
Empresas da região marcaram presença na Maison & Objet, uma das mais importantes feiras internacionais do sector casa e decoração. Gazeta das Caldas fez uma ronda por algumas das que participaram naquele certame, como a Bordallo Pinheiro, a Braz Gil Studio, o Laboratório d’Estórias, a Molde, a Perpétua Pereira & Almeida (ex-Cerâmicas São Bernardo) e a Vicara. Nas Cutelarias também esteve em Paris a Ivo de Santa Catarina.
Todas realçam a importância deste tipo de eventos, que permitem estabelecer novos contactos e firmar novas encomendas com clientes estrangeiros.
Paris, cidade luz onde se encontram as tendências da moda, tanto do vestuário como da casa, consegue bianualmente concentrar as atenções do público e especialmente do mercado dos produtores e dos compradores internacionais.
A indústria portuguesa, especialmente nos sectores tradicionais, tem estado muito atenta a este certame e às tendências ali apresentadas. Nos últimos anos tem concentrado naquela cidade a oferta de um número elevado de empresas, de forma directa com pavilhões, ou indirecta, nos pavilhões dos operadores internacionais com quem transacionam.
Os portugueses estão mais habituados a ver as propostas nacionais em relação à moda, estando mais distantes das propostas para a casa, que são um mercado importante para as empresas destes sectores industriais da região Oeste.
Por ano, realizam-se dois certames do Salão Maison & Objet (Casa & Objecto): a primeira no Inverno (mês de Janeiro) e a segunda no Outono (Setembro), tendo a de Janeiro deste ano reunido cerca de 1000 expositores, 3000 marcas e recebido quase 100 mil visitantes, mais de metade vindos do resto do mundo.
O número de expositores tem vindo a crescer, fazendo desta mostra uma das maiores a nível mundial, juntando produtores de todos os continentes, com os japoneses, russos, norte-americanos, chineses e coreanos em forte crescimento. Portugal registou este ano um aumento de quase 40% dos seus expositores.
Esta mostra apresenta-se como um certame multicultural da arte de viver contemporânea, sob o tema “a vida em rosa”, lançando as primeiras tendências da alta qualidade, inovação e da excelência no que diz respeito à decoração, produtos de lar, moda, decoração. Uma das suas atracções foram os trabalhos apresentados pelo designer do ano, o francês Pierre Charpin, com as suas cores especiais e formas geométricas.
Segundo estimativas feitas pela organização em 2016, as duas “Maison & Objet” geraram negócios na ordem dos 370 milhões de euros, para além de resultados para a economia francesa de 49 milhões de euros nos transportes, 20 milhões na restauração e 15 milhões no comércio local.
Esta mostra não é apenas uma vitrine para os vendedores internacionais, pois constitui uma tribuna de afirmação das novas tendências, tanto nas decorações, como nos materiais, nos novos atributos para os produtos, bem como nas combinações inovadoras entre diferentes materiais.
Neste evento afirmam-se os designers, os homens e mulheres do marketing e da publicidade, bem como os tecnólogos que apresentam resultados inacreditáveis, que ultrapassam em muito as técnicas tradicionais. Contudo, para além da importância que é dada à pequena produção e aos produtos feitos à mão, o certame reúne os produtores mais tradicionais e ancestrais, utilizando técnicas remotas que hoje atraem mais os consumidores.
Uma constatação interessante são as empresas de grande dimensão e com histórias seculares, que combinam técnicas ultramodernas com outras remotas, como o raku ou as cozeduras em fornos tradicionais.
A representação directa de empresas portuguesas aumentou consideravelmente, mas igualmente se viam muitos produtos produzidos em Portugal a serem vendidos através de marcas internacionais, das mais consagradas.
O mercado internacional dos produtos para a casa e para a decoração obriga a estes malabarismos, podendo-se ver facilmente inconfundíveis produtos nacionais em stands norte-americanos ou europeus, bem como ofertas conjugando materiais diversos, como cerâmica, vidro, cutelaria, tecidos e madeira.
Na Maison & Objet há um sector central muito forte e apoiado pelas autoridades franceses: o artesanato. Há respeito pelas pequenas produções de autor, mas mais no sentido do artesanato urbano dos ofícios de arte e com produtos de alto valor acrescentado. O artesanato está bem representado num largo espaço do pavilhão central, envergonhando-nos um pouco, uma vez que mostram como pode ser promovida esta produção criativa. Já em Portugal, na maior feira internacional deste sector (FIA – Feira Internacional do Artesanato), a produção portuguesa mistura-se com os artigos que vêm da produção em massa da Ásia e África e que não estão englobados nesta oferta de maior valor acrescentado.
Há países como a Itália e o Japão, para além da França, que aproveitam estes certames para fazerem a promoção mundial da oferta mais inovadora neste sectores, dando uma forte imagem de criatividade e de aposta na conquista das correntes mundial do comércio de excelência e de luxo.
O que dizem as empresas da região que lá estiveram…

