Linha do Oeste modernizada em 2026 mas sem comboio elétrico até às Caldas

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Os oradores falaram sobre mobilidade e habitação em mais uma conferência organizada pela distrital do PSD
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As obras de modernização estarão concluídas no próximo ano mas sem a circulação de comboios elétricos até às Caldas. Para mais tarde está também a ligação direta da região à capital pela linha do Oeste, permitindo competitividade à ferrovia. O país tem recursos escassos e há que ter prioridades nos investimentos, assumiu o ministro das Infraesturas e Habitação

“O Governo olha para a Linha do Oeste como uma oportunidade”. As palavras são do ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, que reconheceu, nas Caldas, que será a ligação desta linha férrea à linha de cintura de Lisboa que tornará o Oeste mais competitivo. No entanto, essas obras não serão para já.

Convidado pela distrital do PSD, e perante uma sala cheia, o governante reconheceu, a 5 de fevereiro, que essa ligação “tem de ser uma opção”, mas que o país tem recursos escassos. “Antes de o fazer temos de ver outros investimentos”, disse, acrescentando que o Governo já aposta na alta velocidade a passar por Leiria, criando uma nova centralidade na região. “Quando a alta velocidade abrir nós temos de encontrar os meios, e ainda bem que os autarcas estão todos alinhados, para finalizar esse sonho, essa visão para a Linha do Oeste”, disse, garantindo que a região “não está esquecida”.

A linha do Oeste deverá reabrir até março e as obras estarão concluídas para o ano
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Miguel Pinto Luz respondia assim ao presidente da distrital do PSD, e deputado, Hugo Oliveira, ao presidente da concelhia caldense, Daniel Rebelo, e ao antigo presidente de Câmara, Fernando Costa, que defenderam uma ligação direta da Linha do Oeste a Lisboa (sem ser através da Linha de Sintra), com poupança de tempo e ganhos em termos ambientais.

“A Linha do Oeste só terá futuro quando a viagem for concorrencial à do autocarro, ou perto disso, porque o comboio também oferece outras condições de trabalho e de estar, outra atratividade do transporte”, disse Fernando Costa, lembrando que a eletrificação apenas reduz o tempo de viagem das Caldas para Lisboa em 15 a 20 minutos, não resolve o problema da competitividade. Defendeu, por isso, a criação de um desvio da Malveira a Loures e com ligação a Lisboa, como já foi proposta pela OesteCIM e “que está a ser defendida em assembleias municipais, inclusivamente a de Lisboa, porque a solução reduz o tempo de viagem em 40 minutos”.

Atrasos na modernização
“Acreditamos que até março a linha [do Oeste] reabra, mas o fim das obras será só em 2026”, disse o ministro das Infraestruturas, reconhecendo os atrasos na intervenção. Miguel Pinto Luz destacou a auditoria sugerida pela Autoridade de Mobilidade e Transportes ao plano Ferrovia 2020, com a qual disse concordar, e que “vai ser feita de forma independente”. A obra, que inicialmente foi dada como concluída no primeiro trimestre de 2020, e que depois foi sendo adiada sucessivamente, com novas datas, por parte da Infraestruturas de Portugal e anteriores governantes. “Eu ainda não fui testado. Mas irei ser testado. A seu tempo o Governo terá uma posição sobre isso”, disse.

O ministro Miguel Pinto Luz destacou a aposta na alta velocidade

Na sua intervenção, e em resposta aos sucessivos atrasos, o antigo presidente da Câmara das Caldas, Fernando Costa, deixou um aviso a Miguel Pinto Luz: “o senhor ministro não se deixe enganar, amarfanhar, ridicularizar pela Infra-Estruturas de Portugal, como anteriores ministros têm sido, porque o que se tem passado com os prazos da linha do Oeste é escandaloso”.

E, embora o ministro avance que a eletrificação da linha do Oeste está concluída em 2026, não respondeu à questão, da Gazeta das Caldas, para quando a circulação de comboios eléctricos até às Caldas da Rainha. Em causa está a capacidade de alimentação dos veículos, que deverá ser feita pela Subestação de Tração Elétrica (SST) de Runa, que ainda não começou a ser construída. A IP já explicou que a deslocalização desta subestação de tração elétrica implicou a suspensão dos trabalhos da empreitada e que, “após a conclusão dos trabalhos de modernização e eletrificação, as instalações de tração elétrica sejam alimentadas, provisoriamente, pela SST da Amadora para evitar furtos”. A empresa explica ainda que a SST da Amadora apenas permitirá a “exploração elétrica do troço compreendido entre as estações de Mira Sintra-Meleças e Malveira”.

Gratuitidade dos transportes
Miguel Pinto Luz mostrou-se também preocupado com os passes gratuitos para utilização dos transportes rodoviários, cujos projetos estão a ser implementados pelas comunidades intermunicipais, como é o caso do Passe M, uma iniciativa da OesteCIM e dos 12 municípios do Oeste. “Preocupa-me a forma como as CIM estão a olhar para o problema. Estão a desenvolver o tendencialmente gratuito à custa das suas próprias receitas, mas também à custa das receitas do sistema”, e isso tem de ser pensado de forma criteriosa sob pena de poder criar desequilíbrios daqui a uns tempos”, considera o governante. O seu ministério está agora a “monitorizar essas apostas, na liberdade de cada uma das CIM, mas com muito cuidado, porque é o Estado Central, com o dinheiro dos contribuintes, que está a financiar o grosso de toda esta revolução na mobilidade que está a acontecer no país”, realçou.

