anos após o desaparecimento de Leonardo da Vinci: transformações e rupturas societais». A iniciativa surge integrada nas comemorações dos 500 anos do desaparecimento daquele que foi um dos maiores génios da Humanidade.
Nesta conferência serão abordados os grandes temas atuais do Homem que se podem sintetizar na afirmação “Das invenções de Leonardo à Inteligência Artificial na resposta aos desafios do século XXI”, que este professor universitário, actual presidente do Conselho Geral da Universidade de Coimbra, tem investigado nas últimas décadas.
Inicialmente prevista para o pequeno auditório, a conferência vai ter lugar no principal palco do CCC. A expectativa é que os cerca de 150 lugares da sala mais pequena não sejam suficientes para o interesse que a iniciativa está a suscitar junto das escolas do concelho. Algumas delas já reservaram lugares, segundo o que adiantou à Gazeta o director do CCC, Carlos Mota.
A conferência desta noite é uma iniciativa da Gazeta das Caldas, do CCC e do Conselho da Cidade e surge na sequência de outras duas realizadas em 2017 e 2018 pelos Dragões do Oeste e pela Gazeta, sob os temas O Universo na ponta de uma agulha” e “Ondas gravitacionais: a nova luz”. Ambas decorreram com lotação esgotada. J.R.