Mário Gonçalves aponta alternativas à proposta de reorganização hospitalar

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O antigo administrador lamenta que a reorganização hospitalar não esteja a ser discutida com população e profissionais de saúde

Durante 25 anos, entre 1974 e 1999, Mário Gonçalves esteve à frente do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha. Desde então, e sempre que se preparam novas alterações hospitalares, é muitas vezes uma das primeiras vozes que se fazem ouvir.
Agora que a tutela se prepara para reorganizar os hospitais da região, o antigo responsável não se coíbe de apontar caminhos alternativos às soluções que estão a ser discutidas. A manutenção das urgências médico-cirúrgicas e do internamento em medicina nas Caldas da Rainha e a organização do futuro Centro Hospitalar do Oeste em departamentos são alguns dos caminhos apontados.
Já em 1996, aquando da planificação da segunda ampliação do Hospital Distrital das Caldas da Rainha (que nunca chegou a concretizar-se), foi criado um programa funcional que apontava para uma lotação de 228 camas. “Nesse programa funcional estavam contidas inovações no aspecto gestionário dos hospitais”, diz Mário Gonçalves à Gazeta das Caldas. Uma das inovações passava pela criação de um Departamento de Medicina e das Especialidades Médicas, um Departamento de Cirurgia e das Especialidades Cirúrgicas e um departamento da Mulher e da Criança. “Esses três departamentos que “englobam toda a actividade hospitalar que diz respeito às 22 especialidades médicas” com que o Centro Hospitalar Oeste Norte conta, substituiriam o actual sistema de gestão por serviços. Uma solução que Mário Gonçalves acredita ser perfeitamente adaptável à nova realidade da região. “Se esta metodologia de criação de departamentos, com os respectivos centros de especialidade, é aplicável a um só hospital, parece que não há prejuízo de maior se ele puder ser aplicado a dois hospitais distintos, ainda que distantes”, defende o cirurgião. As Novas Tecnologias facilitariam, na sua opinião, a articulação entre os hospitais das Caldas e de Torres Vedras. Existiria ainda um “órgão máximo de gestão hospitalar, de preferência situado nas Caldas da Rainha”, assessorado pelos departamentos com os respectivos centros de responsabilidade, defende.


Internamento nas Caldas é fundamental

Para Mário Gonçalves a proposta da ARSLVT cai no erro de colocar em Torres Vedras os serviços de internamento de medicina e de cirurgia, “deixando ao Hospital das Caldas o internamento nas especialidades médicas, mas não nas cirúrgicas”. O antigo administrador hospitalar considera que é inquestionável a permanência da urgência médico-cirúrgica nas Caldas, enquanto a Torres Vedras cabe na proposta a urgência básica. Mas “o manancial importante dos internamentos, por exemplo, na área de medicina interna, acontece através do serviço de urgência. E admitir um doente aqui para depois o transferir necessariamente para Torres Vedras não faz sentido”.
Por isso, Mário Gonçalves considera que o mais acertado seria “a urgência médico-cirúrgica só aqui. O internamento nas duas unidades, em harmonia com as disponibilidades da lotação” de cada uma. “Porque um hospital de agudos sem internamentos nas áreas de cirurgia e de medicina não me parece que seja racional do ponto de vista da gestão e do ponto de vista do interesse justo e legítimo dos próprios doentes”, defende.
Tudo o que é preciso é haver uma “gestão racional dos departamentos, do departamento de cirurgia, essa gestão implica não apenas a racionalização dos doentes, mas também do próprio pessoal”.
Questionado sobre o papel que caberia ao Hospital de Peniche, Mário Gonçalves considera que a existência de cuidados continuados que acolham os doentes da região “tem toda a conveniência e faz falta”. É sabido que muitos dos internamentos prolongados acontecem por falta de alternativas.
Já quanto a Alcobaça, o cirurgião acha que a posição tomada pela autarquia (que pediu para que os alcobacenses pudessem ser encaminhados para Leiria, com excepção das freguesias mais a sul do concelho, que continuarão a recorrer às Caldas) é “uma posição sensata”. Mário Gonçalves considera que “tem que haver alguma liberdade a conceder aos doentes em harmonia com as suas preferências”, que assentam sobretudo em questões de proximidade e qualidade dos serviços.
O Hospital Termal também não é esquecido pelo antigo administrador hospitalar, em relação ao qual diz que a ARSLVT está a ter uma “acção arrogante e ofensiva”. Salientando a tradição de assistência das Caldas da Rainha, Mário Gonçalves diz que “impõe-se-nos que exijamos que sejam justas as resoluções a tomar”.
Por fim, o antigo responsável pelos hospitais caldenses lamenta que a discussão da reorganização não esteja a ser a mais adequada. “A partir do momento em que a proposta da ARSLVT foi elaborada, devia ter sido largamente divulgada e não apenas no domínio político, mas também no domínio técnico. Os próprios profissionais das instituições hospitalares deviam ter conhecimento directo e discutir internamente a bondade e as deficiências que encontravam nas propostas elaboradas”, defende.

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Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt

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