Presente na Maison & Objet com um stand próprio esteve a empresa caldense Bordallo Pinheiro. Segundo Nuno Barra – administrador e responsável pelo Marketing da Visabeira, grupo que detém a Bordallo Pinheiro – a presença da marca não poderia ter corrido melhor. “Tivemos um acréscimo de 60% de novos contactos em relação ao ano anterior”, disse à Gazeta das Caldas, acrescentando que os clientes presentes quiseram também saber mais sobre a marca, as peças e o que é necessário para as encomendar.
Este notou uma maior presença de decoradores de interiores e de responsáveis de lojas de decoração. Presentes estiveram muitos franceses, italianos e coreanos, ligados ao sector, que quiseram saber mais sobre esta centenária marca portuguesa. “No geral tivemos um crescimento nas vendas na ordem dos 30% em relação à edição anterior”, disse Nuno Barra, referindo que tendo a Bordallo um produto diferenciado.
O responsável acha fundamental que a marca esteja presente nestes certames “dado que é a forma de se dar a conhecer, bem como às novidades, a nível internacional” e salientou a presença de várias marcas portuguesas que foram pela primeira vez ao certame, em áreas como o mobiliário.
A Bordallo deu a conhecer a colecção “Peixes e Mariscos” – 22 peças decorativas de lagostas, caranguejos e percebes – que resultaram da recuperação de moldes de Rafael Bordalo Pinheiro. Foram também apresentadas as linhas de mesa Tomate e a linha Prado que inclui queijeiras, pratos de sobremesa e tabuleiros, além dos candeeiros de tecto Tomate, Abóbora e Couve.
Em Fevereiro, a Bordallo Pinheiro também esteve na Ambient, em Frankfurt, outra feira que é uma referência no sector da decoração.
PEÇAS CALDENSES SÃO TENDÊNCIA

Pela terceira vez, o Laboratório d’ Estórias marcou presença na Maison&Objet. Esta empresa caldense levou até Paris todas as peças da sua colecção de cerâmica (a Medusa e o Manjerico, o Corvo Malandro, A Varina e o chá das 5 e o Monte das Oliveiras são alguns exemplos). “Participámos pois procuramos a internacionalização da marca. Embora o custo seja elevado, as feiras ainda são um dos meios mais acessíveis e eficazes para nos darmos a conhecer no exterior”, disseram Rute Rosa e Sérgio Vieira, responsáveis pela empresa.
Em 2016, 20% das vendas do Laboratório d’ Estórias foram feitas a clientes estrangeiros e a expectativa é que no final deste ano esta percentagem aumente. Brasil, Canadá, Singapura, Estados Unidos, Espanha, França, Bélgica, Alemanha, Áustria, Holanda e, mais recentemente, Coreia e Japão, são alguns dos países onde as estórias desta marca caldense já chegaram.

“Estamos a conseguir atrair clientes que valorizam a produção manufacturada”, realçou Rute Rosa, acrescentando que nesta última edição a marca teve o seu stand melhor posicionado que nas anteriores, “junto a outras empresas que já têm no seu currículo 20 anos de participação na Maison&Objet”.
Para o Laboratório d’Estórias, o evento é também a oportunidade de reunir com clientes internacionais, uma vez que o projecto não tem estrutura financeira para visitá-los nos seus países. Já com inscrição feita para Setembro, Rute Rosa salientou que aquilo que foi mais valorizado pelos visitantes é o “pack total e as várias vertentes artísticas” que se reúnem no conjunto peça e estória desta marca.
Na Maison&Objet as peças “A Árvore e o seu zingamocho” e “O Pião das nicas” foram selecionadas pela fotógrafa Anne-Emmanuelle Thion como dois exemplos de tendência.
O Laboratório d’Estórias surgiu em 2013. É um espaço experimental de design que se inspira nas estórias da cultura popular portuguesa para reinventar objectos tradicionais e cujas peças nascem a partir de técnicas ancestrais da cerâmica das Caldas.

