A pandemia fez disparar os pedidos de apoio por parte de famílias em dificuldades. As instituições sociais desdobram-se em campanhas e redes de apoio, mas também destacam a generosidade da sociedade civil que, especialmente nesta quadra, contribui com alimentos e bens essenciais
Desde setembro que os Guias de S. Lourenço (inseridos na Comunidade Interparoquial do concelho de Óbidos) apoiam mais 40 famílias, que se juntaram às 90 já apoiadas anteriormente, perfazendo um total de 340 pessoas a serem ajudadas com bens essenciais. Mas, se os pedidos de ajuda aumentam a solidariedade aumenta na mesma progressão.
Todos os anos o grupo escreve uma carta às Juntas de Freguesia a pedir a doação de bacalhau para os cabazes de Natal. No entanto, este ano, optou por não o fazer e lançou uma campanha à população, onde pedia duas postas de bacalhau ou um frango. A resposta não se fez esperar e, agradavelmente surpreso com o resultado, Raul Penha diz que nunca tiveram tanto bacalhau para oferecer e que, inclusivamente irão guardar algumas postas para entregar em janeiro.
“Há uma família que se mobilizou e já juntou outras nove famílias; cada uma delas irá apoiar uma família carenciada”
Raul Penha
“As pessoas têm sido de uma generosidade espetacular”, conta o diácono, acrescentando que também a “missa da partilha”, tem originado bastante ofertas. Inicialmente era colocado um cesto aquando da missa do primeiro domingo do mês, onde os fiéis colocavam bens alimentares, mas com o aumento dos pedidos de ajuda, o cesto passou a estar permanentemente colocado em todas as missas. “Todos os domingos vem uma quantidade de sacos com alimentos das paróquias”, conta Raul Penha, apercebendo-se que, muitas das vezes são pessoas que apesar de não ter muito repartem, pois “sabem dar valor”.
Este ano, e também como consequência dos tempos de pandemia, há várias famílias que optaram por não dar presentes aos filhos e fazer a consoada em família alargada, aproveitando por ajudar quem mais precisa. “há uma família que se mobilizou e, que no seu círculo de amigos, já juntou outras nove famílias e cada uma delas irá apoiar uma família carenciada, dando-lhes tudo o que é essencial para este período, desde os bens alimentares para a consoada e dia de Natal, a brinquedos”, exemplifica o responsável, dando nota que o anonimato dos beneficiados permanece garantido.
Raul Penha destaca ainda que as dificuldades sentidas por estas entidades levou-as também a trabalhar mais em parceria. No caso dos Guias de S. Lourenço têm contado com o apoio da Cáritas Diocesana de Lisboa e Cáritas Portuguesa, que lhes tem disponibilizado centenas de tickets de restaurante para distribuir pelas famílias, em complemento aos outros bens. Também têm reforçado as dádivas de alimentação e outros apoios materiais, inclusive de máscaras e gel. A nível local, o grupo tem estabelecido parcerias com várias entidades, entre elas a Silver Coast Volunteers, que têm feito recolhas sistemáticas, e a Casa do Povo de Óbidos, na vertente do apoio psicológico, orientação e encaminhamento.
“Não é um tempo de entrarmos em desespero, mas de aproveitá-lo para fazer coisas muito bonitas”, diz o diácono, destacando a generosidade da comunidade, inclusivamente para com o próprio grupo que precisou de ajuda para arranjar o telhado do armazém onde guardam os bens doados.
BAO apoia mais 790 pessoas
Ao longo deste ano o Banco Alimentar do Oeste (BAO) registou um aumento de 790 pessoas a necessitar de apoio, na sequência da pandemia, que originou uma degradação dos rendimentos das famílias, seja por lay-off ou mesmo desemprego. Este aumento de pessoas inscritas nas IPSS veio contrariar uma tendência dos últimos anos, em que se vinha a notar um decréscimo de pedidos de apoio, explicou à Gazeta o presidente da direção do BAO, José Siqueira.
Este ano várias famílias optaram por não oferecer presentes de Natal, nem fazer festa de consoada e ajudar quem mais precisa
O BAO presta apoio a 61 instituições e 1466 famílias e tem necessidade de todo o tipo de produtos, com maior incidência no leite na massa e nas leguminosas enlatadas. Este ano já foram canceladas as campanhas de maio e dezembro, mantendo-se as campanhas Ajuda Vale e Online. Entretanto, a Federação dos Bancos Alimentares em conjunto com a Entrajuda lançaram, “em boa hora, a iniciativa da Rede de Emergência Alimentar que angariou donativos para suprir a falta de bens alimentares que seriam angariados nas campanhas canceladas e conseguiu, assim, evitar rotura de stocks nos Bancos Alimentares associados”, explicou o responsável.
Também continua em vigor a Campanha Papel por alimentos em que, por cada tonelada de papel recolhido e entregue nos bancos alimentares, as empresas de reciclagem pagam o valor de mercado destes produtos que é posteriormente transformado em bens alimentares pela federação.
Apoiar a cultura
Continuam a decorrer, semanalmente, nas Caldas da Rainha e Peniche, as recolhas de alimentos que se destinam a apoiar os profissionais do ramo audiovisual que ficaram sem trabalho no início da crise social causada pela covid-19. As entregas de bens alimentares podem ser feitas na Associação A062, no edifício da Ceres, nos Silos, nas Caldas e no snack bar Ambassador, em Peniche, sendo depois a ajuda canalizada para quem trabalha nas áreas relacionadas com os audiovisuais e tem profissões como técnicos de espetáculos, de catering, produtores, encenadores, maquilhadores, entre tantos outros. Entretanto, também a Banda de Alcobaça se associou à União Audiovisual, recolhendo bens alimentares e promovendo atividades como forma de apoio aos profissionais do setor, até ao final de janeiro. Entre as atividades, tiveram lugar os concertos da programação Cistermúsica “Outros Mundos”, no Mosteiro de Alcobaça, mas também outros espetáculos e ações de formação que serão realizadas pela Academia de Música de Música durante a campanha.
As dificuldades sentidas levaram as instituições de solidariedade a trabalhar em parceria, por forma a chegar ao maior número de pessoas possível
Os interessados em contribuir com um donativo, pode fazê-lo de segunda a sexta-feira, entre as 9h30 e as 18h00 no ponto de recolha situado na Rua Frei António Brandão, nº 38/44, R/C, Loja Direita. Os bens doados devem ser não perecíveis, como é o caso de massas, arroz, azeite, óleo, enlatados, temperos, fruta, pão de forma, papel higiénico e produtos de higiene.
Também as autarquias nesta altura distribuem cabazes pela população. Na próxima semana também os serviços sociais da Câmara das Caldas irão distribuir os cabazes de Natal pelas famílias carenciadas do concelho, assim como brinquedos para as crianças. Não se realizará o tradicional espetáculo e lanche devido à pandemia. Serão também entregues bens alimentares às instituições de solidariedade .
A solidariedade pode também chegar sob a forma de medicamentos. Até 22 de dezembro decorre a campanha “Dê troco a quem precisa” para recolher fundos para a emergência Abem. Na região são várias as farmácias aderentes.