Mata Rainha D. Leonor foi palco do primeiro acampamento nacional do país

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Em maio de 1948, Caldas acolheu o primeiro acampamento nacional que reuniu cerca de 900 campistas na mata. Estiveram representados 39 núcleos campistas e ainda um representante francês

Há iniciativas que ficam na história, mas que nem sempre são devidamente registadas. O leitor sabia que Caldas da Rainha acolheu, durante três dias, de maio de 1948, o I Acampamento Nacional de Campismo, organizado pela Federação de Campismo e que reuniu cerca de 900 participantes que trouxeram 450 tendas que foram colocadas no espaço verde da Mata Rainha D. Leonor?
Conta a edição de 10 de maio de 1948 da Gazeta das Caldas que estiveram representados naquela iniciativa 39 núcleos campistas de várias zonas do país num acampamento “que estava exemplarmente montado com serviços de saúde, secretaria, turismo, imprensa, som, etc”.
Segundo o artigo, a população citadina caldense, “com alvoraçada curiosidade soube corresponder à escolha da Federação de Campismo”, destacando o escriba, sobretudo, a colaboração do comércio local que até ornamentou as montras das suas lojas com “motivos de inspiração campista”.
Além da Gazeta das Caldas, esteve nas Caldas a cobrir o evento um jornalista do Diário Popular.
Os responsáveis pela iniciativa, da Federação Campista, foram recebidos por Asdrúbal Calisto, da Comissão Municipal de Turismo. Também participaram Fernando Almeida, o responsável pela montagem daquele acampamento e também Ramiro Sousa, o representante dos campistas caldenses.
No primeiro dia deste primeiro acampamento nacional esteve presente o presidente da Federação Portuguesa de Campismo e no seguinte, Ayala Botto, que era então o inspetor dos Desportos.

“Chovia que Deus a dava”
Mais recentemente, o jornal i quis dar destaque a esta iniciativa. Na edição de 3 de maio de 2022, o diário conta que logo no primeiro dia deste acampamento que se realizou há 74 anos, “chovia de que Deus a dava nas Caldas da Rainha”.
O artigo refere que, ainda assim, “a água que caía do céu aos borbotões não arrefecia o espírito aventureiro daqueles que gostavam de se misturar com a natureza”.
Aquele jornal afirma que os campistas que se reuniram na Mata das Caldas eram oriundos das mais variadas zona do país. “Vinham em festa, quase em romaria”, afirma o texto sobre o I Acampamento Nacional, que serviu também de fecho ao II Congresso da Federação Portuguesa de Campismo.
“Foi um êxito. Gente e gente e mais gente”, contou o jornal i. Especifica-se, ainda, que os campistas que se reuniram nas Caldas eram oriundos de Trás-os-Montes ao Algarve, de Santiago-de-Riba-Ul a Chão-de-Meninos, “numa espécie de comunhão de gostos e de interesses que nunca se tinha visto no mundo das tendas de campanha”, refere o diário.
O artigo que recorda esta iniciativa fez ainda questão de referir que neste acampamento nacional, “o Estado tinha montado serviços de telégrafo e telefone especiais para que todos pudessem ligar para a casa a contar como as coisas iam correndo ao longo desses três dias”. Afirma-se na notícia que as mais de 400 tendas “formavam uma aldeia” no espaço da Mata das Caldas, tornando aquela área um verdadeiro anfiteatro natural.

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França também presente
O movimento em volta deste I Acampamento Nacional foi difundido de tal forma “que a organização dos campistas franceses resolveu enviar um representante à cidade das Caldas: monsieur Hurteau Georges, um senhor educadíssimo, por sinal, e que se gabava, do alto dos seus cinquenta e poucos anos, de já ter acampado em todos os países da Europa”, referiu o artigo do i.
Na longa lista deste representante gaulês faltava um pequeno pormenor: acampar em Portugal e em Espanha. Daí que tenha aproveitado esta oportunidade nas Caldas da Rainha para pernoitar na Península Ibérica e fazer mais um “check” na lista de viagens.
“Georges era um poliglota. E quando subiu ao palanque devidamente preparado para a sessão de festas, dirigiu-se à plateia num Português um bocado macarrónico, mas ainda assim Português, facto que arrancou aplausos sinceros da multidão que se juntara para ouvir o seu discurso do campista experimentado”, refere a mesma notícia.
“Ao meio-dia em ponto, com a chuva a tornar-se apenas numa morrinha irritante, foi a vez de falar o poder”, recorda o jornal i. “Falou o presidente da Comissão de Turismo, o dr. Asdrúbal Calisto, logo seguido pelo sr. Jaime Neto em representação do presidente do município”, pode ler-se na peça jornalística.
Procedeu-se, em seguida, à inauguração oficial do acampamento. Coisa de arromba. “Gente aos magotes seguiu a fileira oficial pelo meio das barracas que se erguiam por todo o parque” e apesar da chuva, a cerimónia de inauguração ainda contou com o içar de bandeiras.
“A portuguesa, da República, como não podia deixar de ser, e a da Federação de Campismo de Portugal”, informa esta notícia que recorda o primeiro acampamento nacional.
O jornal i ainda referiu que Carlos Freire, presidente da federação Campista Portuguesa, “era um homem feliz e orgulhoso”. Sobre o campista francês, o diário nacional afirma que Hurteau Georges “era procurado por toda a gente, numa ânsia de histórias caricatas em países mais exóticos”.
Pela tarde do primeiro dia da inauguração do acampamento, a 3 de maio, decorreram os trabalhos do II Congresso da Federação Portuguesa de Campismo e, segundo o I, “foi dada a palavra a 45 dos delegados presentes”. ■

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