Outra empresa caldense que participa desde 2010 na Maison&Objet é a Ivo Cutelarias, de Santa Catarina, que este ano voltou a Paris para expor as últimas novidades, num vistoso stand que partilhou com fábrica de porcelanas PORCEL, de Oliveira do Bairro.
DESIGNERS DA ESAD EM PARIS
De Leiria esteve presente a Vicara, que tem na sua equipa vários designers formados pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas. Criada em 2011, esta empresa foi pela quarta vez até Paris para mostrar as suas três colecções – Terra, Originais e Multitude – e o novo catálogo. “Levámos sobretudo artigos de decoração, iluminação e interiores”, disse Paulo Sellmayer, director criativo da marca, realçando que a participação na Maison&Objet “é importante numa lógica de expansão de mercado”. Após quatro dias em Paris, o responsável fez um balanço positivo do evento, frisando que “serviu para afirmar a marca no mercado internacional, estabelecer novos contactos e clientes, tendo a aceitação dos nossos produtos sido boa”. Em Fevereiro, a Vicara também se fez representar na Feira Ambient, em Frankfurt. Actualmente 30% da facturação desta empresa corresponde a exportações, pelo que “é indispensável irmos a feiras internacionais que nos dêem visibilidade no exterior”, acrescentou Paulo Sellmayer.
A ex-aluna da ESAD, Eneida Tavares, é uma das designers da Vicara e autora das peças “Caruma” da colecção Terra, que foi recentemente mencionada na revista Monocle como uma jovem designer revelação. As suas obras também estiveram na Maison&Objet.

CERÂMICA DO OESTE EM LOJAS DE LUXO

A empresa Perpétua, Pereira e Almeida, que assume a marca S. Bernardo, não esteve presente em nome próprio, mas enviou dois elementos da sua equipa para “conhecer as novas tendências” e assistir ao lançamento de uma colecção que esta desenvolveu para a marca L’Objet.
Segundo Elsa Almeida, uma das sócias responsáveis, esta colecção de 30 peças foi concebida e desenhada pela equipa criativa de L’Objet, e “produzidas pela nossa empresa em exclusivo para aquela marca”. A responsável contou ainda que este cliente internacional optou por incluir nesta coleção peças criadas por esta fábrica de Alcobaça.
Segundo Elsa Almeida, “a coleção fez bastante sucesso e já originou um acréscimo à encomenda em produção”. A S. Bernardo fez para a l’Objet peças em faiança, topo de gama, e com formas algo invulgares já que aquela marca internacional dirige-se ao mercado de luxo, vendendo em lojas da 5ª Avenida e de Manhattan, em Nova York.
Esta empresa, tal como outras do concelho de Alcobaça que se dedicam à cerâmica utilitária e decorativa, marcaram também forte presença na Ambient de Frankfurt.
Das Caldas, a Braz Gil Studio também contribuiu com peças para a L’Objet. Há uma relação de 12 anos com aquela marca internacional produzindo peças em porcelana. “Há sempre muito ouro nas decorações das peças”, contou Joaquim Braz Gil afirmando que a L’Objet tem clientes no Dubai, Turquia, países de Leste, EUA e Canadá que apreciam obras com decorações caras.
O empresário considera que há uma melhoria no sector, sobretudo no que diz respeito às fábricas de faiança, que voltam “a estar bem e com encomendas”. Este acrescentou que já não se constata a “loucura” de há alguns anos de se comprar tudo na China. “Os compradores têm regressado e voltaram a aparecer em Portugal”, disse.
Na sua opinião, a cerâmica poderia fazer como tem sido feito no sector do calçado, onde as empresas se uniram e bem representadas nos certame internacionais.
Joaquim Beato, responsável pela Molde gostou de ter visitado a Maison & Objet tendo dito que a edição deste ano foi “bastante boa” no que diz respeito à marcação das tendências. Encontrou em exposição neste certame “produtos interessantes de grande qualidade” e constatou também menos marcas do Oriente. Chamou-lhe à atenção o facto de voltar a ser valorizado o produto cerâmico, “na sua vertente mais natural, orgânica”.
O empresário, responsável há 29 anos pela Molde, salientou também a presença da empresa caldense na Ambient em Frankfurt, onde se reuniu com praticamente todos os seus clientes internacionais – oriundos do Norte da Europa e dos EUA, tendo feito mais contactos e abrindo perspectivas de mais negócio. Houve ainda uma forte presença de clientes da Coreia do Sul.
Na opinião de Joaquim Beato aquilo que é necessário fazer para que a Cerâmica cresça em Portugal é cumprir-se a “encomenda tal como pedido, na data certa e com a qualidade expectável”. Para as grande marcas “hoje não há fronteiras” e para vencer “temos que trabalhar em parceria com os nossos clientes”, rematou.