O governante disse ainda que já teve uma reunião com a CIM onde lhe foi sinalizada a intenção de incluir a ferrovia nesta solução de mobilidade. “Não tenho a versão final da solução e a instrução que a CP tem é de integrar-se, sempre que possível e, não pondo em causa o equilíbrio financeiro da empresa, ser um fator facilitador”, explicou.

Questionado sobre a importância de haver uma linha férrea junto ao novo hospital a construir no Oeste, Miguel Pinto Luz, respondeu apenas que, “do ponto de vista abstrato, claro que sim”. No entanto, o governante não quis alongar-se nas explicações, destacando que o deputado caldense, Hugo Oliveira, tem sido “intransigente na defesa de toda esta região, nomeadamente das Caldas. Estou a acompanhar o assunto de forma transversal, e irei acompanhá-lo de perto”, deixou a garantia.

Antes, na abertura da sessão moderada pelo caldense Jorge Varela, o deputado e líder da distrital do PSD Leiria, Hugo Oliveira, defendeu que, “estrategicamente, o concelho das Caldas da Rainha tem de ter uma visão de futuro” relativamente à Linha do Oeste e é necessária uma “liderança forte nesta região”.

A Lei dos Solos
Oeste e Vale do Tejo é a quarta região com mais população do país, a seguir à área metropolitana do Porto e Lisboa e à região Centro. Atualmente muita da população que reside no concelho trabalha na capital e usa os transportes para se deslocar, pelo que, quando se fala em mobilidade e habitação é “obrigatório” falar em território, explicou a arquiteta Sónia Lopes. Atualmente a trabalhar como técnica superior na CCDR Lisboa e Vale do Tejo, a caldense salientou ainda que a linha do Oeste terá muita influência ao nível do que serão as estratégias a definir pelos municípios.

Na sessão, fortemente dominada pelas questões relacionadas com a Linha do Oeste, houve tempo ainda para esclarecer que a Lei dos Solos traduz-se numa alteração do Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT) , que permite reclassificar terrenos rústicos em urbanos, “Temos de por o mercado privado também a funcionar, já que o público está a potenciar cerca de 70 mil novos fogos”, defendeu Miguel Pinto Luz, fazendo notar que isso passa pelo Simplex e pela Lei dos Solos.

O governante lembrou que já anteriormente o PS tinha alterado o RJIGT para permitir a simplificação de utilização dos solos rústicos mas unicamente para os solos rústicos dos municípios. O atual Governo abriu aos privados porque “verificou-se desde a primeira hora que a maior parte dos municípios não são proprietários de terrenos, nomeadamente de terrenos suficientes, rústicos ou não rústicos”. O ministro explicou ainda que é possível desenvolverem-se projetos ligados à habitação em solos que “fazem para da Reserva Ecológica Nacional [REN] mas que não têm valor ecológico intrínseco”, garantindo que “não está permitido em nenhuma área protegida ou onde os valores naturais estejam em causa”.

 

Investimento estratégico na habitação

O antigo Lar das Enfermeiras irá dar lugar a habitação jovem

De acordo com o ministro Miguel Pinto Luz, o atual governo “fez o maior investimento de sempre na habitação”, num total de 4,2 mil milhões de euros para a concretização de 59 mil fogos até 2030. Ao informar-se das candidaturas feitas pelo município caldense, o ministro constatou, com “estranheza”, que este, “apenas tem uma candidatura, fora das 26 mil iniciais [a nível nacional inseridas em PRR], para a aquisição de cinco fogos”. Para além disso, “tem 13 alojamentos na Bolsa Nacional de Alojamento Urgente e Temporário. Manifestamente não me parece que, para um município com 50 mil habitantes, essas sejam as necessidades”, disse o governante, dando como exemplos Fundão e de Setúbal que candidataram, respetivamente, 70 e 100 milhões para habitação.

Também a arquiteta Sónia Lopes reconheceu que um dos “maiores” desafios para as Caldas será a sua estratégia municipal de habitação, explicando que é necessário pensar soluções nas áreas da habitação social, acessível e reabilitação urbana enquadradas nos instrumentos existentes.

Durante o atual mandato, o executivo caldense comprou oito habitações, que tem vindo a reabilitar e às quais já alocou algumas famílias. Trata-se de um investimento de 830 mil euros. Além da candidatura ao PRR, para cinco fogos, a Câmara está em negociações com o IHRU para a aquisição de seis casas no Bairro dos Arneiros e tem já a aprovação para a construção de 11 fogos no Bairro Social. Ainda de acordo com o presidente da Câmara, Vítor Marques, estão a estudar a possibilidade de construir 27 fogos para habitação a custos controlados. À espera do aval da DGPC está o antigo Lar das Enfermeiras e edifício contíguo, que permitirá a construção de 20 apartamentos para habitação jovem. Há ainda projetos para habitação e loteamento jovem nas freguesias. Estes projetos, que ascendem a 2,6 milhões, são custeados pela autarquia e apoios, parte deles a fundo perdido.

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